Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Não chores por mim, Brasil

Reviravolta política na Argentina movimenta Twitter brasileiro, em semana de polêmicas dispersas

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Da queda de Dilma Rousseff para cá, é sempre temerário falar em clima ameno no Twitter. A polarização política brasileira, porém, que atingiu nos últimos dias alguns de seus picos mais agudos, transferiu-se, por assim dizer, para os pampas. Mais exatamente para a Argentina, que foi o Assunto do Momento na plataforma.

No início da tarde de segunda (12), nada menos que 467 mil tuítes discutiam a reviravolta política no país vizinho —com a vitória surpreendente da oposição nas primárias para a eleição presidencial—, superando de longe as novas revelações da Vaza-Jato (46,9 mil menções a “Deltan”) e a última ofensa dirigida a um jornalista pelo presidente @jairbolsonaro (44,4 mil menções a “mané”). E o Fla-Flu político brasileiro encarnou num clássico Boca X River.

Presidente da Argentina Mauricio Macri em conferência após as primárias presidenciais, em Buenos Aires - Agustin Marcarian - 12.ago.2019/Reuters

A ex-presidente brasileira deu o pontapé inicial: @dilmabr “A vitória da chapa Alberto Fernández-Cristina Kirchner nas prévias presidenciais é uma luz no fim do túnel para o povo argentino e para a América Latina e um enorme alento para todos que lutamos pela democracia. Triunfo animador das forças progressistas sobre o neoliberalismo.”

Na sequência, a líder do governo na Câmara entrou em campo para evitar analogias com o Brasil: @joicehasselmann “A chapa Kirchner venceu as prévias na Argentina e já impactou no nosso mercado financeiro. Dólar chegou a 4 reais e bolsa despencou 2%. Macri foi derrotado pela economia: deixou de realizar reformas como deveria. Fica a lição.”

O deputado federal pelo PSOL-SP rebateu a colega: @IvanValente “Macri fez tudo o que o mercado mandou, inclusive uma reforma da Previdência, o resultado foi uma brutal crise econômica na Argentina. Agora começa a ser punido pelo voto. O que resta ao mercado, chantagear o povo. Bolsonaro como todo entreguista faz coro com os especuladores.”

Um colunista da Veja registrou a manifestação, feita na véspera, por um ilustre torcedor brasileiro: @BlogdoNoblat “Logo ontem quando tudo já indicava que Maurício Macri levaria uma surra histórica nas eleições primárias da Argentina, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso resolveu apoiá-lo. Uniu-se a Bolsonaro na derrota. Que falta de sorte!”

O próprio Bolsonaro lamentaria o placar mais tarde, em entrevista que repercutiu no Twitter. @JornalOGlobo “Bolsonaro diz que argentinos fugirão para o Brasil se ‘esquerdalha’ voltar ao poder no país vizinho.”

Para a repórter especial da InfoGlobo e ex-correspondente em Buenos Aires o “se” já se configura como bastante provável: @janafig “Jornalistas argentinos comparam a transição entre Macri e Fernández com a de Lula e FHC. O fim de Macri já foi decretado pela mídia local.”

Hipótese que fez o comentarista do Manhattan Connection, @caioblinder, cantar um tango triste: “Claro que é de chorar pela Argentina quando a gente constata ser impossível enterrar o peronismo; o movimento mostra sobrevida para enterrar a Argentina.”

Já o correspondente da GloboNews em Nova York, @gugachacra, lembrou dos anos 1990 para mostrar que não é tão fácil assim entender o jogo jogado na casa dos hermanos: “Menem defendia relações carnais com os EUA e até conquistou para a Argentina o inútil status de ‘aliado extra-OTAN’. Ele se aproximou de Israel e tinha um super ministro defensor de privatizações. Até dolarizou a economia. Era Menem, um PERONISTA.”

Deltan na frigideira

Às vésperas da decisão do Conselho Nacional do Ministério Público sobre pedido de afastamento de Deltan Dellagnol, marcada para hoje (13), tuiteiros discutiam as novas revelações da Vaza Jato.
A médica e deputada federal @jandira_feghali protestou em maiúsculas: “Desrespeito total com Teori! UM DIA após a morte do ministro do STF, Deltan já se movimentava para INFLUENCIAR NO SUBSTITUTO. VERGONHA!”

O Twitter do movimento Vem Pra Rua Brasil manteve a campanha pelo procurador: @VemPraRua_br “Só quem deve muito na praça (e tem medo de ser pego) tem medo de Deltan na PGR. #DeltanNaPGR”

No meio da fervura, @jairbolsonaro deixou claro que o principal aliado de seu ministro da Justiça @SF_Moro, não terá sua indicação ao cargo de Procurador Geral da República. Num post de resposta a uma seguidora, o presidente compartilhou link para a página do Facebook Bolsonaro Opressor 2.0, que dizia: “Pra quem pede o Deltan Dellagnol na PGR... O cara é esquerdista estilo PSOL”.

Para a posteridade

O próprio repórter da Folha em Brasília fez questão de compartilhar o vídeo em que @jairbolsonaro o xinga, no domingo, por causa de uma pergunta: @bernardocaram “O dia que o presidente da República me chamou de mané. Bolsonaro diz que a Folha quer estragar o Dia dos Pais porque perguntou sobre a avó da primeira dama, que estava desassistida em hospital público.”

Diretos de direita

A virtual demissão por Sílvio Santos da apresentadora do SBT Brasil Rachel Sheherazade, ex-apoiadora que se voltou contra o bolsonarismo e que teria encerrado sua influente conta no Twitter a pedido do “patrão”, foi celebrada pela bolha governista.

O empresário @luciano_hang, dono da Havan, patrocinador do SBT, que pediu a cabeça da jornalista semanas atrás, tripudiou: “Ué, estou procurando o Twitter da Rachel Sheherazade e não estou achando. Alguém sabe o que aconteceu?”

A feminista arrependida e atual coordenadora de Políticas para Maternidade do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos @_SaraWinter deu uma explicação extravagante para o fato: “A esquerda acusando Silvio Santos de censurar Rachel Sheherazade por ela tecer críticas ao Governo Bolsonaro. Mas na verdade ela está sendo punida por ter feito graves acusações e ofensas aos agentes penitenciários brasileiros. Não caia na desinformação da esquerda!”

Uma das poucas exceções foi o youtuber e deputado estadual pelo DEM-SP @arthurmoledoval, do site Mamãefalei e membro do Movimento Brasil Livre (MBL), que discordou: “Padre Fábio de Melo e Rachel Sheherazade abandonaram o Twitter após serem veementemente atacados por darem opiniões. Esse tipo de ataque raso (feito pela esquerda ou pela direita) só atrapalha a sanidade do debate político...”

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