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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Eleições 2022

Senador aciona STF após Bolsonaro dizer que 'pintou um clima' com meninas

Randolfe Rodrigues afirma que caso é 'gravíssimo' e requer explicações do presidente

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O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma petição para que sejam investigados "prováveis crimes" cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) durante uma visita a adolescentes venezuelanas.

Em entrevista a um podcast, o mandatário afirmou que "pintou um clima" ao se referir ao encontro e insinuou que o local abrigava práticas de exploração sexual infantil.

O depoimento do presidente da República viralizou nas redes sociais e virou munição de adversários do presidente. No sábado (15), a expressão "Bolsonaro pedófilo" chegou a ser a mais usada no Twitter.

O presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira (14), durante entrevista para o podcast do canal Paparazzo Rubro-Negro
O presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira (14), durante entrevista para o podcast do canal Paparazzo Rubro-Negro - Reprodução

Randolfe Rodrigues afirma que Bolsonaro, enquanto presidente da República, deveria ter agido após ter tomado conhecimento do suposto crime. E pede que ele também seja investigado por eventual favorecimento da prática ilegal envolvendo crianças e adolescentes.

"A confissão do presidente Jair Bolsonaro pode ser enquadrada em diversos tipos penais, o que será mais bem compreendido nas necessárias investigações", diz o senador em petição ao Supremo.

"O presidente não parece ter acionado o Ministério Público, Federal ou Distrital, a Polícia, Federal ou Civil do Distrito Federal, ou o Conselho Tutelar ao ver adolescentes (e talvez crianças) em situação suspeita de prostituição infantil, podendo ter incorrido no crime de prevaricação, ou, ainda, considerada a sua posição de garante, em todos os crimes ali perpetrados por criminosos", afirma ainda o parlamentar.

"O caso é gravíssimo e necessita de explicações do presidente da República. Necessita que o presidente da República explique e responda o que quis dizer com 'pintou um clima'. Necessita o presidente da República responder, se se tratava de um caso de prostituição infanto-juvenil, por que, no exercício da Presidência, não tomou providências ou não denunciou para as autoridades competentes", diz Randolfe à coluna.

"Se não era isso, por que o presidente da República então mentiu? Não se trata de uma declaração à toa. Se trata de uma declaração grave, que necessita de explicações por parte do presidente", segue.

Jair Bolsonaro foi às redes sociais na madrugada deste domingo (16), em uma live iniciada logo após a meia-noite, para se justificar sobre o relato. O mandatário disse que "sempre combateu a pedofilia, sempre foi contra o regime venezuelano" e acusou o PT de recortar pedaços da entrevista para alterar o sentido de suas falas.

"O PT está tentando me desqualificar. Distorceu, como se eu fosse uma pessoa que entrasse naquela casa com outros interesses". Por dez minutos, Bolsonaro repetiu diversas vezes a frase "o PT extrapolou todos os limites" e se mostrou inconformado.

No trecho da entrevista que viralizou, o presidente detalhou um encontro que teve com meninas venezuelanas em São Sebastião, na periferia do Distrito Federal, em abril do ano passado.

"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado, numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, 'posso entrar na tua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, [num] sábado de manhã, se arrumando —todas venezuelanas", disse ele.

"E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora? E como chegou neste ponto? Escolhas erradas", afirmou na entrevista.

Quando realizou a visita a São Sebastião, Bolsonaro fez uma transmissão nas suas redes sociais e criticou as medidas sanitárias então adotadas pelos governos estaduais na pandemia da Covid-19.

Não houve referências, à época, sobre exploração sexual. No encontro transmitido pelo presidente, as cidadãs venezuelanas apresentaram pleitos como a regularização de documentos e a reabertura da fronteira terrestre.

Ao UOL, uma das mulheres visitadas por Bolsonaro rechaçou as insinuações de que o local abrigava práticas de exploração sexual infantil. De acordo com ela, naquele dia foi realizada uma ação social para refugiados. Sua filha e sua sobrinha estavam entre as adolescentes.

Como mostrou o Painel, a campanha de Jair Bolsonaro acionou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que seu adversário no segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seja proibido de utilizar o trecho do vídeo em que o presidente fala sobre o encontro.

A ação foi apresentada à corte antes mesmo da divulgação de vídeo produzido pela campanha de Lula.

"Você que é mãe, você que é pai: veja só o que Bolsonaro falou sobre meninas de 14 anos", diz o vídeo de 30 segundos. "Pintou um clima? Com uma garota de 14 anos? É esse homem que diz defender a família?", continua a propaganda petista.

Os advogados do presidente Jair Bolsonaro afirmam na ação que as declarações foram distorcidas e tiradas de contexto.

Ao utilizar a expressão "pintou um clima", dizem, Bolsonaro quis "sugerir, em linguagem clara e direta, voltada para o povo, que as meninas, lamentavelmente, devido à penúria financeira de que são vítimas, com reflexos de degradação sexual, estariam à procura de possíveis clientes".

A campanha do candidato à reeleição também recorreu ao pagamento de anúncios para tentar aplacar os efeitos negativos da fala do mandatário. Como mostrou o Painel, foram desembolsados cerca de R$ 166 mil para impulsionar três anúncios no Google que dizem que o presidente não é pedófilo.

Dois deles afirmam que "Bolsonaro NÃO é pedófilo" já no título. Há, ainda, a seguinte legenda: "Bolsonaro não é pedófilo. Não acredite nas mentiras inventadas para te enganar".

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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