Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu universidade

Reitores bolsonaristas dizem que não são acolhidos e deixam entidade de dirigentes

Ao menos dois signatários já apoiaram o presidente publicamente, enquanto um terceiro teve sua indicação ao cargo anunciada pelo deputado bolsonarista Bibo Nunes

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Cinco reitores de universidades federais desembarcaram da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) afirmando que a entidade é hostil ao governo Jair Bolsonaro.

Ao menos dois deles já apoiaram o presidente publicamente, enquanto um terceiro teve sua indicação ao cargo de reitor anunciada com antecedência pelo deputado bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS).

Nenhum dos signatários da iniciativa ocupava o primeiro lugar na lista tríplice quando indicado para o cargo.

Como publicado pela Folha, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já nomeou 19 reitores de universidades federais que não foram os mais votados nas eleições internas das intituições, rompendo uma tradição que vigorava desde o final dos anos 1990.

Solicitaram desligamento da Andifes os reitores José Cândido Lustosa Bittencourt de Albuquerque, da UFC (Universidade Federal do Ceará), Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira, da Ufersa (Universidade Federal Rural do Semi-Árido), Edson da Costa Bortoni, da Unifei (Universidade Federal de Itajubá), Janir Alves Soares, da UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri), e Carlos André Bulhões Mendes, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

A reitora da Ufersa, Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira, posa ao lado do presidente Jair Bolsonaro. "É Deus que está no comando!", escreveu a reitora na legenda - @ludimillacsoliveira no Instagram

Em carta endereça ao presidente da entidade, Edward Madureira, os cinco reitores afirmam que tentaram se aproximar da associação de dirigentes desde que assumiram seus postos, mas que as investidas não foram correspondidas.

"As tentativas, registre-se com pesar, jamais foram frutíferas, já que nunca nos sentimos aceitos e acolhidos, quer pelo fato de que não fomos os 'primeiros da lista tríplice', como também por não nos portarmos, publicamente, hostis ao atual Governo Federal", afirmam na carta.

Eles ainda acusam Madureira de guardar "o lugar dos reitores eleitos e não empossados" na entidade e dizem que têm sido tratados com hostilidade por seus pares.

"Desejando que os objetivos da Andifes voltem, em breve, a circular em torno dos interesses das universidades, independente da conformação ideológica dos reitores, manifestamos aqui, e por este documento, o nosso desligamento dos quadros da instituição, reiterando o nosso propósito de contribuir, sempre, com os destinos das nossas universidades", finalizam.

A reitora da Ufersa, Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira, publicou em maio deste ano uma foto com Jair Bolsonaro. "É Deus que está no comando!", escreveu na legenda. Em outra foto tirada na mesma ocasião, ela aparece ao lado do presidente, do ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro, e do reitor da UFC, José Cândido Lustosa Bittencourt de Albuquerque, que também se desligou da Andifes.

De acordo com o portal O Povo, o reitor da UFC já defendeu Bolsonaro da acusação de que ele é o pior presidente da história do país, feita pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). "Pior que o Lularápio? Duvido! Lula reverteu todos os valores republicanos!", afirmou Cândido em postagem nas redes sociais, apagada posteriormente.

Desde 1968, a legislação determina que reitores de universidades federais sejam escolhidos pelo presidente da República dentre nomes indicados pelas próprias intituições. A partir de 1995, em lei sancionada por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), definiu-se que esses nomes constariam de uma lista tríplice.

Nas últimas duas décadas, prevaleceu o respeito à vontade majoritária das universidades federais. A última vez em que o 1º colocado havia sido desconsiderado foi em 1998, no governo FHC.

Bolsonaro, porém, fez da exceção uma prática recorrente. Desde o início de sua gestão, ele tem desconsiderado os primeiros colocados para privilegiar o alinhamento político dos reitores —inclusive com duas escolhas de dirigentes temporários, de fora da lista tríplice. O presidente e aliados consideram que as universidades federais são aparelhadas pela esquerda.

A quantidade de vezes em que Bolsonaro desconsiderou o mais votado e as motivações políticas e ideológicas por trás dessas escolhas têm levado docentes a apontar um ataque ao princípio constitucional da autonomia universitária.

Na UFRGS (Federal do Rio Grande do Sul), por exemplo, a escolha de Carlos Bulhões, o 3º colocado, foi anunciada com antecedência pelo deputado bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS), explicitando a interferência política.

A disposição do governo em interferir aparece também nos institutos federais, cuja legislação prevê o envio ao governo apenas do nome vencedor. Foram necessárias ações judiciais para superar intervenções em três instituições.

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