Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho
Descrição de chapéu Maratona

Kate Winslet paira acima da vida ordinária imposta em 'Mare of Easttown'

Dureza da protagonista intriga tanto quanto crime em nova minissérie da HBO

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Mare, como se chama a personagem de Kate Winslet que dá nome e alma para "Mare of Easttown", é uma forma irlandesa para Maria e também a palavra em inglês para "égua". Esse batismo simboliza muito da força da minissérie da HBO que surge como um dos poucos trunfos em mais um ano de limitações pandêmicas.

Como no animal, há uma beleza aquietadora em Mare Sheehan, a policial que vive como um animal de carga, carregando o peso do mundo, ao mesmo tempo que evoca uma criatura impulsiva constrita por essas amarras que a vida impõe: emprego, casamento, filho, vizinho, doença, parente, dinheiro e uma cidade sem grandes horizontes.

Winslet dignifica o fardo com uma atuação sensível e sutil, quase como se pairasse acima dessa dureza toda na tentativa de não ser consumida por ela. É uma atuação pungente, aparentada à de Frances McDormand em "Olive Kitteridge", também sobre uma mulher cuja solidão em meio a tanta gente é quase tangível na tela.

A história é ordinária, e assim foi concebida sua protagonista, segundo o roteirista-chefe Brad Ingelsby: em uma cidadezinha da porção mais industrial da Pensilvânia, estado que representa um microcosmo dos Estados Unidos e suas várias nuances, uma investigadora se vê diante do assassinato de uma adolescente. É uma comunidade do tipo que os políticos costumam chamar de "América real", onde todos se conhecem —ou assim pensam.

Erin (a excelente Cailee Spaeny) é mãe solo, pouco popular na escola, e perseguida pela atual namorada do pai de seu filho. A culpa do assassinato logo recai sobre o adolescente, assim como o ódio do pai da vítima.

A intrincada colcha de relacionamentos da cidade, de raiz irlandesa e católica, logo revela que o número de suspeitos é bem mais amplo. O que se segue é a típica trama do quem-matou (o chamado 'whodunnit', imortalizado por Agatha Christie e outros).

Em muitos momentos, "Mare of Easttown" evoca outras séries: o clima cinzento de "The Killing", a caipirice sem ingenuidade de "Ozark", o interior americano retratado como um fim de mundo cheio de transgressões de "Objetos Cortantes", e a própria protagonista empedernida notabilizada nestes tempos.

A diferença é que parece impossível torcer por sua heroína, que, sempre rodeada de gente, tornou-se impermeável ao afeto.

Aos poucos essa erosão vai revelando sua gênese —houve a perda de um filho que, consumido por transtornos mal diagnosticados— e seu horizonte cerrado, como quando a sugestão de um parceiro romântico forasteiro, vivido por Guy Pearce ("Amnésia"), cai quase como estorvo.

Foram ao ar dois episódios, e outros cinco serão exibidos nos próximos domingos. A expectativa que resta para Mare é que ela rompa com seu cotidiano asfixiante e nos leve, nessa pequena catarse, a nos livrarmos também desses dias enevoados que temos vivido.

Os episódios de ‘Mare of Easttown’ são disponibilizados semanalmente nas noites de domingo pela HBO

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