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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Feliciano age de forma hostil e violenta e não assume atos como adulto, diz pastor Henrique Vieira

Deputado do PL, que também é pastor, se envolveu em bate-boca com a relatora da CPI do 8 de janeiro, Eliziane Gama; procurado, ele diz à coluna que colega do PSOL 'mente'

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O deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) classifica o bate-boca ocorrido na terça (22) entre a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e o Pastor Marco Feliciano (PL-SP), seu colega de Casa, como resultado da postura "hostil, provocativa e violenta" adotada pelo aliado de Jair Bolsonaro (PL) em seus embates.

Gama e Feliciano entraram em confronto durante uma reunião fechada da CPI do 8 de janeiro. De acordo com participantes, o pastor teria se exaltado a ponto de gritar e bater com as mãos sobre uma mesa ao se opor à possibilidade de a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) ter seus sigilos bancário, fiscal e telemático quebrados pela comissão. Feliciano nega que tenha dado início à discussão.

O deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) na Câmara dos Deputados, em Brasília - Pedro Ladeira - 25.mai.2023/Folhapress

Titular da CPI do 8 janeiro, Vieira era um dos parlamentares presentes na reunião. À coluna, ele afirma ter visto o embate como uma "gota d'água" em um copo que "já estava cheio". Segundo o deputado do PSOL, Feliciano tem lançado mão de uma linguagem pouco amistosa durante os trabalhos da CPI e, em muitas ocasiões, direcionado duras críticas a Gama, relatora da comissão.

"Acho muito incoerente, até do ponto de vista da fé, alguém se comportar, de forma sistêmica, de maneira tão hostil, provocativa, violenta e, nesse caso, misógina", afirma Henrique Vieira, que, assim como Feliciano, atua como pastor em uma denominação evangélica.

"Ele precisa ter mais consciência de que palavras de hostilidade produzem efeitos de violência. Acho que ele precisava reconhecer isso na caminhada dele", diz ainda o fundador da Igreja Batista do Caminho.

Após o episódio se tornar público, Feliciano afirmou, em publicação nas redes sociais, que Gama teria se exaltado após ver o requerimento contra Zambelli ser contestado por ele. "Ela ficou em pé, levantou a voz e apontou o dedo para mim! Questionei se fosse um homem fazendo aquilo. Aí ela se alterou ainda mais e partiu para covardia em atacar minha religião, que por acaso é a mesma dela", escreveu.

A senadora replicou, também por meio das redes sociais, e acusou o deputado de "tripudiar" depois de pedir perdão pelo ocorrido. "O diabo é o pai da mentira e a verdade liberta. Marco Feliciano, assuma seus atos e diga a todos que quem partiu para cima de uma mulher foi o senhor", escreveu a relatora da CPI.

Ao comentar o comportamento do colega, Vieira diz acreditar que Feliciano tem uma tendência "intencional e maliciosa" em se apresentar como vítima quando se vê confrontado.

"Quero deixar muito bem registrado: eu não defendo nenhuma hostilidade contra ele nem contra ninguém, mas é muito estranho ele não reconhecer, de forma adulta e íntegra, o peso daquilo que ele carrega e promove com a prática política dele", afirma o deputado do PSOL.

"Para mim, o Feliciano é expressão dessa relação equivocada e errada entre religião e política, quando a fé é projeto de poder e de domínio. Eu prefiro um caminho em que a fé é instrumento de serviço ao povo. Prefiro valorizar a diversidade, o diálogo inter-religioso e o Estado laico", acrescenta.

Procurado pela coluna, Marco Feliciano afirma que "dezenas de testemunhas" viram a senadora Eliziane Gama elevar o tom de voz e apontar o dedo em riste em sua direção, durante a reunião de terça-feira.

"Tudo porque pedi a ela que fosse justa com uma colega que tem mandato igual a nós! Ela se descontrolou. Gritou. Eu fiquei em pé e disse [que] se fosse um homem que fizesse aquilo, seria chamado de misógino ou até ser levado ao Conselho de Ética", diz ele à coluna.

Feliciano ainda contesta as afirmações de Henrique Vieira. "O pastor Henrique Vieira é uma incógnita para nós, os evangélicos no Parlamento. Ele apoia tudo o que somos contra. Ele é de um partido de extrema esquerda, e se mostra um mentiroso contumaz", afirma.

"Pastor Henrique mente. E é deselegante quando fala da minha fé. Mas a palavra já nos alertava, em Mateus 7: 15: 'Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores'", completa.

Vieira foi um dos que apoiaram a investigação da CPI contra Zambelli —nesta quarta-feira (23), após o embate travado por Gama e Feliciano, o presidente da CPI do 8 de janeiro, Arthur Maia (União Brasil-BA), decidiu colocar o requerimento de quebra do sigilo na pauta da próxima sessão do colegiado.

"Nós entendemos que ela está implicada na tentativa de golpe e, por isso, existe indício factual que justifique essa quebra. Ou seja, não se trata de excesso jurídico. Se trata de investigação séria", sustenta o deputado do PSOL.

Zambelli é considerada suspeita de atuar em uma trama que mirava o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e que resultou na invasão dos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e na inserção de documentos e falsos alvarás de soltura. A ofensiva, segundo a Polícia Federal (PF), teria sido realizada em parceria com o hacker Walter Delgatti Neto.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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