Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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'Um Lugar ao Sol' e 'Maria do Bairro' mostram Globo entre o ousado e o vulgar

Emissora dá sinais de demanda por tramas mais simples ao celebrar os 70 anos da estreia de sua primeira novela

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O próximo 21 de dezembro marca os 70 anos da estreia de "Sua Vida me Pertence", novela de 15 capítulos escrita e dirigida por Walter Forster, protagonizada por ele e Vida Alves e exibida pela Tupi de forma espaçada até o dia 8 de fevereiro de 1952.

Adaptada do rádio, a novela se tornou —e ainda é— um dos esteios da programação da televisão aberta no país. Mais de uma dezena de canais, muitos que não existem mais, como a própria Tupi, Excelsior, Rio e Manchete, investiram no gênero.

O site Teledramaturgia, que cataloga todas as produções de novelas diárias, a partir da pioneira "2-5499 Ocupado", de 1963, contabiliza cerca de 700 produções. Segundo o pesquisador Nilson Xavier, não há
registros confiáveis sobre as centenas de folhetins não diários produzidos entre 1951 e 1963. Ele estima que o total de novelas produzidas no país nestes 70 anos supere mil.

"Beto Rockfeller", lançada pela Tupi em 1968, é consensualmente considerada a novela que "abrasileirou" o melodrama. Ainda que tenham ocorrido tentativas anteriores, é a história de Bráulio Pedroso, dirigida por Lima Duarte e Walter Avancini, que confirma o caminho percorrido até hoje: tramas contemporâneas, linguagem coloquial, interpretação natural.

O ator Luís Gustavo e o dramaturgo Plínio Marcos conversam durante as gravações de "Beto Rockfeller", telenovela da Rede Tupi - Acervo UH/Folhapress

Uma marca indelével do gênero foi abalada, em 2021, pela pandemia de coronavírus. Por questões de segurança sanitária, a Globo decidiu gravar quase inteiramente duas novelas antes de levá-las ao ar, em vez de ir produzindo na medida em que os capítulos são exibidos.

"Nos Tempos do Imperador" e "Um Lugar ao Sol" não têm o status de "obras abertas", sujeitas modificações motivadas pelas manifestações da audiência ou por pesquisas. São produções fechadas, como séries. Ainda assim, a Globo gravou diferentes finais para certos personagens das duas tramas, ficando com o poder de tomar algumas decisões de acordo com os humores do público.

Além dessa novidade, "Um Lugar ao Sol" foi produzida com apenas 107 capítulos, para exibição ao longo 18 semanas, muito menos que o habitual. As últimas 16 novelas da faixa das 21h tiveram entre 143 e 221 capítulos.

Apesar desses percalços, ou por causa deles, a história de Lícia Manzo mostra a vitalidade do gênero. A novela tem conseguido a proeza de, mesmo abraçando muitos clichês do melodrama, apresentar personagens com múltiplas camadas, discutir temas relevantes e propor ao espectador um texto de rara qualidade.

Não há, evidentemente, em "Um Lugar ao Sol", a tentativa de subverter o gênero, mas a novela está indo além do óbvio e chega a ser sofisticada com algumas provocações ao público em matéria de comportamento, moral e, também, sobre o abismo entre classes sociais que existe no país.

O longo processo de produção e o enxugamento do texto permitiram que a história fosse sendo lapidada de maneira a alcançar um ritmo alucinante, com "viradas" mirabolantes e "ganchos" diários. A qualidade do elenco, escolhido a dedo, também reforça o prazer de assistir.

Por outro lado, os números de audiência decepcionantes, até o momento, podem reforçar o ponto de vista dos que defendem a vulgarização do gênero. Será uma pena se isso ocorrer.

Um sinal de que há uma demanda forte por novelas simples é o atual investimento do Globoplay em novelas mexicanas. As antiquadas "Maria do Bairro", "Marimar", "Rubi" e "A Usurpadora", entre outras que fizeram sucesso no SBT, são recentes aquisições da moderna plataforma de streaming e tem sido promovidas com alarde na Globo.

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