Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Usina de crises

Semana de péssimas notícias para o clã Bolsonaro no Twitter é (quase) salva por Paulo Guedes

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Em uma semana explosiva no Twitter, notícias envolvendo o clã Bolsonaro sucederam-se, mobilizando as bolhas pró e contra o governo na plataforma.

Os usuários mal começavam a repercutir os áudios de Fabrício Queiroz afirmando atuar como intermediador de cargos na estrutura federal, viraliza o vídeo compartilhado por @jairbolsonaro retratando-se como leão cercado por hienas encarnadas pelo STF, Rede Globo, ONU e até seu próprio partido, o PSL –postagem que muitos interpretaram como uma manobra diversionista proposital.

Tuíte do presidente Jair Bolsonaro em que ele aparece comparado a um leão atacado por hienas
Tuíte do presidente Jair Bolsonaro em que ele aparece comparado a um leão atacado por hienas - Reprodução

O presidente reconhece o “erro” e apaga o vídeo. Vem, então, a notícia do @jornalnacional com o depoimento do porteiro do condomínio Vivendas da Barra envolvendo Bolsonaro no caso Marielle Franco. Explode a entrevista de @BolsonaroSP, o filho Zero Três, sugerindo a reedição do AI-5 no Brasil –obtendo efeito semelhante.

Perguntado, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, não rechaça as palavras do filho do presidente e amplifica a crise. “Se ele falou, tem de estudar como vai fazer”, limita-se a dizer. Reações fortes no Congresso, pedindo inclusive a cassação do mandato do deputado, fazem enfim Eduardo retratar-se, admitindo ter sido “infeliz” na afirmação.

Sem que o usuário da plataforma tomasse fôlego, uma operação coordenada pelo Planalto, a PGR e o próprio Ministério Público do Rio de Janeiro, encarregado da investigação do assassinato da vereadora Marielle, desmente, no dia seguinte ao JN, o depoimento do porteiro.

Ainda assim, a usina de crises da família presidencial prossegue no Twitter, com @CarlosBolsonaro, o filho Zero Dois, revelando estar de posse de áudios da portaria do condomínio que isentariam o pai. E estoura de vez com a admissão, pelo próprio presidente, de que acessou os dados de interesse exclusivo da investigação: “Pegamos antes que fosse adulterada, ou [se] tentasse adulterar”, justificou @jairbolsonaro.

Horas depois da declaração do presidente, o senador pela Rede Sustentabilidade-AP, líder da oposição no Senado, tuíta: @randolfeap “Bolsonaro confessou ter se apropriado de provas do caso Marielle, onde ele foi, inclusive, citado. Representaremos contra o presidente por obstrução de justiça e pediremos devolução dos materiais! Aqui não é a casa do presidente. As instituições DEVEM agir!” 

O pastor e deputado federal pelo Podemos-SP responde: @marcofeliciano “O Sen. Randolfe @randolfeap tuíta dizendo q representará contra o PR @jairbolsonaro por ‘crime de obstrução à justiça’. Esse crime não existe no Código Penal! Se ousar fazer, eu representarei ao PGR contra ele por crime de comunicação falsa (Art. 340/CP), esse sim existente!” 

E ganha réplica, no mesmo juridiquês: @randolfeap “Em resposta a @marcofeliciano e @jairbolsonaro Deputado, ‘falsa comunicação de crime’ (art. 340, CP) ocorre só quando não se aponta o nome do marginal: se a acusação for sabidamente falsa contra pessoa determinada, seria ‘denunciação caluniosa’ (art. 340, CP).” 

Na sequência, em atitude pouco cristã, o pastor roga a seus fiéis que “espanquem” Randolfe nas redes. 

O deputado federal pelo PT-SP reitera a acusação, alvejando, porém, o Zero Dois: @pauloteixeira13 “O filho do presidente, @CarlosBolsonaro, não tem foro especial. Ele deveria ser preso por obstrução de justiça. @monicabergamo Advogado de Bolsonaro sonegou informação sobre áudio, diz diretor da TV Globo.” 

