Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Katia Rubio
Descrição de chapéu Tóquio 2020

Jogos de Tóquio ficarão na história como os primeiros a quebrar calendário olímpico

Edição de 2020 será realizada em 2021, nas circunstâncias possíveis

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Quando o barão Pierre de Coubertin reinventou os Jogos Olímpicos, ele jamais poderia imaginar no que se transformaria esse espetáculo que nasceu para ser uma grande celebração, ainda que para poucos e abastados.

Até morrer, em 1937, ele assistiu à interrupção do ciclo olímpico em 1916, por causa da Primeira Guerra. Depois viu a transformação dessa celebração em um grande espetáculo com os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932, mas nada que se comparasse aos Jogos de Berlim, em 1936. Sob a coordenação da equipe de propaganda nazista, aquela edição olímpica foi transformada no maior espetáculo olímpico jamais visto, nas palavras do próprio Coubertin.

O barão de Coubertin se impressionou com os Jogos de 1936 - Reprodução

Talvez tenham sido Hitler e sua equipe os primeiros a perceber o quanto essa celebração, que nasceu para promover a paz entre as nações e ser uma linguagem universal, poderia ser utilizada como uma forma de mostrar ao mundo a pujança de uma nação e a força de um povo.

O que é possível observar depois de 1936, ao longo de todo o período da Guerra Fria e em plena ocorrência do profissionalismo, é que o deslocamento de objetivos continua a acontecer e isso pode ser observado na presença cada vez mais necessária do Estado na realização dos Jogos Olímpicos, mesmo quando se cantava a todos os ventos a autonomia de um movimento que temia se envolver com a política.

Estamos a poucas semanas de uma edição de Jogos que entrará para a história como a primeira a quebrar o calendário olímpico. Será realizada nas circunstâncias possíveis. E, mesmo faltando tão pouco tempo, teme-se que sua realização ainda não ocorra, justamente pelo desejo político dos anfitriões.

A razão para essa dúvida é clara. Vivemos uma pandemia e não há garantias sanitárias de que o vírus não se multiplique em solo japonês ou de que não se crie uma variante olímpica diante da aglomeração inevitável que se viverá lá.

Apesar dessa ameaça, a discussão sobre as circunstâncias da realização dos Jogos se mantém em alto nível. Claro que isso se dá pelo respeito a um sistema político estável, no qual pessoas são destituídas de seus cargos por questões morais, como foi o caso do presidente do comitê organizador. O suicídio ainda pouco esclarecido do membro do Comitê Olímpico Japonês também aponta para uma questão moral relacionada aos Jogos de Tóquio.

A marca dos Jogos é Tóquio-2020, ainda que as disputas vão ocorrer em 2021 - Issei Kato/Reuters

Imagino se a crise sanitária tivesse acontecido com os Jogos sendo realizados em um país com um sistema político esgarçado, sujeito a instabilidades, com dirigentes acusados de corrupção e sem compromisso com ideais que se aproximam dos olímpicos.

O último processo de postulação olímpico foi pouco falado aqui na ex-sede. Depois da dupla escolha de Paris e Los Angeles, era hora de pensar no longo prazo e preparar o terreno para mais uma edição, desta vez sem atropelos. É evidente a busca de garantias institucionais para a realização da grande festa olímpica.

Por isso não me causou estranheza a escolha de Brisbane para a edição olímpica de 2032. Cidade de um país que já abrigou os Jogos de 1956 e 2000 e tem o sistema político que casa como uma luva ao COI. Além de uma estrutura esportiva invejável, a Austrália se destaca entre as potências olímpicas mundiais em várias modalidades.

E assim temos o casamento perfeito. Política estável e jogos sem atropelos. Espero que Tóquio-2020 tenha ensinado que, mesmo diante de todo planejamento, há calamidades inevitáveis. E não será deixando a competição olímpica entre os mesmos que seus valores serão tomados como universais.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.