Helio Mattar

Diretor-presidente do Instituto Akatu, foi secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (1999-2000).

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Descrição de chapéu MPME sustentabilidade

O árduo caminho rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Diante de um pífio avanço para atingir a Agenda 2030, o Brasil e o mundo precisam de ações integradas entre governos, empresas e organizações sociais

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Ao entrarmos em 2021, um alerta é necessário: temos menos de uma década para atingir as metas e os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) constantes da Agenda 2030. Mantidas as tendências atuais, a avaliação pelo SPI (Social Progress Index) de 2020, que considera o desempenho social e ambiental de 163 países, indica que o mundo não os alcançará até 2082. Ou seja, mais de 50 anos mais tarde do que o previsto!

A pandemia do coronavírus só veio dificultar esse avanço. O mesmo estudo estima que a Covid-19 fez o mundo retroceder uma década, adiando o atingimento das metas para 2092.

O relatório traz uma análise comparativa de dez anos, mostrando que o mundo está evoluindo, ainda que lentamente: desde 2014, a pontuação média global aumentou de 60,63 para 64,24, muito distante do necessário para atingir os ODS e suas metas.

O Brasil, infelizmente, não acompanha essa evolução global. Ocupando a 61ª posição do ranking geral, é um dos três países cujos índices de progresso social regrediram ao longo da última década, ao lado dos Estados Unidos e da Hungria.

Comparado a 15 outras nações com PIBs per capita semelhantes, medidos pelo parity purchasing power (paridade de poder de compra, em português), o Brasil está abaixo da média em duas categorias-chave: (a) segurança pessoal, envolvendo taxa de homicídios, criminalidade percebida, assassinatos políticos e tortura e mortes no trânsito; e (b) acesso ao conhecimento básico, envolvendo acesso à educação de qualidade, mulheres sem escolaridade, equidade de gênero no Ensino Médio, matrícula na escola primária e escolaridade secundária.

O relatório indica também que, ao longo de quase dez anos, não houve avanço na categoria Qualidade Ambiental. E que o Brasil está abaixo da média dos mesmos 15 países em subcategorias da maior importância, tais como discriminação e violência contra minorias; emissões de gases de efeito estufa; e igualdade de poder político por gênero.

Estas constatações revelam a urgente necessidade de investimento e de articulação para implementar as ações necessárias a um desenvolvimento que seja igualmente bom para a economia, para o meio ambiente e para a sociedade.

No entanto, não acredito que essa articulação entre atores sociais em favor do coletivo venha a ocorrer no clima atual de animosidade que impede a busca de um encaminhamento de soluções positivas para todos.

A contínua expressão de ódio contra supostos inimigos inviabiliza a busca de saídas e aprofunda os problemas, como temos visto em nosso país. Será preciso uma mudança na narrativa política dominante, contrapondo ao ódio um amor incondicional pelo bem-estar da população.

Ao invés de apontar o que os outros fizeram errado, é fundamental buscar formas de não deixar ninguém para trás.

Artigo da revista The Economist, de 16 a 22 de janeiro, discute as preocupações de teóricos da política sobre a democracia, apontando o receio de que ela seja colocada em risco pela manifestação de multidões.

Não tratando de nenhum país em particular, mas referindo-se à “ingenuidade democrática ter morrido na invasão do Congresso americano pela multidão”, o artigo prescreve a democracia como sendo a melhor garantia contra a tentativa de gestão pela pressão das multidões, desde que as instituições democráticas “zelem para que não haja excessiva desigualdade, garanta que os eleitores tenham acesso a informação objetiva, domem o uso do dinheiro na política e reforcem os mecanismos de freios e contrapesos”.

No nosso caso, ressaltando a importância da ameaça representada pela enorme desigualdade, essa democracia, se trabalhada para atingir os ODS, poderia construir a ponte de esperança que necessitamos.

É preciso buscar soluções estruturais para a desigualdade, recorrendo a medidas emergenciais, porque necessárias, apenas como transição até a implementação das estruturais.

A base dessas soluções é dada pelos ODS, que delineiam a construção de um futuro mais justo e sustentável e exigem ações urgentes, escalonáveis e de múltiplas partes interessadas: empresas, governos e sociedade civil.

A baixíssima confiança no governo federal por parte dos brasileiros, conforme revelada pela Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2020, realizada pelo Akatu em parceria com a GlobeScan, exige, em si, uma mudança significativa na forma de governar.

Já as empresas, especialmente as maiores, têm grande capacidade de contribuir para o cumprimento dos ODS por possuírem know how e poder para a implementação de processos que vão na direção de uma sociedade mais sustentável.

No momento da retomada pós-pandemia, para justificar sua licença para operar, elas precisam ir além de mapear como suas ações atuais estão relacionadas aos ODS, perguntando-se o que podem fazer, com suas competências, para mais e melhor colaborar com mudanças positivas para a sociedade e o planeta.

As empresas que de fato contribuírem com os seus stakeholders para essa construção, de forma alinhada com seus propósitos, poderão contar com a recompensa dos cidadãos-consumidores, que darão preferência às suas marcas e deixarão comentários positivos nas redes sociais, como apontei em coluna anterior.

Por fim, é essencial que seja dado espaço à sociedade para participar na elaboração das respostas aos problemas, expressando à iniciativa privada e à pública as suas necessidades e demandando a contribuição desses agentes sociais, além de zelar pela democracia e usar a energia concentrada na sociedade civil organizada para delinear uma perspectiva positiva e os passos firmes —ainda que graduais— na direção dos ODS. Passos que indiquem claramente que se quer acabar com a pobreza, proteger o planeta e assegurar a prosperidade para todos.

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