David Wiswell

Escritor, roteirista e comediante americano

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

David Wiswell
Descrição de chapéu Governo Biden

Batalha de idosos entre Biden e Trump troca otimismo por exaustão

Eleição é como comer lula à dorê: o melhor presidente é aquele que é servido fresquinho

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A política tem tudo a ver com números. No caso da tentativa de reeleição de Joe Biden, o número mais importante, por enquanto, é sua idade. Ele anunciou oficialmente sua candidatura à Presidência, mas as pesquisas indicam que, apesar dos pontos fortes de sua campanha, sua trajetória talvez não seja fácil.

Os principais desafios de Biden são a economia e os baixos índices de aprovação. Mas sua idade é o que mais preocupa os eleitores –44% dos democratas dizem que ele é velho demais para se candidatar. Porque, como uma lula à dorê, eles acham que o melhor presidente é aquele que é servido fresquinho.

Joe Biden, à esquerda, e Donald Trump, à época das eleições de 2020 - Angela Weiss e Mandel Ngan -4.nov.20/AFP

Se for eleito, Biden terá 86 anos quando deixar o cargo. Muitos se preocupam com sua idade, já que ele quer ser presidente, não um uísque fino. Mas, algo que às vezes esquecemos sobre Donald Trump –porque ele se borrifa com bronzeado laranja e não tem controle do intestino desde os anos 1980 (devido à sua alimentação)— é que, se for eleito, ele terá 82 anos quando deixar o cargo. Os dois ficariam empatados como o mais velho presidente em exercício.

Biden está a frente de Trump por 43% a 38% em pesquisas recentes da Reuters, mas uma pesquisa YouGov indica que 38% dos americanos sentem "exaustão" com a perspectiva de outro embate eleitoral entre os dois. Apenas 16% se dizem mobilizados, e 23% afirmam ter esperança. Exemplificando as qualidades de liderança desses homens: eles inspiram mais exaustão que esperança. É como disse Winston Churchill: "Grandes líderes governam com uma exaustão de ferro".

Não quero sugerir que faltem realizações ao mandato de Biden. Apesar de o Fed ter elevado as taxas de juros, provocando uma inflação que esmagou os eleitores, a economia sob Biden continua a se recuperar desde a recessão da pandemia, chegando ao patamar de desemprego mais baixo em 50 anos (3,4%), enquanto os salários subiram. Biden também teve algumas vitórias legislativas consideráveis, como sua lei infraestrutural de US$ 1,75 trilhão, aprovada pelo voto de ambos os partidos, a lei CHIPS e Ciência e a Lei de Redução da Inflação. Se bem que essas coisas tenham passado despercebidas, já que sua taxa de aprovação está em apenas 39%.

Seu histórico tem outros problemas, como o fato de ele ter iniciado mais perfurações para petróleo que o próprio Trump. Ter números ambientais piores que os de um republicano é uma realização por si só. É como marcar um gol entre as pernas de Neymar ou ganhar uma eleição presidencial aos 82 anos de idade.

Apesar da baixa aprovação, Biden parece neste ponto ter a melhor chance de derrotar Trump, que quase certamente será o candidato republicano. O que me preocupa profundamente é que o Comitê Nacional Democrata decidiu não promover debates nas primárias, negando ao público uma oportunidade de decidir por conta própria. Não posso deixar de notar a ironia no fato de o CND talvez temer a democracia.

Isso tampouco demonstra muita fé na capacidade de oratória de Biden, o que, por não ser geralmente seu ponto forte, reforça as preocupações com sua idade. Parece ainda ecoar o modo como o CND em 2016 apostou em Hillary Clinton apesar de sua baixa taxa de aprovação, empurrando-a a enfrentar Trump, pensando que ele não tinha a menor chance de ganhar. Obviamente, a história agora mostrou que, quando se trata de Trump, a lógica não tem nada a ver com seus resultados. Nem com suas ações.

O vídeo de lançamento da campanha de Biden o promoveu principalmente por não ser Trump, algo que concordo que é seu maior ponto forte. Mas é justamente esse o problema da política moderna. Estou farto de ver candidatos que se promovem alardeando o que não são, em vez de nos oferecer algo em que possamos acreditar. Nem Trump nem Biden têm mobilizado sua base com otimismo, mas sim com a exaustão. Em uma batalha eleitoral entre idosos, talvez isso seja apenas eles dois liderando pelo exemplo.

Por que não há candidatos inspiradores que nos unem? Ser presidente é uma merda. Você nunca vai conseguir agradar às pessoas. Pelo menos uma prostituta tem alta taxa de aprovação —e pelo que ouço dizer as pessoas as acham bem excitantes— fazendo um trabalho bem menos degradante. Conseguir os números necessários com sua idade estampada na cabeça das pessoas será uma batalha e tanto para Biden, mas para sua sorte ele vai concorrer com um vendido repulsivo, não com uma prostituta amada.

Tradução de Clara Allain

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.