Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Deborah Bizarria
Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Uniformes olímpicos e o efeito das roupas: o que a ciência diz

Discussão sobre 'gosto' e simbolismo cultural é relevante na ciência e no cotidiano

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Mesmo antes do começo das Olimpíadas as redes sociais já mostravam a decepção com o uniforme brasileiro para a cerimônia de abertura. A vestimenta foi idealizada pela Riachuelo. Em resposta à polêmica, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) minimizou as críticas, afirmando que "gosto não se discute". Essa declaração ignora o poder simbólico das vestimentas e o impacto na percepção social.

Mas, o que a ciência nos diz sobre o efeito das roupas em quem as usa?

Riachuelo veste time Brasil na Cerimônia de Abertura de Paris 2024 - Alexandre Loureiro/COB

A roupa, além da função prática, atua como um símbolo cultural poderoso, influenciando como pensamos, sentimos e agimos. Esse é o cerne da cognição indumentária, um conceito destacado pelos estudos de Hajo Adam e Adam Galinsky, que sugerem que a roupa pode afetar tanto a percepção externa quanto os pensamentos internos.

Em um experimento, participantes vestindo um jaleco de laboratório, descrito como "jaleco de médico", tiveram melhor desempenho em uma tarefa de atenção sustentada do que quando o mesmo jaleco era descrito como "jaleco de pintor".

Isso sugere que roupas com conotações simbólicas específicas podem influenciar o desempenho cognitivo. Por exemplo, um estudante vestindo roupas associadas à inteligência e profissionalismo pode se sentir mais focado durante uma prova ou apresentação.

No entanto, a replicabilidade dos estudos de cognição indumentária tem sido um ponto de debate. Um estudo de Devin Burns e colaboradores não encontrou evidências para a influência da roupa na atenção seletiva, levantando dúvidas sobre a robustez desses efeitos e a necessidade de uma análise crítica da literatura.

Para explorar essa questão, Horton e outros autores conduziram uma análise de 105 efeitos de 40 estudos sobre cognição indumentária. Eles identificaram viés de publicação na literatura inicial, mas notaram que estudos mais recentes, com maior rigor metodológico, fornecem evidências para a influência da roupa em processos psicológicos diversos.

Isso mostra que, apesar das dificuldades iniciais, a pesquisa recente tem avançado para uma compreensão mais precisa dos efeitos da cognição indumentária.

Os efeitos da roupa na cognição são frequentemente sutis e contextuais, variando conforme o significado cultural da vestimenta, as características do usuário e o contexto social.

Fatores como familiaridade com a roupa, identificação com o grupo social associado a ela e a crença na influência da roupa podem modular esses efeitos. Por exemplo, uma pessoa que acredita no poder simbólico de um uniforme pode experimentar mudanças mais pronunciadas em seu comportamento e autoimagem ao usá-lo.

O conceito de cognição indumentária nos convida a repensar a roupa não como um mero adereço, mas como um elemento que pode moldar a mente humana. As evidências, embora ainda em desenvolvimento, sugerem que a roupa influencia nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos.

No entanto, desafios como a replicabilidade dos estudos e a necessidade de pesquisas mais robustas e contextualizadas precisam ser superados para uma compreensão mais aprofundada dessa relação complexa.

Essa investigação sobre como o vestuário impacta a cognição e o comportamento enriquece nossa compreensão da psicologia humana e tem implicações em ambientes profissionais, educacionais e esportivos.

Um exemplo disso foi a percepção negativa dos uniformes das olimpíadas brasileiras, que gerou memes e críticas, mostrando que a discussão sobre "gosto" e simbolismo cultural é relevante tanto na ciência quanto no cotidiano.

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