Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Descrição de chapéu Eleições 2022

Lula usa tom agressivo no JN e segue com bolas de ferro da corrupção

Ex-presidente dá entrevista como se estivesse num palanque

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As regras das entrevistas ao Jornal Nacional não permitem que a fala dos candidatos venha pela voz de um dublador, mas ele teria ajudado a Lula. O candidato que disse ser necessário "pacificar este país", que política "se faz conversando" e que "adversário não é inimigo" temperou suas respostas com um tom agressivo, algumas oitavas acima do que pede um estúdio.

Ecoava mais o líder sindical falando no estádio de Vila Euclides no milênio passado do que o Lula presidente de 2003 a 2010.

Lula resolveu seguir na campanha carregando as bolas de ferro da corrupção instalada no seu governo. Primeiro a do mensalão, depois a sua responsabilidade, ainda que indireta, nas propinas cobradas em obras públicas, sobretudo na Petrobras.

Diante de um funto preto listrado de azul, Lula, um homem branco, de cabelos ralos e barba da mesma cor, está sentado gesticulando. Ele veste terno e gravata e tem ao lado da mão direita um copo de água
O candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista ao Jornal Nacional - Reprodução - 25.ago.2022/TV Globo

Erros ("equívocos", nas suas palavras) quem cometeu foi a sucessora, Dilma Rousseff. Logo ela, que tentou limpar a Petrobras e não conseguiu. Ele, repetiu, foi considerado o melhor presidente que o país já teve.

Nos primeiros meses de seu mandato, áulicos atribuíam aos seus poderes a remissão do câncer de um amigo. O perigo mora na possibilidade de ele acreditar nisso, mesmo sabendo que o amigo morreu meses depois.

Lula mostrou-se disposto a reverter o rumo da economia e repetiu uma receita que já deu errado.
A estridência do candidato estragou a resposta em que tratou do agronegócio. A aliança de Bolsonaro com os agrotrogloditas só trouxe constrangimento para os agroempresários.

Ele diz a verdade quando afirma que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de hoje é outro. Isso, contudo, não é apanágio dos governos petistas. Já não corresponde aos fatos a afirmação de que o MST só invadia terras improdutivas. Invasores cobravam até resgate para não ocupar fazendas vizinhas.

As bolas de ferro da corrupção continuam presas aos tornozelos de Lula e serão sentidas durante os debates. Sergio Moro foi um juiz parcial, o Ministério Público fez barbaridades e os delatores continuam endinheirados. Isso não elimina o fato de que, de dez roubalheiras denunciadas, nove eram reais, bem como a metodologia empregada.

O sítio de Atibaia, bem como as obras que a Odebrecht fez graciosamente por lá, não apareceu, pelo limite de tempo da entrevista. Aparecerá.

Faltou a Lula, como faltou a Bolsonaro em maior escala, a grandeza de Juscelino Kubitschek: "Não tenho compromisso com o erro".

Lula e a China

Lula não tem sorte quando fala da China. Ele disse ao JN que "não tem polarização num partido comunista chinês".

O Grande Timoneiro Mao Tsé-tung e sua mulher, Jiang Qing, fizeram a Revolução Cultural e encarceraram o presidente comunista Liu Shaoqi, metendo-o numa enxovia, onde morreu em 1969.

Depois da morte do Timoneiro, em 1976, Madame Mao foi posta na cadeia e condenada à morte. Teve a pena comutada e mudada para prisão perpétua. Enforcou-se num hospital em 1991.

Em 1989, às vésperas da repressão aos manifestantes da praça da Paz Celestial, o primeiro-ministro Zhao Ziyang foi deposto e acabou em prisão domiciliar. Ralou nesse regime por 15 anos, até sua morte, em 2005.

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