Daniel E. de Castro

Jornalista especializado na cobertura de esportes olímpicos. Foi repórter e editor de Esporte da Folha e cobriu os Jogos de Tóquio

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Daniel E. de Castro

Rayssa Leal: 16 anos, 2 medalhas olímpicas e muito skate pela frente

Último ciclo olímpico foi marcado pela evolução da brasileira e também de suas concorrentes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Naquele intervalo de alguns minutos em que o Brasil brigava por quatro medalhas e acabou com três (foi por pouco, Ana Sátila), no começo da tarde deste domingo (28), o tema desta coluna mudava freneticamente na minha cabeça.

Por fim, o bronze conquistado por Rayssa Leal na última manobra se impôs. Estamos falando de uma skatista que, aos 16 anos, ganhou sua segunda medalha olímpica —mais jovem atleta do país a fazer isso.

Depois da prata em Tóquio, aos 13, muita coisa mudou na vida de Rayssa. A adolescente ainda está em crescimento, literalmente, e o nível dela no skate também só aumenta.

Mas a competitividade do esporte se elevou mundialmente. Nos últimos anos, várias japonesas e a australiana Chloe Covell, 14, se dividiram com a brasileira no pódio das principais competições de skate street.

A concorrência interna no Japão é tão forte que, das três representantes que o país teve nos Jogos que sediou, só uma, Funa Nakayama, 19 anos e bronze em Tóquio, repetiu presença em Paris. A então campeã olímpica Momiji Nishiya, 16, não conseguiu a vaga.

Neste domingo, as outras medalhas ficaram justamente com as estreantes Coco Yoshizawa (ouro), de 14 anos, e Liz Akama (prata), 15.

Multidão filma e observa Rayssa com a medalha
Rayssa Leal comemora medalha de bronze com o público em Paris - Pilar Olivares/Reuters

O pódio em Paris foi ligeiramente mais velho que o de Tóquio, mas a média de idade das finalistas caiu de 19,3 para 15,9 anos.

Com essa renovação, ficam algumas curiosidades para o próximo ciclo olímpico: se outras meninas de 13 e 14 anos vão despontar, se as chinesas chegarão de vez e se "veteranas" de duas Olimpíadas, como Rayssa, terão dificuldade de permanecer na elite.

É fascinante acompanhar a carreira da maranhense desde tão cedo. Ela ficou conhecida aos 7, com o célebre vídeo vestida de fada. Competição após competição, foi possível observar o desenvolvimento técnico e também o amadurecimento pessoal da atleta.

No ano passado, em entrevista ao podcast dos Jogos Olímpicos, Rayssa disse que fazer terapia foi a melhor decisão que tomou. "Tudo começou muito cedo para mim. Eu não sabia como lidar com o pessoal que queria tirar foto comigo, falar que se inspirava. Eu só tinha sete anos e não entendia nada. Depois da Olimpíada [de Tóquio] mudou mais ainda."

Rayssa teve as emoções colocadas à prova neste domingo. Após competir sem a presença de público no Japão, lidou com os ônus e bônus do barulho feito pela torcida brasileira na capital francesa. A expectativa era enorme, porém, com os erros cometidos por ela nas voltas, pareceu mais de uma vez que a medalha escaparia. Mas que nada. Ela não negou o nervosismo: chorou, buscou força nos familiares e se recuperou para garantir o bronze.

E agora, o que uma atleta de 16 anos com duas medalhas olímpicas, título mundial, uma enormidade de fãs e uma porção de patrocinadores ainda pode querer conquistar? Além de concluir o ensino médio, a medalha de ouro em Los Angeles-2028 parece ser o objetivo mais óbvio. Só que antes que a pressão de um novo ciclo comece, Rayssa precisa curtir e ser celebrada como mais uma pioneira do esporte brasileiro.

Garantia nos tatames

Uma certeza das campanhas olímpicas brasileiras, desde Los Angeles-1984, é a de que o judô não volta para casa sem medalhas. Em Paris, elas vieram cedo e em sequência, com a prata de Willian Lima e o bronze de Larissa Pimenta. Nenhum deles era apontado como favorito, porém ambos tinham resultados que permitiam crer numa boa surpresa. A combinação de trabalho duro, confiança e dia iluminado muda carreiras.

O Brasil ainda tem mais chances no judô, principalmente com Rafaela Silva (nesta segunda), Mayra Aguiar (quinta) e Beatriz Souza (sexta). As portas abertas por Willian e Larissa nesta edição podem tirar um pouco da pressão sobre elas.

A dor de quem chegou perto

Ana Sátila, quarto lugar na canoagem slalom, definiu o melhor resultado olímpico da carreira como o dia mais difícil dela. Guilherme Costa, quinto colocado nos 400 m nado livre com o recorde pan-americano, desabou e disse que nunca mais queria sentir aquela sensação. Nos Jogos Olímpicos, poucas coisas podem ser mais dolorosas do que ficar tão perto da glória e não saber se haverá uma nova chance de alcançá-la. Mas ambos terão novas oportunidades ainda em Paris.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.