Fica difícil melhorar o consumo quando os preços são internacionalizados, mas salários e empregos seguem padrões bem brasileiros. Além disso, o desemprego continua elevadíssimo e a renda das famílias não se recupera.
Fazer as compras do mês, com esta combinação macabra, é um desafio para os mais pobres e até para a classe média.
É muito interessante quando lemos que os preços dos combustíveis estão abaixo do mercado internacional, que o litro da gasolina teria defasagem de 12%, e o do diesel, 7%, segundo a Abicom (Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis).
Mas eu pergunto, sem ser economista nem especialista em finanças: por que os salários e o nível de emprego no país não acompanham o tal mercado internacional? Desde janeiro deste ano, os preços da gasolina aumentaram 46%, e os do diesel, 40%. O gás de cozinha, em algumas regiões, custa mais de R$ 100.
Como são insumos básicos da economia, o sinal amarelo da inflação ameaça mudar para vermelho. Isso sem contar que a maior seca em 91 anos e a barbeiragem na gestão pública levaram a um tarifaço nas contas de luz, que deve ser insuficiente para evitar o racionamento de energia, talvez até um apagão.
Ainda com relação aos preços com referência internacional, produtos da cesta básica, como arroz, óleo de soja e carne bovina, são proibitivos para milhões de pessoas, pois sobem pela cotação em dólar.
O esperado seriam medidas urgentes para melhorar o poder aquisitivo da população, a fim de que pudesse consumir mais e melhor. E, dessa forma, fazer as rodas da economia girar. Pois o mesmo ministro Paulo Guedes que teve "brilhantes" ideias recentes —como taxar os livros e estender o prazo de validade dos alimentos—, agora quer fazer uma derrama fiscal na classe média.
Sim, a proposta dele não é reajustar toda a tabela do IR (Imposto de Renda), que acumula defasagem de 113% de 1996 até hoje. Para subir a faixa de isenção do IR de R$ 1,9 mil para perto de R$ 2,5 mil no ano que vem, o ministro propôs o fim do desconto de 20% para milhões que fazem a declaração simplificada.
Isso significaria, de acordo com matéria desta Folha, que um trabalhador com salário bruto de R$ 4.500 teria de pagar em torno de R$ 1 mil a mais de IR do que hoje. Alguma dúvida de que o consumo não reagirá com esta "nova e iluminada" proposta?
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