Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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A televisão pós-pandemia

Soluções engenhosas têm surgido, mas a crise econômica é uma ameaça

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Ainda é cedo para avaliar com precisão o impacto da pandemia de coronavírus sobre a televisão. É verdade que as primeiras reações das emissoras abertas apontam alguns caminhos, mas as incertezas quanto ao futuro são grandes.

Primeiro canal a reagir à transmissão do vírus, com a suspensão de todas as suas novelas e de vários programas de entretenimento, a Globo festejou um resultado de audiência inédito, em São Paulo –teve o seu melhor mês de março desde 2008, há 12 anos.

Gênero de primeira necessidade, o jornalismo está carregando a emissora nas costas neste momento. São 11 horas seguidas de programas jornalísticos ao vivo pela manhã, além dos noticiários noturnos.

Mas, com tanta gente em casa, o número de aparelhos ligados cresceu significativamente, o que causa impacto até sobre as reprises de novelas. Algumas têm registrado audiência igual ou superior às tramas inéditas, cujas produções estão suspensas.

A Record também ampliou a sua cobertura jornalística, com um novo programa sobre a crise de saúde à noite, mas segue, em matéria de audiência, atrás do SBT. A emissora de Silvio Santos não alterou em nada a sua programação popular e, à medida que as atrações inéditas se esgotam, vai pondo reprises no ar.

O crescimento de audiência, ou ao menos a manutenção dos índices nos patamares pré-pandemia, é uma boa notícia, mas esconde um problema sobre o qual tem se falado pouco: a queda na publicidade.

A redução no consumo e a diminuição da atividade econômica têm impacto direto sobre este mercado.

A previsão dos economistas de uma recessão em 2020 é a má notícia que terá de ser absorvida no momento em que as coisas começarem a voltar ao normal. Além das médias de audiência, que devem cair um pouco, tudo indica que as emissoras de TV irão se ver com menos capacidade de investir.

A situação econômica, certamente, terá efeito também sobre o mercado de TV por assinatura, que está em retração desde 2015. Os canais de notícias estão indo muito bem em matéria de audiência atualmente e são um ótimo chamariz, mas nada indica que a curva no número de assinantes vai mudar de direção.

E não se deve descartar, ainda, um efeito negativo sobre os serviços de streaming. Ainda que mais baratos que os pacotes de TV paga, estão longe de serem serviços essenciais num momento de crise.

Em alguns casos, de fato, menos pode ser mais. O jornalismo na TV tem mostrado isso, ao readaptar, de forma bem-sucedida, em alguns casos, a produção de conteúdo, com entrevistas e debates à distância. Profissionais experientes, forçados a trabalhar em casa neste período, vêm produzindo material de qualidade nos principais canais.

Mesmo no entretenimento estão sendo feitos alguns esforços que merecem registro.

Eliana, no SBT, propôs um programa de auditório sem auditório. Mesclando atrações gravadas previamente com entrevistas no estúdio, a apresentadora conseguiu manter a peteca no ar e a audiência em bons patamares.

Também sem plateia, diante apenas da mãe, da mulher e do irmão, o colunista da Folha Gregorio Duvivier tem apresentado o seu "Greg News", na HBO, a partir de um estúdio caseiro. As observações irônicas de Duvivier produzem um efeito ainda mais forte sem as risadas ao fundo do auditório. O ótimo resultado poderia inspirar outros talk shows.

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