Lorena Hakak

Doutora em economia e professora da FGV. Atua como presidente da GeFam (Sociedade de Economia da Família e do Gênero)

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Gênero importa na gestão pública?

A diferença entre a representatividade feminina na política mexicana e a brasileira é surpreendente

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Na semana passada assistimos à eleição presidencial no México. Ainda que não soubéssemos antecipadamente quem seria o novo presidente, já era certo que seria uma presidente. Tínhamos duas candidatas na disputa. A presença feminina na política mexicana, que marcou esta eleição, não foi sempre uma realidade. A lei de paridade de gênero nas eleições, promulgada em 2014 e implementada em 2018, transformou o cenário da política mexicana, permitindo que a escolha para presidente fosse entre duas candidatas mulheres. Isso é algo praticamente impensável por aqui.

A diferença entre a representatividade feminina na política mexicana e a brasileira é surpreendente. O nosso atraso é do tamanho do atraso com que as mulheres conquistaram seus direitos políticos no Brasil. Segundo os dados do Inter-Parliamentary Union, o Brasil está em 133° lugar entre 180 países no ranking de representatividade feminina de 2023, com apenas 18% do parlamento composto por mulheres, enquanto o México está em 5° lugar.

Uma mulher branca com expressão determinada levanta o punho enquanto discursa ao microfone, vestindo uma blusa roxa e um xale colorido. O cenário sugere que ela está em um evento formal ou político à noite, possivelmente ao ar livre, com uma estrutura iluminada ao fundo
Claudia Sheinbaum acena a apoiadores na Praça Zócalo, na Cidade do México, após vencer a eleição presidencial mexicana Alexandre Meneghini/Reuters - Alexandre Meneghini - 3.jun.2024/Reuters

As mulheres brasileiras conquistaram seu direito ao voto muito mais tarde do que os homens, somente em 1932. Não custa lembrar que somente na Constituição de 1988 entrou em vigor a legislação que assegurava a total igualdade de direitos entre homens e mulheres. Essa demora em equalizar direitos e representatividade deixa marcas nas desigualdades como as que vemos ainda hoje, como a baixa proporção de mulheres no parlamento brasileiro ou ocupando cargos majoritários.

Porém, não perdemos apenas em termos de diversidade de gênero e ideias. Há evidências de que mulheres em posições de liderança política estão menos envolvidas em casos de corrupção, além de estarem associadas a escolhas de políticas mais socialmente orientadas do que seus colegas homens. Essas mulheres, em média, investem mais em saúde, educação ou até mesmo na maior provisão de creches públicas.

Os autores, Fernanda Brollo e Ugo Troiano, do estudo "What happens when a woman wins an election? Evidence from close races in Brazil" comparam a diferença de envolvimento em corrupção política entre gêneros usando dados de compras e contratos governamentais municipais com irregularidades a partir de auditorias feitas de forma aleatória. Essa randomização das auditorias começou em 2003 num programa federal anticorrupção para detectar irregularidades.

Os autores encontram evidência de que prefeitas têm menor probabilidade de estarem envolvidas em irregularidades do que prefeitos. Especificamente, observar um caso de corrupção é de 29 a 35% menor em municípios governados por prefeitas em relação a prefeitos. Mais do que isso, mostram que prefeitas, em média, contratam menos funcionários públicos temporários em ano eleitoral. Apesar disso, essas mulheres têm menor probabilidade de serem reeleitas em comparação aos prefeitos.

Outro estudo que traz um retrato da diferença na gestão entre prefeitos e prefeitas é o "Under pressure: Women’s leadership during the COVID-19 crisis". Os autores, Raphael Bruce, Alexsandros Cavgias, Luis Meloni e Mário Remígio, mostram como prefeitas lidaram melhor com a crise sanitária da Covid do que os prefeitos no Brasil. Segundo o artigo, as taxas de mortes e hospitalizações nos municípios governados por prefeitas foram menores do que em locais governados por homens.

A diversidade traz um ganho na gestão da coisa pública quando permite incorporar diferentes visões e perspectivas na alocação do recurso público. É natural que pessoas com diferentes características, seja por gênero, raça, orientação sexual, entre outras, tenham diferentes vivências e experiências. Quando somadas, essas diferenças podem beneficiar a coletividade. Por isso a representatividade na política é importante e todos nos beneficiamos com ela.

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