Djamila Ribeiro

Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

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Djamila Ribeiro

Rachel Maia, preta e CEO de multinacionais, faz parte de 0,4% no universo corporativo

Executiva conta sua história e nela está parte da história de muitas mulheres negras no Brasil

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Quando me deparei com o livro “Meu Caminho Até a Cadeira Número 1” (ed. Globo), da executiva negra brasileira Rachel Maia, já sabia que seria minha companhia antes de dormir pelos próximos dias.

Em menos de uma semana, já havia devorado o livro que é uma excursão pela vida dessa mulher que, ao ser de pele preta e ter sido CEO de multinacionais, está dentro do seleto grupo de 0,4% no universo corporativo de empresas globais do Brasil. Atualmente, a executiva trabalha em sua empresa de consultoria.

Na obra, Rachel conta seu caminho, sua história vida, suas reflexões e desafios. Para a gente compreender, é necessário conhecer desde o começo.

Mulher negra com cabelo preso e camisa rosa estampada com plantas. Ao redor dela, há plantas largas
Ilustração de Aline Souza para coluna de Djamila Ribeiro, publicada na Folha de S.Paulo, em 11 de março de 2021 - Aline Souza

Na história dela está contada parte da história de muitas mulheres negras no Brasil, a começar pela comunhão em família preta grande com direito a samba e comida boa.

No seu caso, a indescritível culinária mineira. Estar ao redor da mesa farta no quintal, junto de nosso povo tão cheio de vida e história celebrando de frente para onde os porcos e as galinhas são criados para serem servidos na próxima festa é um mergulho na memória de muitas famílias negras neste país. Só quem viveu sabe...

Ao ler sua obra, pensei que Rachel poderia ser uma prima minha tamanha a familiaridade com a realidade que vivi.

As famílias pretas não são só samba, muito pelo contrário.

Na escrita da autora, também me reconheci na descrição do ambiente de disciplina, ordem e estudos. Certa parte, ela narra o que seus pais diziam: “Tudo aquilo que não tivemos, vocês terão com os estudos”.

Lembrei-me imediatamente de meu pai e da minha mãe em sermões intermináveis sobre estudar. Hoje agradeço muito ter ouvido isso. As famílias pretas cortaram de um dobrado para que os mais jovens tivessem o que os mais velhos não conheceram: oportunidades.

Embora já a tenha encontrado algumas vezes e conversado outras tantas virtualmente, tive conhecimento da família de Rachel a partir do livro e foi um deleite conhecer.

O pai era um autodidata. Dedicou-se às enciclopédias Barsa (mais jovens que me perdoem) e fez carreira na extinta Vasp desde faxineiro até progredir com muito estudo a ser inspetor de manutenção.

Já a mãe tomava conta dos filhos e da casa, com as panelas no fogo e a criatividade daquelas que colocam água no feijão e fazem rodízio das partes do frango a cada domingo na mesa para dez pessoas.

Marcadamente foram inspirações para a agora escritora alçar voos. E como voou...

Algumas partes do livro são hilárias, como a chegada de Rachel ao Canadá para o intercâmbio aos 28 anos.

Não vou contar, pois acabaria com a graça, mas é com muito senso de humor que Rachel conta causos que viveu em uma estrada inspiradora.

Mãe apaixonada por sua filha mais velha e seu caçula. É fácil perceber como a menina da família mineira conquistou seu espaço entre as executivas mais admiradas do país.

As leitoras e leitores que se debruçarem sobre a obra poderão encontrar diversos conselhos da autora de visão de negócios e de postura no ambiente de trabalho. Pela escrita de Rachel, fica nítido a intensidade e disposição para a vida dessa mulher, uma desbravadora que traz consigo pessoas como se estivesse no quintal de sua casa, recebendo-as, contando suas histórias, ensinando, aprendendo e conferindo oportunidades.

Um de seus maiores talentos é formar pessoas, algo que é difícil para o mercado em si, mas Rachel se mostra uma mulher que acredita nas ideias que ouve e recompensa quem as teve.

Bem-disposta para a vida, cultivando lealdade, conhecemos no livro uma executiva que arrisca: “Não existe problema algum em se arriscar, desde que você tenha consciência de que pode falhar —e que está tudo bem se isso acontecer. O risco faz parte do processo evolutivo. Digo mais, falhar é fundamental. Quem não arrisca não falha. E quem não falha não conhece o sabor do verdadeiro sucesso. O erro faz parte da formação profissional. O aprendizado está em todos os aspectos da vida, inclusive nas falhas”.

Prossegue: “Afirmo isso por um motivo: quando você se arrisca, entre as inúmeras ideias que planejou colocar em prática, várias não darão certo. Mas aquela que vingar, ah! Aquela será ‘o’ sucesso. Pode ter certeza. Para mim, é fácil perceber que o sucesso, a ideia maravilhosa e o sentimento de ‘eu consegui!’ só vem depois de algumas tentativas, de joelhos ralados, de cara na parede e de erros. E está tudo certo”.

Seguindo sua tradição, nessa obra a autora arriscou. E acertou em cheio.

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