Mario Sergio Conti

Jornalista, é autor de "Notícias do Planalto".

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Bolsonaro e sua matilha querem estraçalhar Brasil babando ódio infernal

Imagens da política, tendo em vista crise da democracia, apontam para um futuro de apocalipse ou apocatástase

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Imaginar é criar imagens. A imaginação é alimentada pelo que aconteceu com a coletividade no passado e no presente. Ela nasce também de sonhos, pesadelos e fantasias individuais.

Ao mesclar ontem e hoje, o objetivo e o subjetivo, imagens são úteis para antever o que vem aí. Levam uma pessoa ou um povo a se prepararem para o futuro imaginado —seja para concretizá-lo a ferro e fogo, seja para inviabilizá-lo desde já. Imaginemos, pois.

A posse do próximo presidente está marcada para 1º de janeiro, mês de sol festivo. Pelas imagens do presente, Bolsonaro perderá a eleição. Dá para imaginá-lo tranquilão e sorridente, passando a faixa presidencial para o sucessor? Não dá.

Ilustração que representa a faixa da Presidência do Brasil, verde e amarela, sendo cortada por uma tesoura, que contém um pingente com o a suástica nazista
Ilustração publicada em 1° de abril - Bruna Barros

Poderia repetir Figueiredo, que escapou de rabo entre as pernas pela porta dos fundos do Planalto e não passou o poder para Sarney. Também é duro imaginar. Perto do Bolsonaro boçal e brutal, Figueiredo era um banana. E no que é decisivo, o general não tinha apoio. O capitão tem.

Por ter base, Bolsonaro imagina um desenlace diverso do de outro janeiro, o do ano passado, quando os Estados Unidos tiveram seu dia de republiqueta. Insuflado por Trump, que gritava que a eleição lhe tinha sido roubada, um rebotalho lúmpen tomou de assalto o Capitólio.

O golpe não prosperou porque os militares ficaram nos quartéis e não houve adesão popular. Atordoadas, as instituições americanas saíram da letargia e deram posse a Biden. Aqui a situação é outra.

Bolsonaro se escora na corja pró-ditadura que chefia as Forças Armadas. Nos milicianos a quem franqueou toneladas de armas. Em PMs aos quais garante bônus salariais e leis que acobertam assassinos.

Na chusma fascista que lhe lambe os cascos quando relincha. E tem mais, infelizmente.

Os caciques do Congresso são seus capachos. O Judiciário está infiltrado por fanáticos. De Jorge Paulo Lemann a Abílio Diniz e André Esteves, oligarcas o cacifam. Pastores embolsam barras de ouro para enaltecê-lo. Canais de TV vendidos trombeteiam sua peçonha.

Bolsonaro levará a extremos infernais aquilo que faz dia sim e outro também: provocará, xingará, babará de ódio, atiçará seus vassalos a virar a mesa. Imagina tiros, terrorismo e tumulto até que, fardada e armada, sua matilha estraçalhe. Quer ruptura, apocalipse.

Como barrá-lo? As imagens que vêm de 1964 são lúgubres, apesar de Goulart estar à testa do Estado. O "dispositivo militar" do Planalto era miragem. Maior partido da esquerda, o PCB fomentou ilusões e debandou. A UNE foi incendiada e a pelegada se escafedeu.

A ditadura foi chancelada pelo parlamento, pela elite, pelas igrejas e pela Casa Branca. Ulysses Guimarães aplaudiu o golpe e Paulo Evaristo Arns, então padre, benzeu as tropas que iam ao Rio defenestrar Jango.

Há apenas duas forças para impedir que as imagens de Bolsonaro virem realidade – a das instituições e a popular. Como o Congresso está de saída, a ascendência institucional ficou com o Supremo, cuja imagem foi emporcalhada na eleição anterior.

Foi quando o chefão do Exército, general Villas Bôas, tuitou uma ordem para o STF negar o habeas corpus que permitiria a Lula concorrer ao Planalto. Os juízes poderiam ter dito que não aceitavam o ultimato. Poderiam se abster. Mas a maioria preferiu acatar o diktat do brutamonte.

Eis os juízes de coluna vertebral molenga, que se vergaram e preferiram Lúcifer a Lula: Barroso, Carmen, Fachin, Fux, Moraes e Weber. A eles se somaram depois Mendonça e Nunes Marques, bolsonaristas de sacristia, incenso e água benta. Não é prudente ter fé no Supremo.

No âmbito popular, a apatia dá o tom. Partidos, sindicatos, estudantes, sociedade civil, a nação e o povo não estão empenhados em evitar que Bolsonaro imponha o fim da democracia, o apocalipse.

Imagem milenar, o apocalipse conta com a energia da inércia. Mas antes de triunfar, no Sínodo de Constantinopla, ele teve de vencer a ideia de apocatástase: a restauração do tempo onde não havia nem bons nem maus, nem céu nem inferno, nem anjos nem demônios —tudo era um troço só.

É a volta ao passado, a conciliação de todos com todos, a apocatástase, que Lula busca. Com Bolsonaro, contudo, toda conciliação é inviável, apesar de ela ser a viga-mestra do lero-lero nacional.

Bolsonaro é o Mal. Tem de ser enfrentado em fábricas, escritórios, escolas, praças e igrejas. Na imprensa, na arte e na TV. Na vida real e nas imagens. Só sairá do Planalto pela força do voto. Pela ação de homens e mulheres que se organizem para escorraçá-lo.

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