A Associação Internacional das Federações de Atletismo (Iaaf) decidiu prorrogar a suspensão da Rússia de todas as competições da modalidade mundo afora por conta dos indícios de um esquema de doping com apoio governamental protagonizado pelo país. A punição se alonga desde novembro de 2015.
O posicionamento da Iaaf surpreendeu, pois outras entidades de peso do esporte mundial, como o COI (Comitê Olímpico Internacional) e a Wada (Agência Mundial Antidoping), revogaram punições aplicadas em função daquele escândalo. Estas organizações foram convencidas por medidas saneadoras tomadas pelos russos.
Recentemente, o IPC (Comitê Paraolímpico Internacional), dirigido pelo brasileiro Andrew Parsons, anunciou ter decidido levantar condicionalmente a suspensão imposta contra a Rússia. O anúncio oficial está previsto para esta sexta-feira (15) e a medida deverá vigorar até dezembro de 2022.
A Iaaf é a única das grandes federações esportivas internacionais que mantém a Rússia sob severa punição pelo escândalo de doping. Resta saber por mais quanto tempo. O Mundial de atletismo começará em 26 de setembro próximo, em Doha, no Catar.
Coincidentemente, foi numa reunião nesta cidade que a Iaaf acaba de decidir manter a suspensão. Portanto, os atletas da Rússia continuarão treinando sem saber em quais condições competirão, isso se houver uma reviravolta no pouco tempo que resta para o início do Mundial.
A situação é embaraçosa e exige questionamentos. Afinal, atletas russos que nunca usaram drogas proibidas para melhorar o desempenho estão sendo injustamente punidos. Mesmo que ocorra uma liberação com restrições (competir sem representar o país e sob bandeira e hino do COI) não deixa de ser um castigo cruel.
Treinar sob pressão psicológica dessa dimensão é massacrante. A busca de patrocínios para bancar as contas também está comprometida pelo escândalo, causando mais apreensão e tensão. São obstáculos com os quais os adversários dos russos não se deparam, evidenciando um desequilíbrio real em etapa de treinamento pré-competição.
A Iaaf sustenta seu rigoroso posicionamento alegando que a Rússia não teria pago uma indenização financeira pelas investigações provocadas pelo caso e que também continua esperando receber dados de testes antidoping coletados por Moscou.
Autoridades do governo e dirigentes esportivos da Rússia sempre negaram qualquer interferência estatal em episódios de doping, mas admitiram que funcionários se envolveram em esquemas. Especulou-se, inclusive, que os serviços secretos locais teriam participado nas ações criminosas. Fora do país, as versões praticamente colocaram todos os esportes russos na contaminação.
A Rússia pagou um preço alto pela suposta violação das regras e vai precisar de muito tempo para superar respingos desagradáveis dessa mancha indecente na sua história esportiva. Enquanto isso, o atletismo não mostra disposição para trégua. Continua com sua lâmina afiada, como um obstinado verdugo.
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