Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Folhajus

PM aponta arma para cantor negro em SP e pergunta aos gritos se carro que dirige é dele

Cantor lírico, Jean William foi abordado durante travessia na balsa de Santos; caso já chegou à Ouvidoria da polícia paulista

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O tenor Jean William, um homem negro de 36 anos, foi surpreendido nesta quinta-feira (27) ao ser abordado por policiais militares enquanto fazia a travessia de balsa entre Santos e Guarujá, no litoral paulista. O caso já chegou à Ouvidoria da polícia de São Paulo.

O tenor Jean William durante sessão de fotos na antiga gráfica da Folha, em São Paulo - Marcus Leoni - 29.mai.2017/Folhapress

O cantor lírico ocupava o banco do motorista de seu carro da marca Jeep, considerada de alto padrão, quando um policial apontou uma arma para o seu rosto e ordenou que ele descesse do automóvel, com as mãos erguidas. Não houve esclarecimentos sobre o motivo da abordagem.

"Que risco eu estava representando de dentro do meu carro, parado numa balsa, olhando pro mar, para que ele apontasse a arma daquela forma? Eu não entendo", afirma o cantor de música clássica.

O policial, que estava acompanhado de outro fardado, teria perguntado a William, aos gritos, se o automóvel era dele, se já tinha sido preso e se levava drogas. Em seguida, o interior do veículo foi revistado. "Eles mal tocaram no carro. Abriram o porta-malas e só viram duas cadeiras de praia", afirma o tenor.

Jean William chegou a ser questionado se "tinha feito alguma coisa diferente" enquanto transitava pela região e explicou que, minutos antes de embarcar na balsa, precisou desviar de um caminhão na estrada. Um dos PMs teria respondido que poderia ser esse "o motivo de ter vindo uma denúncia", segundo William.

"Além do medo, tem o constrangimento. Tinham vários carros na balsa, tinha gente filmando. Nos primeiros minutos eu fui tratado como um bandido", afirma.

"Não estou questionando o trabalho da polícia, mas a abordagem que eu sofri e o histórico [de outros casos semelhantes]. É uma humilhação. O fato de você ser quem você é não é suficiente para ter um carro daquele padrão, por causa da cor da sua pele", segue.

Após denunciar o caso nas redes sociais, Jean William foi procurado na noite desta quinta pelo ouvidor da polícia de São Paulo, Elizeu Soares Lopes, que pediu mais informações.

Questionada, a Polícia Militar afirma que não há registro de denúncia formal sobre o caso e que seus procedimentos operacionais de abordagem e fiscalização se baseiam em princípios legais e técnicos.

"A Corregedoria da instituição está à disposição da vítima para formalização da denúncia, junto à sede do Comando de Policiamento do Interior-6 (CPI-6), localizado na avenida Coronel Joaquim Montenegro, 282, bairro Aparecida, em Santos", diz a PM em nota.

Jean William afirma que essa foi a segunda vez em que passou por uma abordagem policial sem saber o motivo. A primeira, conta, ocorreu na cidade de Sertãozinho (SP), anos atrás, quando estava acompanhado do sua madrinha e também precisou descer de seu veículo para ser revistado.

"Por que um indivíduo preto não pode dirigir um carro bom?", questiona.

Apadrinhado pelo maestro João Carlos Martins no início de sua carreira, Jean William tem uma longa trajetória em palcos no exterior e já chegou a se apresentar para o papa Francisco.

Para o futuro próximo, ele prepara o retorno de sua turnê "Grandes Temas", interrompida por causa da pandemia da Covid-19. Seu último espetáculo ocorreu em março de 2020, em Belo Horizonte, e contou com a presença da cantora Fafá de Belém.

NOTA DE REPÚDIO

O Sesi-SP (Serviço Social da Indústria de São Paulo) emitiu nota em que repudia e lamenta a ação contra o tenor. Ele integra há 12 anos uma orquestra mantida pela instituição, a Bachiana Filarmônica Sesi-SP, que reúne jovens talentos e tem direção artística do maestro João Carlos Martins.

"O Sesi-SP recebeu com profunda indignação a notícia da abordagem policial a que foi submetido o cantor lírico Jean William, há 12 anos integrante da Bachiana Filarmônica Sesi-SP", diz a instituição sobre o fato.

"É lamentável que um servidor público cause o medo e o constrangimento sofridos por Jean William, um homem negro, que teve uma arma apontada para o seu rosto sem qualquer justificativa", segue a nota.

"O Sesi-SP repudia veementemente atitudes de cunho racista contra qualquer pessoa e espera que a Ouvidoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo investigue este caso e tome as providências cabíveis."

MULHERES EM AÇÃO

A ex-prefeita Marta Suplicy recebeu a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, e outras convidadas mulheres para debater uma pauta feminina para as eleições de 2022, nesta sexta (28), em seu apartamento, em São Paulo. A presidenciável Simone Tebet (MDB-MS) e a líder do Movimento dos Sem-Teto do Centro, Carmen Silva, compareceram ao evento. A diretora do Instituto Marielle Franco, Anielle Franco, e a socióloga Maria Alice Setubal, a Neca, também estavam entre as convidadas ​

JOELMIR TAVARES (interino), com LÍGIA MESQUITA, BIANKA VIEIRA e MANOELLA SMITH

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