Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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Israel e o pêndulo político em nova era

Agora a bússola aponta para o centro do espectro político

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Os movimentos pendulares da política israelense indicam, após a eleição de terça-feira, uma nova era, com a bússola apontando agora ao centro do espectro político

Nos últimos anos, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu apostou no aprofundamento da “direitização” para se manter no poder, mas as urnas indicaram, embora de forma menos intensa do que o desejado pela oposição, a desidratação da estratégia.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu - Ammar Awad/Reuters

Olhar panorâmico sobre as cores ideológicas de Israel ao longo dos seus 71 anos de independência permite, grosso modo, identificar duas fases distintas. A primeira, de hegemonia do Partido Trabalhista, começa com a fundação do Estado, em 1948, e termina em 1977.

Patriarca da independência, David Ben-Gurion destacou-se como figura de proa da era socialista, permaneceu cerca de 13 anos no poder e dividiu o palco com os aliados Golda Meir, Yitzhak Rabin e Shimon Peres. A sociedade israelense se apoiava em símbolos como o kibutz (fazenda coletiva) e a Histadrut (central sindical).

Além dos alicerces estatizantes, a cartilha enfatizava, na relação com os vizinhos árabes, o princípio de “trocar terra por paz”, ou seja, priorizar a via de negociações, para superar conflitos regionais.

Em 1977, o Likud, partido direitista liderado por Menachem Begin, estancou a maré avermelhada. Passaram a dominar a cena ideológica políticas econômicas liberalizantes e, na questão palestina, a implementação de agenda priorizando segurança das fronteiras e da sociedade israelense.

Nos últimos 40 anos, apesar de alguns triunfos eleitorais esquerdistas e centristas na virada do século, o pêndulo político israelense favoreceu essencialmente as forças de direita. O país passou a exibir emblemas como o vigor econômico e as startups, vitrines da inovação tecnológica.

Nas duas últimas eleições, a esquerda minguou, e o Partido Trabalhista se transformou numa sombra esquálida de seu passado.

Três fatores ajudam a explicar o encolhimento. Primeiro, o impacto inevitável dos contornos ideológicos do mundo pós-Guerra Fria, com a desintegração da URSS e a falência do “socialismo real”. 

O kibutz do século 21 se assemelha a um condomínio de classe média, com a abolição de seus mecanismos coletivistas.

As últimas décadas também exibiram fracassos de iniciativas de paz com os palestinos, bandeira clássica da esquerda israelense. O processo de Oslo, nos anos 1990, afundou, e a retirada unilateral israelense da Faixa de Gaza em 2005 foi seguida pela chegada ao poder, naquele território, do grupo fundamentalista Hamas, que defende a destruição de Israel.

Houve também mudança relevante no tecido social israelense, a beneficiar a direita. A partir dos anos 1990, desembarcaram em Israel mais de 1 milhão de imigrantes oriundos da ex-URSS e, por rejeitarem a experiência soviética, apresentam bagagem antissocialista.

Netanyahu surfou na onde direitista e superou Ben-Gurion como o premiê mais longevo da história israelense. Mas, nos últimos anos, passou a reforçar o discurso conservador, afastando-se de setores da direita mais moderada e se aliando a ultranacionalistas e a religiosos ortodoxos.

Ao apostar na “direitização” mais intensa, Netanyahu abriu flanco político ao centro, de onde se origina seu maior desafio político da última década. O premiê, embora enfraquecido, não desistiu ainda de buscar protagonismo num próximo governo.

Principal rival de Bibi, Benny Gantz vai tentar isolar o premiê e catalisar o emergente sentimento centrista. A trepidante política israelense decididamente entra em nova fase.

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