A eleição de Javier Milei, que superou Sergio Massa na disputa pela presidência da Argentina, é o assunto principal das montadoras nesta semana. As empresas que operam no país marcaram reuniões globais para tentar prever quais serão os próximos passos da economia na região.
O interesse se deve à posição estratégica da Argentina na América Latina. Segundo dados da Adefa (associação argentina das montadoras), as fábricas instaladas no país vizinho produziram 517,2 mil carros de passeio e comerciais leves entre janeiro e outubro. Desses, 273,7 mil foram exportados, o que equivale a 53% do total.
O principal destino desses automóveis é o mercado brasileiro, em uma operação mais rentável que o caminho contrário. Enquanto o Brasil envia carros compactos para a Argentina, os que vêm de lá são, em sua maioria, picapes e SUVs de maior valor agregado.
Além disso, a crise econômica no país vizinho reduziu as importações de carros brasileiros.
A lista de carros feitos em fábricas argentinas inclui as picapes médias Ford Ranger, Nissan Frontier, Toyota Hilux e Volkswagen Amarok. Entre os compactos, há o Fiat Cronos e o Peugeot 208.
Pelo seu potencial exportador, a Argentina recebe aportes constantes das montadoras. Um dos mais recentes foi feito pela Ford, que investiu US$ 660 milhões na fábrica de Pacheco.
Logo ao lado está a linha de montagem da Volks, montadora que aplica US$ 250 milhões no país vizinho em um ciclo que teve início em 2022 e termina em 2026.
A General Motors fez investimentos recentes –estimados em US$ 500 milhões– para aumentar a produção do Chevrolet Tracker em Santa Fé. Já o grupo Stellantis anunciou dois aportes neste ano, que somam US$ 275 milhões. O objetivo é a mineração de cobre para ser usado em veículos elétricos.
Há ainda os fornecedores de componentes que produzem na região. O vaivém de peças é constante entre as fronteiras e movimenta todo um setor logístico.
Novos investimentos são esperados tanto no Brasil como na Argentina, com anúncios que devem ser feitos ao longo de 2024. O foco estará na produção de automóveis de grande volume com motorização híbrida.
As empresas aguardam sinais do governo Milei para entender o novo cenário, e há grande expectativa pela definição da nova equipe econômica.
Mas planos futuros podem ser afetados caso o presidente eleito leve adiante a ideia de deixar o Mercosul ou tome medidas que dificultem as negociações dentro do bloco. Ultraliberal, Milei é contrário à cobrança da TEC (Tarifa Externa Comum).
O tributo incide sobre produtos importados de países de fora do Mercosul, como uma forma de proteger os interesses do grupo econômico composto por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
A dolarização proposta por Milei também preocupa, e as matrizes pedem explicações às filiais sobre como seria possível fazer esse movimento em um país altamente endividado e que não tem reservas em dólares.
Por outro lado, a vitória por boa margem no pleito foi bem vista pelas montadoras. Sem questionamentos, trouxe a percepção de normalidade política.
Segundo executivos brasileiros das fabricantes, as matrizes também querem saber o mesmo que o resto do mundo: o Milei verdadeiro é o radical fechado ao diálogo da campanha ou o político de perfil mais moderado que surgiu no primeiro discurso como presidente eleito?
A resposta para esse questionamento virá em breve e irá definir para onde irão os investimentos que estão sendo planejados. Além das facilidades oferecidas, as montadoras sempre priorizam estabilidade política e econômica ao definir os caminhos de seus negócios.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.