Maria Hermínia Tavares

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

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Maria Hermínia Tavares
Descrição de chapéu ataque à democracia

O derradeiro dia dele

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O último dia de Jair Bolsonaro não foi 30 de dezembro de 2022, quando, ainda presidente, abandonou Brasília para se acoitar nas cercanias da Disney, em Orlando (EUA), e assim não dar posse a quem o suplantou nas urnas.

O "Dia B" foi no último domingo, 8 de janeiro, em que hordas de apoiadores seus deram tradução brutalmente literal ao que, ainda candidato, anunciara como sua meta: "Destruir tudo isso daí" —nada menos do que a democracia brasileira. Pois não há a mais ínfima dúvida de que o ex-presidente é o autor intelectual —se é que o termo se lhe aplica— do ataque às sedes dos Poderes da República e da vandalização de seu patrimônio.

Ex-presidente Jair Bolsonaro recebe apoiadores em condomínio na região de Orlando
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebe apoiadores em condomínio na região de Orlando, nos EUA - Thiago Amâncio/Folhapress

O extremismo político não brota naturalmente da sociedade: é produzido por líderes que exploram ressentimentos, temores e aspirações, em benefício de seus interesses ou de suas ideias sobre como o mundo é e deveria ser.

Para o jurista e cientista político Cass Sunstein, da Universidade Harvard (EUA), são "empreendedores da polarização" ao radicalizarem grupos com crenças similares. Ele constatou também que grupos que compartilham visões assemelhadas e são avessos à controvérsia funcionam como câmaras de eco que reforçam tais visões, disseminando posições extremadas.

No poder, Bolsonaro tratou de desacreditar as instituições democráticas, especialmente as que se opunham a suas investidas autoritárias, como o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral.

Sob seus auspícios, o "gabinete do ódio" instalado na Presidência estimulou uma complexa teia de empreendedores da polarização —influenciadores digitais, radialistas, pastores, ativistas de extrema direita, financiadores— dedicados à desinformação e dotados de capacidade de mobilização coordenada graças ao uso eficaz das redes sociais. A violência incontida e o potencial destrutivo da extrema direita revelaram-se nas horas em que a Esplanada dos Ministérios esteve em suas garras.

Mas também as suas limitações ficaram claras. Pesquisa do Instituto Quaest, já no domingo da vergonha, mostrou que a ação dos vândalos foi rejeitada por 90% dos brasileiros, o que inclui por definição uma parcela dos que votaram em Bolsonaro.

Da mesma forma, a resposta serena e civilizada do novo governo, a firmeza da Suprema Corte, as manifestações das lideranças do Congresso, dos 27 governadores, de entidades de classe, de organizações da sociedade civil e, enfim, dos que protestaram nas ruas contra o terrorismo venceram a desordem destinada a parir um golpe militar. Foi a derrota da barbárie que Jair Bolsonaro encarnou a cada dia de seu mandato —até o último.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste artigo dizia que a ação dos vândalos em Brasília "foi rejeitada por 90% dos brasileiros, o que incluiu por definição uma parcela dos que ajudaram a reeleger Bolsonaro". O correto é "uma parcela dos que votaram em Bolsonaro".

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