Esper Kallás

Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

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Esper Kallás

O que esperar da ômicron

Menos especulação e mais ciência são fundamentais para entender potenciais impactos

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Os dados ainda estão chegando, mas é impressionante o impacto imediato que a identificação da nova variante ômicron tem causado ao redor do mundo. Mercados caíram, governos se adiantaram em fechar fronteiras e muitos países vêm rapidamente investigando possíveis infectados pela nova variante.

Já percebemos que ela pode se espalhar rapidamente. Até a escrita deste texto, 41 países, em todos os continentes, já identificaram ao menos um caso de Covid-19 causada pela ômicron, o que atesta sua capacidade de transmissão.

Tendo passado abaixo do radar em vários lugares, só foi detectada quando o grupo do brasileiro Túlio de Oliveira, pesquisador da Universidade de Stellenbosch e diretor do Centre for Epidemic Response and Innovation (CERI), na África do Sul, descreveu a nova variante na província de Gauteng, que inclui as cidades de Joanesburgo e Pretória.

Pessoa passando em frente a centro de testagem de Covid
Dados sobre ômicron ainda estão chegando, mas já existe reação à variante - Jon Super/Xinhua

Ter 32 mutações somente na espícula do vírus já é motivo de muito debate. Mas é importante dizer que o fato de um vírus ter mais mutações não significa que ele será mais transmissível ou que causará doença com características diferentes. Somente a observação dos casos de Covid-19 causados pela variante e de seu comportamento na cadeia de transmissão poderá dar as respostas. Antes disso, tudo será mera especulação.

Até agora, dados preliminares da África do Sul não apontam para doença de maior gravidade. De acordo com observação, ainda pendente de confirmação, parece que esta variante causa uma forma mais branda da doença. Teria, esta variante do novo coronavírus, menor capacidade de agressão ao hospedeiro? Muito cedo para afirmar.

Ainda faltam dados sobre o efeito de medicamentos antivirais e dos anticorpos monoclonais contra a nova variante. Dados preliminares não sugerem grande mudança da ação contra a nova variante, mesmo porque as mutações se concentram em regiões do vírus fora do local de ação desses remédios.

Alguns sugeriram, mesmo, que a doença causada pela variante ômicron pudesse ser uma das soluções para a pandemia, pois funcionaria como uma vacina atenuada.

A teoria é interessante: se fosse mais transmissível e não causasse doença grave, poderia ampliar a porcentagem de pessoas imunizadas reduzindo, consequentemente, os bolsões de suscetíveis que pudessem gerar outras ondas de transmissão. Entretanto, infelizmente, a ômicron pode levar à doença grave em indivíduos não vacinados. Não se pode e não se deve, portanto, contar com isso. O esforço deve permanecer concentrado na ampliação da vacinação.

A nova variante, quinta considerada "de preocupação" pela OMS (Organização Mundial da Saúde), serve também para alertar que esta não deverá ser a última das variantes de preocupação que irão surgir. Mais do que isso, as chances de que apareçam outras serão maiores enquanto a vacinação não for disponibilizada para todo o mundo, inclusive para países com recursos limitados, com cobertura vacinal ampla, como estamos conseguindo por aqui.

As reações no Brasil foram marcadas ora pela surpresa, ora por certa histeria. Chama a atenção como a abordagem do assunto varia ao sabor das convicções ideológicas e políticas. Pessoas que eram contra as restrições agora advogam pelo cancelamento do Carnaval, evento programado para meses adiante. Outras, com posições antes restritivas, agora aprovam os planos de flexibilização sem considerar as incertezas trazidas pela ômicron.

Para maior segurança de todos, entretanto, a sugestão é se pautar em dados científicos e de especialistas, antes de tomar decisões vinculadas a especulações de mídias sociais.

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