Charles M. Blow

Colunista do New York Times desde 2008 e comentarista da rede MSNBC, é autor de “Fire Shut Up in My Bones"

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Idade de Biden não será problema se ele lutar por causas progressistas

Críticos apontam que presidente dos EUA se esforça pouco por iniciativas que os jovens consideram importantes

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The New York Times

Joe Biden é oficialmente candidato à reeleição, e sua candidatura vai colocar numa saia justa alguns eleitores democratas —aqueles que se preocupam não apenas com a idade do presidente, mas com sua paixão por políticas públicas.

Esses eleitores reconhecem o perigo dos principais candidatos republicanos, mas não se renderam totalmente aos atrativos de Biden, que terá 82 anos no início de um possível segundo mandato.

O presidente dos EUA, Joe Biden, acena para crianças em evento na Casa Branca, em Washington
O presidente dos EUA, Joe Biden, acena para crianças em evento na Casa Branca, em Washington - Kevin Lamarque - 27.abr.23/Reuters

A questão da idade é uma preocupação importante para Biden, segundo assessores políticos com quem tenho conversado recentemente e também segundo o que circula online e nas redes de TV a cabo. E a impressão de que ele não ganhou a adesão incondicional das pessoas é especialmente problemática para o atual presidente quando se trata dos eleitores jovens.

Segundo pesquisa do Instituto de Política da Harvard Kennedy School feita com pessoas de 18 a 29 anos e divulgada na segunda, apenas 26% dos americanos jovens aprovam a atuação de Biden na Presidência. Esse número vem caindo constantemente desde que ele assumiu o cargo.

Embora os eleitores jovens tenham representado apenas 17% do eleitorado em 2020, é provável que serão imprescindíveis para outra vitória de Biden, já que ele recebeu 60% dos votos dos eleitores de 18 a 29 anos na última eleição. E os eleitores jovens podem ser um barômetro indicativo de quanto o entusiasmo de um candidato influi sobre sua atratividade.

Procurei vários organizadores políticos e defensores dos direitos ao voto para discutir a candidatura de Biden, e a impressão geral fica em algum lugar entre otimismo cauteloso e entusiasmo contido, não tanto devido à idade de Biden mas à visão que os eleitores, incluindo os jovens, têm de suas prioridades políticas. Como me disse Clifford Albright, cofundador e diretor executivo do Fundo Black Lives Matter, os eleitores jovens de um modo geral gostariam de ter candidatos mais jovens, "mas a questão da idade pode ser superada se o candidato está falando das questões certas".

Albright mencionou as candidaturas presidenciais do senador Bernie Sanders, um ano mais velho que Biden. Como pré-candidato democrata, Sanders foi apoiado por eleitores jovens, porque defendia fortemente questões que têm importância para eles. Os jovens sentiam que Sanders lutava por eles.

É nessas questões que alguns ativistas parecem pensar que Biden deixou margem para a decepção dos eleitores. Estes não ignoram os obstáculos estruturais no modo de operação do Congresso que dificultaram ou mesmo impossibilitaram avanços legislativos, mas simplesmente não acharam que Biden lutou o suficiente por algumas das iniciativas que os democratas jovens consideram mais importantes.

Uma coisa que eles não conseguiram engolir, sem dúvida porque trabalham com direitos ao voto, foi a percepção de que Biden não se esforçou o suficiente para defender a Lei John Lewis de Direitos ao Voto.

Nsé Ufot, fundadora do super-PAC (Comitê de Ação Política) Novo Sul, criticou Biden por falar do projeto de lei sobre direitos de voto no Centro Universitário de Atlanta –que abriga quatro faculdades e universidades historicamente negras, em um estado cujos dois senadores já estavam engajados em votar a favor da lei— antes de um esforço para aprovar a lei, ciente de que não havia votos suficientes para aprová-la. Segundo ela, Biden "deveria ter ido à Virgínia Ocidental, deveria ter ido a Phoenix, Arizona, porque estavam ali as pessoas que precisavam ouvir sua mensagem".

Ela disse que tinha sido quase como um treinador indo à linha lateral para consolar um time por uma derrota, apesar de ainda haver tempo de jogo e de a partida ainda estar sendo disputada. Simplesmente não passou a impressão de um esforço total para aprovar a lei.

Mas tanto Ufot quanto Albright pensam que os números favoráveis aos democratas nas sondagens, especialmente no outono de 2022, subiram não apenas porque a Suprema Corte derrubou Roe v. Wade mas também porque Biden finalmente tomou uma medida concreta para perdoar as dívidas estudantis, por causa da aprovação da Lei de Redução da Inflação, incluindo as medidas climáticas mais importantes na história americana, e da aprovação de uma legislação federal sobre armas de fogo, de âmbito relativamente restrito, mas ainda assim significativa.

Meio ano mais tarde, essas vitórias democratas podem parecer notícias velhas, mas foram questões da pauta política profundamente importantes para os eleitores democratas, incluindo os jovens.

Então, se Biden teve vitórias em algumas das questões que são importantes para os eleitores jovens, por que os ativistas ainda estão preocupados?

A dificuldade de Biden com os eleitores mais jovens não é tanto sua idade, mas sua postura, dizem. Ele foi eleito em parte para ser antídoto ao caos dos anos de Donald Trump na Presidência. Mas, na visão atual de Albright, "parte dessa estabilidade que ele oferece, aquela tranquilidade ou sei lá o quê que ele oferece a algumas pessoas, na realidade faz parte do problema, ao nosso ver."

"Vivendo em um momento como o que estamos vivendo", ele prosseguiu, "é preciso reconhecer que agora não é hora do normal, do tradicional, daquilo que a nostalgia pede ou sei lá o quê –que precisamos de algo diferente."

Ufot expressou a mesma ideia mais diretamente, dizendo: "As pessoas estão tentando passar uma imagem de experiência, tradição e gravidade, sendo que o país está pegando fogo", concretamente.

De certo modo, a idade de Biden acaba sendo aventada como símbolo de outras insatisfações que os eleitores podem sentir com ele. Trump é apenas quatro anos mais jovem que ele, mas convenceu seus seguidores que seu veneno é sinal de sua virilidade.

Biden precisa mostrar que está lutando mais por políticas mais progressivas. Mesmo que perca as batalhas, ele precisa ostentar as cicatrizes. Posicionar-se como a última linha de defesa contra o retorno de Trump ou a ascensão de outro republicano igualmente perigoso não é o bastante.

Ele precisa mostrar que é mais buldogue do que baluarte.

Como disse Tram Nguyen, codiretor executivo da Nova Maioria da Virgínia, no próximo ano e meio antes da eleição, "acho –ou pelo menos espero— que vamos ver essa atitude de luta mais em evidência, porque creio que no final das contas os eleitores querem votar em alguém que eles creem que vá lutar pelo que é preciso."

Tradução de Clara Allain

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