Zero Dois nem se abala: @CarlosBolsonaro “Em resposta a @pauloteixeira13 e @monicabergamo Chora, menin(x)!!!” 

Ambos referiam-se à comunicação do Diretor Geral de Jornalismo da Globo, reafirmando a convicção da emissora de que a divulgação do depoimento do porteiro era jornalisticamente justificada. E vai além: @monicabergamo “Ali Kamel, diretor da TV Globo, diz em carta interna que equipe merece parabéns. Afirma que advogado de Bolsonaro sonegou info sobre áudio e revela: uma fonte ligada à família do presidente procurou a emissora para falar de ‘bomba’ no caso Marielle.” 

Um colunista da Veja posta uma recordação: @BlogdoNoblat “O Supremo Tribunal Federal prendeu o então senador Delcídio do Amaral, líder do governo Dilma, por obstrução de Justiça. Não sei porquê me lembrei disso agora.”

A deputada federal pelo PSL-SP corre em defesa do presidente e seu filho: @CarlaZambelli17 “Entendam: Tirar cópia de documentos que provem a inocência de alguém não é nada mais do que o EXERCÍCIO REGULAR DA DEFESA, direito fundamental de qualquer cidadão. ‘Obstrução de justiça’ é DESTRUIR ou OCULTAR provas, e não tirar cópia delas. Esquerdistas, vocês são BURROS?” 

Mas é @MarceloLins68, jornalista da GloboNews, que elenca no sábado (2) as questões que continuriam no ar: “Mais um dia, mais perguntas: O material foi pego com autorização judicial? No âmbito da investigação? A gravação, completa e passível de ser verificada e atestada como tal, será disponibilizada aos responsáveis pelo inquérito e/ou à Imprensa, à sociedade?” 

O rapper nascido em São Cristóvão, na zona norte do Rio, tuita sua incredulidade: @Marcelodedois “Vcs têm noção de que a milícia da zona oeste do Rio está no governo federal? Vcs têm noção disso? Que o crime organizado do Rio dominou o Brasil? Nem nos maiores pesadelos eu imaginei que aquela milícia ia crescer a esse ponto!!!” 

Não digam que não avisei 

Da colunista do jornal O Globo e CBN, @flaviaol, ainda na sexta-feira (1): “Repito a coluna que publiquei na antevéspera do segundo turno das eleições 2018. Ninguém pode dizer que não sabia ou não foi avisado. Boa parte do eleitorado optou por testar a resiliência da democracia por omissão, convicção ou indiferença.” 

Sem poupar palavras 

Naquela que seria a única ação de comunicação positiva do governo na semana, a entrevista do ministro da Economia Paulo Guedes à Folha domingo (3) também repercutiu no Twitter.

A economista e ex-diretora do BNDES no governo Fernando Henrique Cardoso, @elenalandau, concedeu: “Não acho pouco grave que Guedes normalize o autoritarismo, a defesa da tortura ou flerte com a ditadura, só que não é novidade, né? Ele não foi trabalhar com Bolsonaro por acaso. A novidade é ele ter um plano para a economia e aceitar que precisa negociar com a sociedade.” 

A escorregada de Guedes na conversa, no entanto – ao queixar-se de que “os ricos capitalizam seus recursos. Os pobres consomem tudo” – não passou despercebida pela também economista @lauraabcarvalho: “Para além do absurdo de associar a menor propensão a poupar dos mais pobres a uma falta de responsabilidade, Guedes ignora que em uma economia em que falta demanda, essa é exatamente a razão pela qual é melhor redistribuir renda do topo para a base da pirâmide: estimular o consumo.” 

Na trocação 

Se o “Trump dos trópicos” passou a semana digladiando-se nas redes, o original também levou suas bordoadas. O comentarista do programa Manhattan Connection, @caioblinder, retuitou o cientista político americano e presidente do grupo Eurasia, Ian Bremmer: “Breaking News! Trump vaiado até pela massa do UFC no Madison Square Garden, este deveria ser o seu povo.” 

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