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Guatemala capturada por uma elite corrupta

Discurso de apoio à luta contra a corrupção foi se transformando em mera retórica vazia de conteúdo e intenções

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Tomás Enrique Creelman Pappa

É assessor, consultor e pesquisador especial. Diretor para a Guatemala da Presagio Consulting

Para os guatemaltecos, 2021 será marcado por um recrudescimento do desgoverno, a corrupção e a consolidação da cooptação de todas as instituições do Estado. O legado que deixaram as campanhas cidadãs de 2015 contra o então presidente Otto Pérez Molina e sua vice-presidente, Roxana Baldetti, foi truncado após a investida do agora ex-presidente Jimmy Morales e seu círculo de poder contra a Comissão das Nações Unidas contra a Impunidade na Guatemala (CICIG) e as instituições que lideraram esta luta.

A inversão do legado da CICIG

Com a ascensão de Alejandro Giammattei, a situação não melhorou. O atual presidente foi eleito em eleições que supostamente duas concepções político-ideológicas se enfrentavam, mas na realidade foi uma disputa entre dois grupos com as mesmas intenções desleais de converter o Estado em sua pinhata pessoal.

Apesar do contexto negativo, as investigações conduzidas pela CICIG, defenestrada e expulsa, continuaram contra todas as probabilidades sob a direção do promotor Juan Francisco Sandoval, da Promotoria Especial contra a Corrupção. Mas com o tempo, foram perdendo credibilidade devido à descarada cooptação do Ministério Público pelo grupo político-empresarial que acompanha Giammattei.

Foi assim que o discurso de apoio à luta contra a corrupção foi se transformando, gradualmente, em uma mera retórica vazia de conteúdo e intenções, mediante uma luta desleal contra a Procuradoria Especial contra a Corrupção e a Impunidade (FECI), o que a impediu de avançar. Especialmente quando os inquéritos dos promotores e seus auxiliares se aproximaram do presidente, de seu grupo íntimo e, sobretudo, de seus interesses profanos.

Mulheres indígenas bloqueiam estrada durante protesto pela renúncia do presidente Alejandro Giammattei
Mulheres indígenas bloqueiam estrada durante protesto pela renúncia do presidente Alejandro Giammattei - Luis Echeverria/Reuters

Os acordos secretos do presidente

De acordo com as declarações do ex-procurador Sandoval, que está em autoexílio, a procuradora-geral Consuelo Porras obstruiu suas investigações de todas as formas concebíveis, legais ou não. Mas a gota d'água, segundo especialistas, foi a investigação sobre a chegada de dois aviões privados na Guatemala com matrículas da Rússia e do Cazaquistão, que haviam transladado ao país empresários desses países para acordar “favores” mútuos com o próprio presidente Giammattei.

De acordo com fontes que preferem não revelar sua identidade, o fornecimento de vacinas Sputnik V foi negociado neste contexto. Entretanto, também haviam negociado licenças de exploração e direitos de mineração no leste do país, assim como a concessão em um dos principais portos do país.

Ironicamente, esses seriam contratos muito similares aos assinados durante a administração de Otto Pérez Molina, que resultaram em investigações sobre o pagamento de milhões em subornos através do ex-secretário particular do deposto e impichado Pérez Molina.

A greve plurinacional

O mal-estar de muitos guatemaltecos, indignados com a demissão do promotor Juan Francisco Sandoval, bem como com a má administração da pandemia, tem sido até agora visível principalmente em publicações nas redes sociais e de organizações da sociedade civil. Entretanto, o papel dos povos originários vem crescendo, levando à chamada Greve Plurinacional em 29 de julho.

A mobilização de mais de 200.000 pessoas, que levou a cerca de 90 bloqueios, foi liderada pelo grupo indígena 48 Cantones de Totonicapán. Seu secretário-geral de 35 anos, Martín Toc, está começando, segundo os líderes sociais guatemaltecos, a emergir como um ponto de referência dentro dos movimentos populares.

Até o momento, quem não adotou uma posição clara foram as câmaras que aglutinam o setor empresarial e que desempenham um papel importante na economia guatemalteca. Alguns acreditam que estão aguardando o curso dos eventos, enquanto outros acreditam que manterão seu habitual silêncio cúmplice diante dos desatinos dos políticos e dos funcionários do Estado.

A posição ambígua de Washington

O Departamento de Estado dos EUA emitiu comentários oficiais e não oficiais condenando o desprezo pela independência do Judiciário guatemalteco. No entanto, até o momento, Washington não levou o assunto adiante.

Com a desculpa de não poder atuar diretamente em questões internas de um Estado soberano, por enquanto os atuais ocupantes da Casa Branca parecem estar pesando até onde podem pressionar o único presidente do conturbado Triângulo do Norte que não é esquivo a eles. Enquanto o Departamento de Estado considera o salvadorenho Nayib Bukele como uma pedra no sapato e o hondurenho Juan Orlando Hernández como um presidente cessante, Giammattei é o único dos mandatários considerados como um parceiro que lhes resta na região.

O futuro imediato

No dia 9 de agosto ocorreu outra rodada de protestos e acredita-se que os mesmos prossigam. Mas é de se esperar que a resposta do governo nacional continue na linha do entrincheiramento e dos ouvidos surdos enquanto consolidam seus interesses através de todos os tipos de corrupção.

Ademais, é de se esperar que o círculo do poder político-institucional se concentre em eliminar a figura de Jordán Rodas, Procurador dos Direitos Humanos, que é visto como o único grande obstáculo para a realização dos planos do grupo que co-governa com Giammattei.

Novas convocatórias das organizações sociais poderiam levar a um maior grau de instabilidade. Mas, por outro lado, isso também atrasaria ainda mais a chegada dos potenciais investimentos tão necessários para superar a crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19.

*Tradução do espanhol por Maria Isabel Santos Lima

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