Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu toda mídia

O inverno antitruste não acabou nos EUA de Joe Biden

Sai do governo o maior defensor de medidas contra os monopólios de tecnologia, que se tornaram armas do país contra China, Rússia e outros

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Mal se noticiou, mas nesta semana foi embora da Casa Branca o maior arquiteto das ações antitruste contra Big Techs americanas, inclusive a divisão em pedaços de Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp) e Alphabet (Google, YouTube).

O taiwanês-americano Timothy Shiou-Ming Wu, que agora volta a dar aulas de direito na Universidade Columbia, em Nova York, se declarou "desapontado" ao sair, por não ter conseguido passar qualquer lei relativa ao setor de tecnologia.

No site Protocol, em março de 2021, a indicação deixa Big Techs 'nervosas' - Reprodução

Ele havia chegado a Washington depois de proclamar, na reta final da campanha em 2020, que "o inverno antitruste acabou". Foi chamado para reverter as ações dos próprios presidentes democratas anteriores, que não tinham combatido, mas estimulado os monopólios.

As plataformas de tecnologia carregavam então a marca de terem ajudado a eleger o republicano Donald Trump, quatro anos antes.

Wu foi recebido como um adversário delas ao assumir, 22 meses atrás —e cinco meses atrás já se anunciava que ele deixaria o cargo de assessor de tecnologia de Joe Biden.

Sua derrota aconteceu ao longo do primeiro semestre deste ano, quando o "lobby feroz" de Meta e Alphabet, entre outras gigantes do Vale do Silício, jogou os projetos de lei antitruste no limbo.

As empresas recorreram, para tanto, ao conflito na Ucrânia —quando "tomaram partido" na guerra de narrativas, desde o princípio. Em abril, um abaixo-assinado de ex-secretários de Defesa, ex-diretores da CIA e outros cobrou, de maneira explícita:

"Este é um momento crucial na história. Há uma batalha se formando entre autoritarismo e democracia. As plataformas dos Estados Unidos deram ao mundo a chance de ver a verdadeira história. [Os congressistas] não devem inadvertidamente prejudicar a capacidade das plataformas. Os EUA precisarão contar com o poder de seu setor de tecnologia para garantir que a segurança de seus cidadãos e a narrativa dos acontecimentos continuem sendo moldadas por fatos, não por adversários estrangeiros."

Essa carta da suposta Guerra Fria já era usada pelo lobby, havia meses, mas com a China como alvo. Argumentava-se então que a eventual redução do poder das gigantes americanas favoreceria concorrentes como Tencent ou Huawei, da China.

Também então apareceu um abaixo-assinado, com alguns dos mesmos nomes, afirmando que as medidas antitruste no Congresso deixariam as chinesas "em posição melhor para assumir proeminência global".

Seja como for, Tim Wu perdeu de novo. Foi ele quem cunhou há duas décadas a expressão "net neutrality", neutralidade da rede, usada em batalha anterior, contra o poder monopolista dos provedores de acesso. Como agora, os esforços no Congresso americano fracassaram.

BIDEN VS. MUSK

Com Tim Cook, da Apple, Mark Zuckerberg, da Meta, e outros devidamente alinhados, ainda se buscam inimigos do mundo livre no Vale do Silício, na Califórnia. Depois de perder o ímpeto inicial para combater outras Big Techs, Biden se voltou contra Elon Musk e a Tesla.

Em seu último Discurso sobre o Estado da União, ao falar sobre os investimentos em carros elétricos, destacou Ford e General Motors, nada de Tesla, a maior montadora de carros elétricos no mundo.

Chegou a convocar reunião para tratar de subsídios, na Casa Branca, com as mesmas e até a Stellantis, ex-Chrysler, mas nada de Tesla. Musk, que era pró-democrata e teria votado em Biden, agora é pró-republicano —e comprou o Twitter, onde tenta se defender.

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