Quando vi que o vôlei feminino seria um dos últimos esportes coletivos a decidir a medalha de ouro na Tóquiovid-21, lembrei da Barcelona-1992 e da Rio-2016, quando também o vôlei, mas o masculino, foi dos derradeiros esportes por equipes a ser decidido.
Achei estar diante de bom presságio porque, nas duas ocasiões, o Brasil venceu: a Holanda, na Espanha, e a Itália, no Brasil. Duas vitórias inesperadas. A primeira porque um time renovado sob o comando de um jovem treinador. A segunda porque a Itália havia vencido na fase de grupos por 3 a 1. Em ambas as vitórias o placar não deixou dúvidas: categóricos 3 a 0.
Também a seleção feminina no Japão não chegou como favorita, embora a campanha invicta até a finalíssima a credenciasse a enfrentar os Estados Unidos sem complexos em busca do terceiro ouro —e sempre contra as americanas.
Sob o comando do mesmo jovem treinador dos rapazes em Barcelona e das meninas em 2008, em Pequim, e em Londres-2012, o já veterano José Roberto Guimarães, meu tipo inesquecível como técnico dos chamados esportes olímpicos.
Quando o primeiro set terminou com vitória das sobrinhas de Tio Sam, foi impossível não lembrar que nas duas decisões anteriores a vitória aconteceu por 3 a 1 e que, na Inglaterra, o primeiro set terminou 25 a 11. Ora, 25 a 21 era fichinha. Mas, na verdade, não era.
A superioridade das rivais ficou patente no segundo set, em indiscutível 25 a 20.
Restou curtir o terceiro set (25 a 14) e uma verdadeiramente valiosa medalha de prata. Sem pieguice.
Matheus e os nossos
“Mateus, primeiro os teus”, diz a expressão bíblica que Matheus Cunha, o centroavante da seleção brasileira de futebol masculino, bicampeã olímpica, não obedeceu.
Porque ao se recuperar de lesão e disputar a tensa decisão com a Espanha, jogou como leão para o time. Sofreu o pênalti que Richarlison não aproveitou, fez o gol da abertura do placar com rara competência, foi visto marcando adversários no campo da defesa amarela no segundo tempo até sair exausto, ao fim do tempo normal, trocado com a felicidade de André Jardine por Malcom, autor do gol de ouro.
O paraibano de apenas 22 anos, que saiu cedo do Coritiba para jogar na Suíça e hoje defende o Hertha Berlim, talvez seja o melhor símbolo da conquista, porque seu modo solidário de atuar como atacante pode cumprir o melhor papel esperado de seleções olímpicas, o de fornecer soluções para a seleção principal.
Lamentável, apenas, a atitude cafajeste da CBF ao não vestir o uniforme oficial na premiação.
Nordeste iluminado
O Nordeste brasileiro é a região mais vitoriosa da campanha do esporte nacional nas Olimpíadas.
Como se para coroar as façanhas dos medalhistas do surfe ao boxe, passando pela natação e pela canoagem, lembrando que o capitão do futebol é o baiano Daniel Alves, o time do Fortaleza viveu noite histórica no estádio palmeirense na noite do sábado (7) ao vencer o milionário Palmeiras por 3 a 2, em belo jogo de futebol.
Teria sido marcante por si só, mas parece ser mais. Parece ser a afirmação do trabalho de um time que não está no topo da tabela do Brasileirão por acaso, já na 15ª rodada.
E da revelação do argentino Juan Vojvoda, treinador capaz de montar equipe competitiva e atraente, com investimento bem mais modesto que o de clubes do que se convencionou chamar de “sul maravilha”, embora extrapole as fronteiras geográficas. Impossível não simpatizar com o Fortaleza.
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