Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge
Descrição de chapéu Eleições 2018

Brasileiro não sabe votar?

A questão é o oportunismo de se enfiar na vida pública por interesses que não sejam o da população

Alguém surpreso mesmo com o resultado das eleições? Desde a votação do impeachment, acho que ficou claro o tipo de gente que estamos acostumados a eleger para nos governar. Palhaço, príncipe, ex-ator pornô, PM heroína. Nenhuma novidade. O casting continua pior do que o de programa de calouros. Os deputados mais votados em São Paulo dariam uma boa temporada de “A Fazenda” (o reality mais trash da TV brasileira), como sugeriram nas redes sociais.

Mas é um tanto arrogante achar que o povo não sabe votar. Pelé já dizia isso nos anos 1970, dando aquela forcinha para a ditadura, que achava mesmo que o povo não precisava votar. Não é nordestino quem não sabe votar. Não é o paulista. Ou o catarinense. Ou o paraense. Não é que brasileiro não saiba votar. Brasileiro vota como pode, com a pouca cultura que tem, com a pobreza da educação, com a falta de informação, com desprezo pelo processo, vota com o fígado, como pirraça, como ameaça ou como vingança.

Eleitores durante votação no 1º Turno das Eleições, em Brasília (DF) - Pedro Ladeira/Folhapress

Democracia é uma delícia, mas tem certos custos, disse Ciro Gomes, ao ironizar a participação do Cabo "Sensação" Daciolo nos debates dos candidatos à presidência. Daciolo não deveria ser levado a sério, mas foi o sexto mais votado, à frente de Meirelles, de Marina e de Álvaro Dias. Todo mundo acha engraçado, eu também, mas vamos todos chorar no dia em que ele for eleito prefeito ou governador do Rio. Hoje, meme, amanhã, presidente. Estamos vivendo essa história.

Votar em Tiririca como forma de protesto uma vez é parte do jogo, eleger um palhaço, desinteressado pelo cargo que já ocupou, como deputado para o terceiro mandato é o quê? O problema não é ser palhaço ou ator pornô, a questão é o oportunismo de se enfiar na vida pública por vaidade ou por interesses que não sejam o da população. É não entender lhufas de legislação, de direitos, de democracia. Ainda assim é o que o povo quer.

Democracia é uma delícia, mas tem certos custos. Estamos pagando o preço de uma democracia ainda muito jovem e desvalorizada. O descaso é parte desse ônus. Parte da população não se “ilude” com a maioria dos “políticos” que está aí, apenas não se importa, não entende ou não tem esperança. E isso tem seus custos.

O povo não sabe votar por que alguns de nós não consideram legítimas as escolhas da maioria? Quem somos nós na fila do pão? A legitimidade dos resultados, por piores que sejam, vem das urnas. E, por mais que tenha falhas, a democracia é mesmo uma delícia, o melhor e único caminho.

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