"É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade". Com essa frase, a campanha da W/Brasil para esta Folha fez sucesso, ganhou o mais importante prêmio da propaganda em Cannes e entrou para a história.
A frase continua atual. Dizia respeito a Adolf Hitler —e não se tocará aqui no extremista de direita, de plantão no Palácio do Planalto, em sua tresloucada busca de calar quem nasceu para falar.
Fernando Collor tentou e deu-se mal, assim como Donald Trump corre o mesmo risco ao se voltar contra o New York Times.
A citação da famosa frase, apesar da semelhança não ser coincidência, serve aqui mais para brincar com uma manchete estampada em toda a mídia: pela primeira vez os quatro grandes paulistas jogarão a Libertadores.
É verdade. Mas não é. Ou ainda não é. A rara leitora e o raro leitor estão cansados de saber por quê.
O Corinthians está classificado apenas para a fase preliminar do torneio continental e conhece as dificuldades para superá-la numa palavra: Tolima.
Significa dizer que os quatro só estarão mesmo na competição caso o alvinegro paulistano supere a pré-Libertadores.
Aí sim, os quatro eventualmente poderão se enfrentar e acrescentar mais sabor à rivalidade estadual, como já aconteceu em edições anteriores, a mais notória quando São Marcos eliminou o time de Marcelinho Carioca, embora o Santos seja acusado até hoje por não ter barrado o mesmo Corinthians, nas semifinais de 2012, e tenha permitido que o maior rival de todos os não-corintianos de São Paulo pusesse fim às gozações sobre não ter passaporte.
A única piada que sobrou entre os rivais tem os palmeirenses como alvo: "não tem Copinha, não tem Mundial".
Dito isso, resta responder quem merece os parabéns por estar na Libertadores.
O Corinthians é óbvio que não. O Santos é óbvio que sim.
Com menos investimento, menor folha salarial, com massa torcedora inferior na comparação com o Trio de Ferro, o clube praiano não apenas obteve bom resultado como jogou muitas vezes belo futebol.
Para tanto, além de vencer adversários mais poderosos, precisou superar o seu próprio ambiente.
Mérito exclusivo de Jorge Sampaoli, escolhido mais pelo acaso que por método, mas aposta certeira.
Método teve o Palmeiras, no alvo na temporada passada, furado nesta, porque dinheiro aceita desaforo até certo limite. Matar pardais com tiros de canhão revelou-se vitorioso em 2018 e desastroso em 2019, com futebol pobre nas duas campanhas.
O São Paulo não ficou atrás, na base da tentativa e erro.
Nem mesmo a classificação, obtida com abnegação contra o desbotado Colorado, significou acerto ao fim de tantas bolas fora.
Em bom espanhol, a Libertadores virou "una vergüenza".
Distribui vagas ao deus-dará e rebaixa o nível da competição ao rés do chão, ou mais, aos subterrâneos do futebol.
A rigor, nem São Paulo nem Corinthians merecem disputá-la no ano que vem. Como o Internacional também não.
Fosse uma copa séria teria, no máximo, Flamengo, Santos, Palmeiras, Grêmio e Athletico. E olhe lá!
Chave de ouro
Quiseram os deuses dos estádios que o Campeonato Brasileiro tenha um fecho de ouro com o jogo na Vila Belmiro entre Santos e Flamengo.
Melhor ainda se fosse no Morumbi, para mais gente.
Indisfarçável a vontade de Sampaoli em derrotar o xará Jorge Jesus.
Assim não fosse e não teria poupado titulares em Curitiba.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.