Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Mundial de Clubes

O Fluminense diante das pirâmides

O Al Ahly não tem Benzema, Kanté e Fabinho; mas tem Queóps, Quéfren e Miquerinos

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Todos temíamos o saudita Al-Ittihad dos franceses Benzema e Kanté; dos brasileiros Marcelo Grohe, Fabinho e do intrépido Romarinho; do português Jota, entre outras estrelas, todas dirigidas pelo argentino Marcelo Gallardo.

O egípcio Al Ahly tratou de despachar os anfitriões do Mundial de Clubes da Fifa com sonoros e indiscutíveis 3 a 1 e se apresenta nesta segunda-feira (18) como obstáculo ao Fluminense.

Jogadores do Al-Ahly comemoram o segundo gol marcado contra o saudita Al-Ittihad; eles levantam o camisa 10 em direção à torcida com vestes vermelhos
Jogadores do Al Ahly comemoram segundo gol contra o saudita Al-Ittihad, em partida que terminou 3 a 1 para os egípcios - Amr Abdallah Dalsh - 15.dez.23/Reuters

Sem estrelas mundialmente conhecidas, mas chamado de Real Madrid da África, graças aos 11 títulos de campeão continental, em 58 edições, seis a mais que o segundo maior vencedor, ganhador de nove taças neste século.

Seu goleiro, Mohamed El-Shenawy, evitou que Benzema empatasse o jogo ao pegar pênalti cobrado pelo número 1 do mundo no ano passado, assim como defendeu as cobranças de Rony e Felipe Melo na disputa pelo terceiro lugar com o Palmeiras, em 2020.

E se o camisa 10, o sul-africano Percy Tau, está longe de ter a fama do melhor jogador egípcio de todos os tempos, Mohamed Salah, é alguém para exigir os cuidados de Fernando Diniz pelo lado direito do ataque.

Com elenco quase todo de jogadores nascidos no Egito, o time aposta na tradição de seu trio mais famoso, quando nem se pensava em futebol, muito menos em jogar com três zagueiros: Queóps, Quefrén e Miquerinos, soberanas em Gizé, pertinho da capital Cairo, há mais de cinco mil anos estimulam o orgulho egípcio.

O tricolor carioca segue favorito, como seria contra os sauditas, embora deva ter percebido que a escalação no papel fala menos que a organização, a força física, a velocidade e o entrosamento de um time.

A parada será dura, assim como nem o Manchester City, em momento irregular, poderá desprezar a outra surpresa das semifinais, os japoneses do Urawa Reds, que eliminaram os favoritos mexicanos do Léon.

Registro do treino do Fluminense em Jeddah, na Arábia Saudita, mostra Marcelo fazendo embaixadinhas, vestido de verde, e Fernando Diniz e sua comissão técnica ao lado, com uniformes vermelhos
Treino do Fluminense em Jeddah, na Arábia Saudita, antes da estreia no Mundial de Clubes - Amr Abdallah Dalsh - 17.dez.23/Reuters

Será bom ver Fluminense e Manchester City na finalíssima, na sexta-feira (22), em Jidá, mesmo que o torcedor tricolor mais pragmático prefira os nipônicos aos britânicos.

O embate entre o dinizismo e o guardiolismo será o melhor presente ao amante do futebol neste final de ano.

Para o Natal

Se a rara leitora e o raro leitor conhecem alguém que não aprove misturar futebol e política, dê de presente o livro "Condor FC — O Uso Político do Futebol nas Ditaduras da América Latina", da dupla gaúcha Bellé/Neme, formada por advogado e arqueólogo, pela @deletralivros.

São 150 páginas de rigoroso relato sobre como os ditadores da Argentina, Brasil, Chile e Uruguai usaram o esporte para tentar abafar os horrores cometidos no mais sombrio período da História dos quatro países.

Do tricampeonato brasileiro em 1970, ao primeiro título argentino em 1978, passando pelo Mundialito uruguaio em 1981 e pela exploração do mais popular clube chileno, o Colo-Colo, casos dolorosos são contados para impedir o esquecimento das torturas e mortes no período.

Episódios sobre jogadores do quarteto sul-americano, um sobre Nando, o irmão de Zico, são relembrados minuciosamente, como é rememorada a reação da torcida uruguaia, no Estádio Centenário de Montevidéu, ao comemorar a conquista do torneio preparado para fortalecer o regime: "Vai acabar, vai acabar, a ditadura militar".

Porque, como até hoje escrito no Estádio Nacional do Chile, "Um povo sem memória é um povo sem futuro".

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