José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

José Manuel Diogo

Viagem do coração de d. Pedro 1º é metáfora doce em momento histórico

Algum outro país da América (quiçá do mundo) pediu emprestado o seu coração?

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Setembro de 2022. Estamos com o coração nas mãos. Não há mais coração que aguente. Bate, coração. Aguenta, coração! O que os olhos não veem, tu não sentes. E, mesmo estando de coração partido, sempre podemos fazer das tripas coração. Vamos abri-lo, tê-lo ao pé da boca ou apenas segurá-lo em nossas mãos?

Se o amor é uma questão de coração, não há dúvida que o Brasil ama Portugal e Portugal ama de volta. Fazer viajar um coração com 224 anos de idade, sobrevoando um oceano, dentro de um frasco de vidro, para ser recebido com honras de Estado, só se justifica por amor.

É claro que vão existir clamores, maus humores e aproveitamentos políticos, mas a verdade única e indesmentível é que os dois países não estão unidos apenas pela história, eles se gostam e se amam —e comprovadamente têm o mesmo coração.

O presidente Jair Bolsonaro e a primeira-dama Michelle participam de solenidade de recepção do coração de d. Pedro 1ª, no Palácio do Planalto, em Brasília - Gabriela Biló - 23.ago.22/Folhapress

Algum outro país da América (quiçá do mundo) pediu emprestado o seu coração? Nunca. Muitas cabeças foram perdidas, em bandejas de prata, na ponta de sabres, na fúria das guerras. Mas um coração, não. Isso é amor.

Aguenta, coração. Entre o Brasil e Portugal há coração que aguente. É aquele bate, coração entre o cá e o lá. E como bate! Duzentos anos depois!

Bate nos voos da TAP que ligam o Brasil a Europa e ao mundo através de Lisboa e do Porto. Bate nos consulados onde cada vez mais brasileiros procuram saber sobre como podem ter um visto para encontrar o ensino gratuito, os hospitais modernos e as ruas seguras e tranquilas de Portugal.

Bate nas quadras de vôlei de praia, que em Portugal só falam de Jorge Amado —nas praias e ruas de Cascais só declamam Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes.

Bate forte, vê e sente, alegria e identidade na alta do Porto de d. Pedro, na baixa de Lisboa de Pessoa, na Sé de Braga de todos os arcebispos, da Ria de Aveiro a Veneza lusitana, no castelo de Leiria da história medieval, nas livrarias de Óbidos do José Pinho e no pátio das escolas da Universidade de Coimbra onde até o coração de José Bonifácio bateu —em Portugal, pelo Brasil.

Nenhum estranhamento, do qual alguns ainda falam, resiste à realidade linda dessa história de amor compartilhada entre o Brasil e Portugal. Nenhuma piada de "portuga" —que ainda tem muitas, nenhuma acusação de racismo— às vezes merecidas; nenhuma transliteração burocrática ou acordo ortográfico ou ignorância.

Hoje, Portugal, país pequeno e demasiado envelhecido como muitos outros na Europa, tem sobre estes uma vantagem única. Ele pode oferecer ao país irmão, jovem e vibrante, em uma doce metáfora bicentenária para sua necessidade de rejuvenescimento, um coração.

E o país gigante, maior, mais rico e em muitos fatores mais desenvolvido que o pequeno país seu ancestral, encontra nele uma oportunidade de futuro consistente, cotidiana e desejada.

Corações ao alto! Nossos corações estão com Pedro. Primeiro e quarto. Quarto e primeiro. Imperador e rei. Passado e futuro. União e paz.

O coração que nunca parte do homem que fundou o Brasil volta ao país que fez nascer 69,9 mil dias depois (de 7 de abril de 1831 a 22 de agosto de 2022). Vem de visita. São saudades de amor. Amor eterno.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.