Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

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Ilona Szabó de Carvalho

Os estadistas precisam se apresentar com urgência

Não podemos continuar de joelhos, assistindo ao país indo à bancarrota econômica, social e moral

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Como explicar para nossos filhos e netos que o país ficou refém da tensão criada intencionalmente pelo presidente populista-autoritário do Brasil e seus súditos fiéis no dia 7 de setembro de 2021? Especialmente quando deveria estar honrando seus mais de 580 mil mortos e trabalhando para salvar os vivos como única forma legítima de comemorar sua independência.

Trazendo a valor presente, o que dizer à comunidade internacional que assiste incrédula ao que acontece no Brasil? Nossa imagem externa se deteriorou de forma impensável. Líderes internacionais manifestam de diversas formas sua preocupação e perplexidade, pois já sabem que estão lidando com um dos mais perigosos presidentes democraticamente eleitos do planeta.

O presidente Jair Bolsonaro discursa durante o ato desta terça (7) em São Paulo
O presidente Jair Bolsonaro discursa durante o ato desta terça (7) em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

A trágica gestão da pandemia, a destruição deliberada da Amazônia e dos outros biomas brasileiros, a promoção de uma corrida armamentista que afeta a segurança e a democracia são ameaças para muito além das fronteiras brasileiras.

E nós? Continuaremos de joelhos, assistindo o país indo à bancarrota econômica, social e moral? Não foi por falta de aviso, mas se alguém ainda tem dúvidas de até onde um presidente sem freios pode nos levar, está mal informado ou se beneficiando da desgraça que vivemos. Quando covardes estão acuados são ainda mais perigosos. Podem não ser bem-sucedidos em seu objetivo final, mas mesmo quando caem, o fazem gerando caos e violência.

Já cruzamos a linha faz tempo. O discurso do presidente no ato da Esplanada teve ameaça ao Congresso, ultimato ao STF e promessa de convocação do Conselho da República. A Polícia Militar do Distrito Federal deu uma pequena amostra do que acontece quando setores das forças policiais aderem às manifestações antidemocráticas —nesse caso sob o comando de um governador aliado ao presidente— ao liberar a entrada de manifestantes na Esplanada no dia 6 de setembro à noite e suspender a revista dos mesmos no dia 7. A politização das polícias é real, e ocorre em um cenário de explosão do número de armas pessoais de PMs.

Quantos outros alçapões estamos dispostos a abrir a cada vez que chegamos a mais um fundo de poço? Já não sei mais se o plano final é à moda venezuelana ou afegã. Não importa qual seja, precisa ser interrompido já.

O STF não pode continuar sozinho colocando limites que se esgarçam a cada dia por inação, omissão e cumplicidade de outros poderes. As ameaças de morte explícitas ao ministro Alexandre de Moraes nas redes sociais por apoiadores do presidente são responsabilidade somente de seus autores? As autoridades que as incitam ficarão sem responsabilização? Pergunto o mesmo sobre as tentativas de invasão armada dos acampamentos indígenas em Brasília.

O presidente da Câmara dos Deputados e sua bancada do centrão continuam rifando o destino do país, e desdenhando da fome e desespero do povo em troca dos bilhões do orçamento secreto, sentando em cima de mais de cem pedidos de impeachment. O Senado ainda dá sinais erráticos: aprovou sem dificuldades a recondução de um procurador-geral da República que tem sido omisso na defesa da democracia.

Estadistas, apresentem-se com urgência, por favor! Nós, – a sociedade—, precisamos exigir que os instrumentos institucionais que ainda nos restam sejam usados para proteger a democracia e estancar a sangria diária que esse desgoverno nos impõe. Precisamos virar essa trágica página de nossa história e reconstruir nosso país.

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