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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Eu não preciso atuar, esse cabelo e esses olhos fazem tudo sozinhos', diz Enrique Díaz sobre caracterização para 'Renascer'

Ator fala da experiência de viver um vilão marcante na primeira fase da novela, revisita seus 40 anos de carreira e anuncia seus próximos projetos

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Durante uma semana, boa parte do Brasil se apavorou com o repelente coronel Firmino, também conhecido como Pica-pau. O vilão era apenas citado na primeira fase da versão original de "Renascer", exibida pela Globo em 1993. Agora, no remake da trama, a emissora expandiu esta etapa inicial de quatro capítulos para 12, e Firmino finalmente ganhou um intérprete: Enrique Díaz.

O ator Enrique Diaz
O ator Enrique Díaz - Catarina Ribeiro/Divulgação

Com cabelos longos e olhar frio, Firmino se juntou à galeria de grandes personagens que o ator já encarnou na televisão. Só nos últimos anos, ele foi o Timbó de "Mar do Sertão", o Gil Marruá de "Pantanal" e o Durval de "Amor de Mãe", sempre na Globo. Sua próxima aparição no vídeo deve ser na minissérie de terror "Reencarne", com estreia prevista no Globoplay.

Enrique Díaz é o caçula de seis irmãos, filhos da tradutora brasileira Maria Cândida Rocha e do diplomata paraguaio Juan Díaz Bordenave, que se conheceram nos Estados Unidos. O pai trabalhava para a OEA (Organização dos Estados Americanos), e era transferido de país a cada três anos.

Assim, o casal teve o primeiro filho no Brasil, o segundo, no México (o também ator Chico Díaz), a terceira na Costa Rica, a quarta, no Brasil, e os dois últimos no Peru. Entre eles, Enrique, que tinha apenas dois anos de idade quando a família se instalou de vez no Rio de Janeiro.

"Eu sou brasileiro", garante ele. "Não tive esse trânsito todo pela América Latina que meus irmãos tiveram. O português foi a minha primeira língua. Talvez com uma certa sonoridade do espanhol por causa do meu pai, que falou portunhol a vida toda."

Muito por influência do irmão Chico, oito anos mais velho, Enrique seguiu a carreira de ator. Também contribuíram para esta decisão as aulas de Carlos Wilson Damião, que lecionava teatro no colégio carioca onde Enrique estudava.

Enrique está completando 40 anos de carreira. Já com várias peças no currículo, estreou na televisão na primeira versão de "Pantanal", exibida pela extinta TV Manchete em 1990. De lá para cá, foi acumulando papéis marcantes.

Para provocá-lo, pergunto como ele se tornou um "character actor" —literalmente, um ator de personagens, o que soa como um pleonasmo em português. O termo foi criado no showbiz americano para diferenciar as grandes estrelas do cinema, que interpretam variações de si mesmas em cada filme que fazem, dos atores que mergulham na composição meticulosa do personagem, praticamente se transformando em outra pessoa.

"A gente se aproxima muito dos materiais, e cada um deles tem uma particularidade. Você vai conviver por um tempo com aquele texto. E eu acho muito interessantes essas variações, sejam de estilo, de gênero, de característica do personagem, e do próprio meio. Do tipo de dramaturgia que o texto possibilita. É fascinante essa coisa das diferenças dos personagens em relação à forma, aos modos discursivos, ao imaginário, às referências familiares e psicológicas."

"Eu ainda não vi nada de ‘Renascer’. Nem revi as minhas partes durante as gravações [a entrevista foi feita por videoconferência na tarde do dia 22 de janeiro, e a novela estrearia naquela noite]. Tive muita ajuda da figurinista Marie Salles e do caracterizador Auri Mota. E também da direção, claro. O Gustavo Fernández [diretor artístico] puxou elementos do faroeste para algumas das minhas cenas, como os tempos da ação."

"Meu cabelo não era um aplique desses que você põe e tira. Era uma coisa tipo megahair. Eu tive que passar meses com ele. Também usei lentes de contato escuras. Um dia me olhei no espelho e pensei: eu não preciso fazer nada, esse cabelo e esses olhos fazem tudo sozinhos."

