Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Me sentia muito mais seguro quando estava em campo, em mim eu sempre posso confiar', diz Ronaldo

Recebendo amigos, cantores, gamers e parceiros em sua casa, onde mora com a mulher, a modelo e empresária Celina Locks, Ronaldo participa do torneio de tênis Galácticos Open

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A tensão em relação a se Ronaldo daria ou não entrevista começou meses antes mesmo do pedido oficial ter sido feito. Renata Netto, diretora-executiva da RonaldoTV, o canal de YouTube do ex-jogador, com quem a reportagem estava em contato, disse que tudo dependia do resultado do Cruzeiro no Brasileirão.

O time de futebol de Belo Horizonte foi o primeiro a ter Ronaldo como jogador profissional, em 1993, ano em que conquistou a Copa do Brasil e o Campeonato Mineiro, e que o transformou em uma estrela. No ano seguinte, Ronaldo foi escalado para a Seleção Brasileira, aos 17 anos, na Copa do Mundo dos Estados Unidos.

Não entrou em campo, mas estava lá, junto com os tetracampeões Romário, Dunga, Cafu, Bebeto, Leonardo, Raí e Taffarel. E o zagueiro Ronaldão, do São Paulo, que fez com que o primeiro apelido de Ronaldo Nazário fosse Ronaldinho.

Jogando com a camisa nove da seleção, Ronaldo virou R9 para se diferenciar de outro Ronaldinho, o gaúcho, que começou a brilhar pouco depois. O apelido definitivo, Fenômeno, foi dado pela imprensa italiana, quando jogou na Internazionale, de 1997 a 2002.

Ronaldo durante amistoso beneficente em que jogou pela Inter de Milão, em Milão - Stefano Rellandini - 19.ago.2001/Reuters

Depois de 28 anos da estreia como jogador profissional no Cruzeiro, Ronaldo comprou o time, que, neste ano, corria o risco de ser rebaixado para a segunda divisão, a Série B do Campeonato Brasileiro, aquela em que a maioria das pessoas não presta atenção, que tem jogos entre times menos conhecidos tipo Guarani, Mirassol, Avaí, Criciúma, Ituano.

Além disso, os jogos não são transmitidos pela TV Globo, o valor da premiação é muito mais baixo, o de patrocínio também, e não tem o mesmo glamour. Ronaldo comprou a Raposa, apelido do Cruzeiro, em 2021, quando resolveu que era ele o homem que precisava tirar o clube de sua maior crise. Em abril deste ano, com uma gestão firme e decisões seguras, a Raposa voltou à primeira divisão, e estava de novo na elite do futebol brasileiro.

Mas o ano foi complexo, o Brasileirão foi difícil, voltou o suspense: o Cruzeiro poderia ser rebaixado mais uma vez. E até o final desta novela futebolística, sem chances de entrevista com Ronaldo. Mas eis que no último dia 27 de novembro, em Goiânia, o Cruzeiro venceu o Goiás por 1 X 0 e saiu da zona de risco. Salvou-se o time do Ronaldo e melhoraram consideravelmente as chances desta conversa.

"Eu me sentia muito mais seguro quando estava em campo do que agora, em que não faço parte do time. Em mim eu sempre posso confiar, mas futebol tem suas surpresas, é isso que faz o resultado ser tão emocionante", disse o ex-jogador, na última quinta-feira (14). "Esse é meu papel aqui na Terra, essa é a minha missão, acredito muito nisso."

A entrevista aconteceu, finalmente, mas não foi sem emoção.

O ex-jogador Ronaldo Fenômeno em sua casa, no bairro do Morumbi, em São Paulo, durante a realização do Galácticos Open - Teté Ribeiro/Folhapress

Era o primeiro dia da terceira edição do Galácticos Open, evento que Ronaldo e sua mulher, Celina Locks, criaram para arrecadar dinheiro de patrocinadores para a Fundação Fenômeno, que nasceu em 2010, mas funciona de verdade desde 2012. Quando Ronaldo e Celina começaram a namorar, nove anos atrás, a fundação já estava a pleno vapor.

