Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Chamar Daniel Alves é o ruído desnecessário

Lista é, no geral, correta e sem surpresas, mas escolha pelo ex-jogador do Barcelona é uma bofetada em todos os laterais direitos nascidos no país

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Houve um tempo em que cada lista de convocados para a seleção brasileira causava polêmicas sem fim, ou por bairrismo, ou por clubismo, ou porque, de fato, mais que presenças, certas ausências eram mesmo criminosas.

Paulo Roberto Falcão não ter sido chamado por Claudio Coutinho para disputar a Copa do Mundo de 1978, na Argentina, foi um desses casos, até hoje inexplicável.

Se o pentacampeonato não viesse em 2002 também Felipão seria criticado até hoje por ter não ter levado Romário. Como veio, virou acerto.

Técnico Tite durante anúncio dos convocados para a Copa 2022 - Eduardo Anizelli/Folhapress

Neto, em 1990, Neymar e Ganso em 2010, também são erros chorados por muitos, mas incomparavelmente menos graves que o cometido contra aquele que, em 1982/83, acabou proclamado Rei de Roma, por liderar a equipe ao título que a capital italiana não comemorava havia 40 anos.

É certo que durante muito tempo as críticas eram motivadas por razões menores e que atualmente quase ninguém reclama ser o terceiro goleiro o palmeirense Weverton e não o corintiano Cássio.

Com apenas três jogadores que atuam no Brasil entre 26 jogadores, tanto o bairrismo quanto o clubismo perderam a razão de ser.

Daí a inconformidade ampla, geral e irrestrita pela convocação de Daniel Alves, uma bofetada em todos os laterais direitos nascidos no país, de Marcos Rocha, do Palmeiras, a Emerson Royal, do Tottenham, longe de serem brilhantes em posição carente, mas incomparavelmente mais confiáveis.

Tite argumenta com o restabelecimento da forma física do atleta de 39 anos e com sua capacidade de articulação, aparentemente esquecido de que o torneio no Qatar não será de fisiculturismo e de que há anos Dani Alves deixou de apresentar suas melhores qualidades, sem se dizer que inativo há dois meses. De quebra, já disputou duas Copas do Mundo sem o brilho que prometia.

Pode ser ótima companhia, ser excelente no pandeiro e exercer liderança positiva –características que justificariam a ida dele como convidado especial, nunca para jogar a competição que será disputada em altíssima intensidade. Dá até medo pensar num duelo com Mbappé.

Vulnerável também é o zagueiro Thiago Silva, de inquestionáveis qualidade técnica e desequilíbrio emocional, embora neste caso a aprovação de Tostāo credibilize a escalação.

De resto, a rara leitora e o raro leitor podem gostar mais de Fulano que de Beltrano ou até mesmo de Sicrano, que muitos chamam equivocadamente de Ciclano.

Os críticos também têm direito de preferir Gabigol a Gabriel Martinelli, ou Roberto Firmino a Gabriel Jesus. Cada um com seus preferidos.

Walter Casagrande Júnior, por exemplo, levaria Cássio —e a escolha nada tem a ver com corintianismo, mas a quantidade de títulos do goleiro alvinegro e do certo que sempre deu a parceira dele com o treinador da seleção, além de já ter uma Copa do Mundo nas costas.

Está tudo muito bem, está tudo muito bom, mas, convenhamos, nada disso será decisivo para ganhar ou perder a Copa.

Apenas era dispensável o rebuliço causado pela convocação de Daniel Alves, que até parece provocação, ou tática para tirar os holofotes de Neymar e preservá-lo das críticas ao seu comportamento juvenil.

O lateral esquerdo Nilton Santos disputou a Copa do Chile, em 1962, aos 37 anos, e ajudou a ganhar o bicampeonato.

Mas era Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol.

E só ganhou o bi porque havia sido campeão em 1958.

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