Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Mais viva do que nunca

O papel da televisão na disputa eleitoral em 2018 não deveria ser diminuído

Último debate dos candidatos à Presidência antes do primeiro turno; Bolsonaro não participou - Eduardo Anizelli/ Folhapress

Entre as muitas considerações sobre os resultados do primeiro turno das eleições, uma recorrente é a que decretou o fracasso ou mesmo o fim da televisão como ferramenta capaz de influenciar os humores do eleitor.

Essas avaliações se justificam pelo fato de Jair Bolsonaro ter chegado aonde chegou com somente oito segundos de tempo na propaganda eleitoral obrigatória e participação em apenas dois dos sete debates realizados. E de Alckmin terminar a eleição com menos de 5% dos votos a despeito de ter ocupado quase 50% do horário disponível para todos os 13 candidatos.

"As notícias sobre a minha morte são exageradas", diria Mark Twain (1835-1910) sobre essas análises, na minha visão, precipitadas. Cito quatro exemplos que mostram, de forma nítida, a importância da televisão na atual campanha:

1. O anúncio, exibido em uma propaganda com forte apelo emocional no dia 11 de setembro, que Haddad iria ser o substituto de Lula na chapa do PT, foi decisivo para o início da transferência de votos de um para o outro. Haddad tinha 9 pontos na pesquisa Datafolha divulgada um dia antes da troca de candidatos. No dia 14, saltou para 13 e no dia 20 já estava com 16 pontos.

2. A decisão da Record de exibir de uma entrevista com Bolsonaro no exato instante em que a Globo dava início ao último debate com os candidatos, na quinta (4), relembra que o desejo das emissoras de influenciar no processo eleitoral nunca deve ser negligenciado. No ar por 27 minutos, a entrevista registrou média de audiência em São Paulo de 13,6 pontos, ante uma média de 22 pontos do debate (cada ponto equivale a 201.061 indivíduos).

3. Uma propaganda negativa veiculada pela campanha de João Doria (PSDB) sobre Márcio França (PSB) em São Paulo é considerada uma das responsáveis pela arrancada na reta final que levou o atual governador ao segundo turno. A peça usava imagens de França antes e depois de uma cirurgia bariátrica para sugerir que ele estaria escondendo quem é de verdade. "Quando comecei a subir na pesquisa? Quando Doria fez uma gracinha brincando com meu peso", disse o candidato em entrevista ao UOL.

4. A estratégia de Cabo Daciolo (Patriota) relembrou a do candidato Enéas Carneiro, que terminou em terceiro lugar na eleição de 1994 dispondo de 77 segundos de TV e um bordão inesquecível ("Meu nome é Enéas"). Com seus escassos oito segundos, Daciolo fixou o bordão "Glória a Deus" dito com forte sotaque carioca. E provocou risos com um misto de excesso de sinceridade e comentários nonsense nos debates. Sem culpa pela desidratação de alguns rivais de peso na reta final, terminou em sexto lugar, à frente de Meirelles, Marina e Alvaro Dias.

A propaganda eleitoral no segundo turno, iniciada nesta sexta-feira (12), terá duração de 15 dias. Bolsonaro e Haddad terão direito a dez minutos diários, em dois programas de cinco minutos.

No caso do petista não é uma mudança drástica (ele tinha 2min23s por programa no primeiro turno). Mas o efeito que a ampliação dessa exposição —de oito segundos para cinco minutos terá sobre o candidato do PSL é uma incógnita.

Os adversários de Bolsonaro sonham que o impacto seja negativo, que o eleitor, ao conhecer melhor o candidato, se distancie dele. O capitão reformado e sua equipe, ao contrário, talvez imaginem que esse tempo na TV possa ser o que falta para liquidar a eleição.

E restam ainda os debates. A ansiedade que tem gerado a dúvida sobre a participação de Bolsonaro apenas reforça a importância que esse tipo de evento pode ter.

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