Quando decidiram morar juntos, Celina virou embaixadora da ONG. Mas foi só há pouco mais de dois anos e meio que Ronaldo a convidou para ser presidente de honra da fundação. Hoje, Celina é quem toca de verdade o negócio, e foi dela a ideia de fazer o torneio de tênis na casa deles, uma propriedade enorme numa rua fechada no Morumbi.

É ela que explica o que, afinal, a Fundação Fenômenos faz com o dinheiro que arrecada com as marcas que apoiam o evento e o leilão de objetos doados por apoiadores. Entre eles há, por exemplo, um pedaço de grama do estádio de Yokohama, no Japão, onde o Brasil ganhou o pentacampeonato, em 2002, com dois gols de Ronaldo contra a Alemanha. Além disso, tem também experiências como viagens e encontros com amigos famosos do Ronaldo, no último dia do torneio.

"A gente ajuda projetos ligados ao esporte e à educação que já existem em comunidades, mas que muitas vezes não têm todo o dinheiro que precisam ou não sabem como atuar, como gerir recursos", diz Celina, sentada em uma poltrona de couro cinza em uma sala de estar ampla e toda decorada em tons de preto e branco.

O ex-jogador Ronaldo e sua mulher, a modelo e empresária Celina Locks - Miguel Deak/Futpress/Divulgação

O piso é de taco de madeira, e as outras poltronas que completam o ambiente são brancas com desenhos de zebras. Nas paredes, há fotos preto e branco emolduradas, além de um tríptico imenso na parede igualmente imensa, com portas que abrem para o quintal, onde ficam a piscina, a sauna, uma cozinha completa, um pub de madeira escura e a quadra de tênis.

É lá também que está a árvore de Natal, um pinheiro natural que vai quase até o teto, que deve ter mais de três metros de altura. A iluminação é toda indireta. Luz de abajur, para ser mais exata.

É tudo moderno e de bom gosto, contrastando com a construção estilo colonial da casa, com escadaria de mármore na entrada principal e colunas sustentando o segundo andar. A sala de jantar, que fica logo adiante, tem uma mesa preta retangular com dez lugares e cadeiras vermelhas. Um lustre que parece um móbile feito de abajures de cabeceira preto e bem exuberante compõe o ambiente.

Fiz fotos com o meu celular dessas partes da casa, que estavam à vista de quem circulava pelo evento. Mas uma hora fui abordada por uma das muitas pessoas vestidas com a camiseta azul-turquesa da Fundação Fenômeno, responsáveis pela organização do Galácticos Open, que me avisou que, por motivo de segurança, não seria permitido mostrar a privacidade do casal ou suas obras de arte.

Tinha chegado ao evento por volta de 13h30, horário que me foi indicado pelo assessor que cuida da comunicação das empresas de Ronaldo. Depois de quase cinco horas circulando pela área externa da casa de Ronaldo e Celina e assistindo a jogos de tênis não particularmente emocionantes, enquanto esperava alguma manifestação sobre se o pedido de entrevista ia ou não ser atendido, achei por bem checar se havia um ar de resposta do ex-jogador.

Ronaldo estava na minha frente. Os ex-jogadores Kaká e Juninho Paulista estavam jogando uma partida e ele, assistindo. Era só cutucar e fazer uma pergunta. Mas não é bem assim que funciona, disse o assessor, "tem que falar no momento certo, senão não rola". Ronaldo recebe centenas de pedidos de entrevistas todos os meses, se não tivesse alguém para filtrá-los, passaria tempo todo respondendo a essas demandas.

Quando cheguei lá, o sertanejo Marcos, da dupla com Belutti, disputava uma partida contra o pagodeiro Douglas Souza. Belucci venceu. Em seguida, o jogo mais disputado do dia, de Kaká contra Juninho Paulista, foi vencido por Juninho no tie break, ou seja, no desempate. O último jogo foi de Ronaldo contra um rapaz chamado Dandan Ractt, amigo de Ronald, seu filho mais velho, de 23 anos, e foi o mais curto dos três. Ronaldo venceu rapidamente.

A espera continuava. Eu já tinha conversado longamente com José Henrique Melo, adestrador dos quatro border collies de Ronaldo, Paçoca, Dorothy, Nina e Bella. Paçoca, a preferida, que dorme na cama com o ex-jogador, é mãe das outras três, todas fêmeas, porque "Ronaldo não gosta de machos". Ele vai três vezes por semana treinar as cachorras, que têm aulas de natação na piscina da casa.