Firmino é um dos inimigos do protagonista Zé Inocêncio (Humberto Carrão) na primeira fase da novela. Mas, ao contrário do igualmente malvado coronel Belarmino (Antonio Calloni), ele não é um fazendeiro tradicional, nem tem uma profunda ligação com a terra. Está mais para um atravessador, um agiota, um parasita, que só está interessado no lucro fácil —o resto que se dane. Daí o apelido de Pica-pau, uma ave que abre grandes buracos nas árvores.

"As minhas gravações foram muito espaçadas. Duraram uns três, quatro meses, e só terminaram no final de dezembro do ano passado. Eu não tinha tanto material assim. Mas quero ressaltar a qualidade literária do texto. O Bruno Luperi [neto do autor do original, Benedito Ruy Barbosa, e que está escrevendo a nova versão] consegue uma coisa impressionante, que é o ator falar uma coisa querendo dizer outra. Os diálogos sempre têm várias camadas de intenções, e os atores entram numa espécie de dança verbal. Isto me agrada muito."

Essa imersão total nos personagens já fez com que Enrique ouvisse de fãs, e até mesmo do diretor Fernando Meirelles, com quem já trabalhou, um elogio definitivo: "Eu não consigo imaginar que aquela não seja uma pessoa real."

Pergunto se ele tem alguma preferência entre cinema, teatro e televisão, e Enrique responde que prefere os três. No palco, tem trabalhado mais como diretor do que como ator. Sua última direção foi a peça "O Espectador", com Marieta Severo, Renata Sorrah, Andréa Beltrão e Ana Baird, que esteve em cartaz no Rio em 2022. Na TV, a convite de Amora Mautner, fez parte da equipe de diretores das novelas "Joia Rara" (2013-2014) e "A Regra do Jogo" (2015-2016).

Enrique ganhou um prêmio Molière já pela segunda peça que dirigiu, concorrendo com pesos-pesados como Antunes Filho e Gabriel Villela. "A Bao a Qu (Um Lance de Dados)", montada em 1990, era uma criação coletiva da Companhia dos Atores, da qual ele foi um dos fundadores e onde permaneceu por 24 anos.

No cinema, Enrique Díaz acaba de rodar "O Auto da Compadecida 2", que tem estreia marcada para o dia 25 de dezembro deste ano. "Na época do primeiro filme, eu estava dirigindo uma montagem de "As Três Irmãs", do Tchekov, com um baita elenco. O [diretor] Guel Arraes me convidou e eu pensei, ‘ah, não, não vou largar os ensaios’. Mas acabei aceitando. Gravei minha participação em apenas cinco dias, e o filme, que no começo era uma série da Globo, acabou se tornando um acontecimento."

"Quando me chamaram para fazer o segundo, eu disse, ‘isto não é um convite, é uma convocação’. Foi lindo reencontrar o Matheus Nachtergaele e o Selton Mello atuando juntos novamente. E super divertido rever o Guel dirigindo daquele jeito dele. Ele sabe tudo o que quer."

Ainda hoje, há quem confunda Enrique com seu irmão Chico Díaz, que vive o padre Santo nas duas fases de "Renascer". "Outro dia eu publiquei uma foto ao lado do Chico numa rede social. Foi para desmentir o ‘boato’ de que nós somos a mesma pessoa, e que, por isto mesmo, ninguém nunca viu nós dois juntos", ri ele.

Os irmãos Chico Diaz e Enrique Diaz estão em Renascer como padre Santo e coronel Firmino
Os irmãos Chico e Enrique Díaz no lançamento da novela "Renascer", no Rio de Janeiro - Manoella Mello/Globo/Divulgação

Dias depois desta entrevista, foi anunciado o fim do casamento de 25 anos de Enrique Díaz com a também atriz Mariana Lima. O casal tem duas filhas, Elena, de 20 anos de idade, e Antonia, de 16, e já vivia em casas separadas há algum tempo.

Para encerrar nossa conversa, indago qual é o papel que ele ainda não fez, mas que gostaria de fazer. Enrique é taxativo: "Todos."

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