José Henrique joga as bolinhas na água e instiga as cachorras a pular para pegar, então elas precisam nadar bem e rápido para sair da água sem perder a bolinha. Quando saem, ganham um petisco, que ele guarda no bolo. "O jeito certo de dar petisco para cachorro é deixar na palma da mão e mostrar a mão aberta, senão o cachorro, mesmo o mais manso do mundo, pode morder o dedo da pessoa", ensina.

Já tinha ouvido Ronaldo contar ao seu grande amigo, o gamer NinexT, que seu filho Ronald estava "treinando para caramba, já perdeu 25 quilos", além de conversas de participantes do evento que comparavam as classes executivas de diferentes companhias aéreas, já tinha tomado vários capuccinos no stand da Café Por Elas, uma empresa que vende apenas cafés de produtoras mulheres e emprega, como jovens aprendizes, meninas de 16 anos que vivem em abrigos. Assim, quando completam 18 anos e precisam deixar os abrigos, já têm alguma experiência de trabalho.

Quando Ronaldo entrou no jogo desisti da espera, chamei um táxi e fui embora. Na primeira esquina, meu telefone toca, é a diretora-executiva da RonaldoTV. "O Ronaldo fala com você desde que você também entreviste a Celina, que é quem toca a Fundação." Peço para o motorista dar meia volta e me deixar de novo no lugar de onde acabara de sair. Celina está filmando o jogo de Ronaldo, que parece bem fácil para o pentacampeão. Muito simpática, me convida para me sentar na sala de estar preta e branca, onde conversamos longamente.

Ela me conta da sua vida de modelo, da sua marca de produtos de beleza, do seu papel na Fundação Fenômenos, de como fazer o bem no Brasil é um processo ultra burocrático. Articulada e divertida, Celina não desvia de nenhum assunto, nem o inevitável para qualquer mulher na casa dos trinta anos: filhos. "Tenho essa vontade, sim, mas não tenho nenhuma pressa. Minha vida anda muito atarefada."

Celina é loira, alta e muito magra, e trabalha como modelo desde adolescente. "Tenho ascendência alemã, então é tudo mais comprido no meu corpo, as pernas um pouco mais longas, os pés, bem maior. Além disso meu metabolismo é muito rápido, o que favoreceu meu trabalho como modelo. Mas acho ótimo que a moda tenha mudado nos últimos anos e que agora tenha vários biotipos nas passarelas, nas campanhas."

Ela conheceu Ronaldo por meio de amigos comuns quase dez anos atrás. Ele logo se interessou, mas Celina não queria nada. "Jogador de futebol não dá, né? Mas ele sempre me corrigia: ‘Ex-jogador’."

Celina e Ronaldo se casaram numa igreja em Ibiza em setembro. Este é o quarto casamento do ex-jogador, mas o primeiro na igreja. "Eu sempre fui católico, mas nunca tinha casado na igreja. A Celina viu essa brecha e eu achei a ideia ótima", conta Ronaldo. "Fui atrás da documentação e foi o maior rolo, liguei para a minha mãe e ela disse que meu pai não queria que eu fosse batizado, descobri que nunca tinha sido batizado. Não podia me casar na igreja sem isso. Então tive que ser batizado depois de velho, o que foi muito legal também. Foi esse ano, na igreja São José, no Jardim Europa."

O casamento, em Ibiza, "em uma igreja pequenininha", conforme conta Celina, "foi muito bonito, estavam nossas duas famílias lá, nossos amigos mais próximos, foi bem romântico".

"Não foi muita gente", diz Ronaldo. "Trezentas pessoas, uma turma muito legal. Eu sei que parece um número grande, mas se você comparar com outros casamentos, é pouquíssima gente", explica ele. "Foi uma semana mágica, cinco dias de programação, a gente alternava um dia de festa e um dia de descanso. Eu não sou mais o mesmo, mas a gente fez arrepiar a cerimônia lá em Ibiza."

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado, a dupla sertaneja Marcos e Belutti é formada pelos cantores Leonardo Prado, conhecido como Marcos, e Bruno Belucci. Thomaz Bellucci é um ex-tenista e não integra o duo. O texto foi corrigido.

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