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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Líder do centrão diz que Bolsonaro 'perdeu narrativa' na pandemia, mas descarta desembarque

Estaremos com o presidente agora e em 2022, afirma Ciro Nogueira (PP-PI)

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Um dos principais representantes do centrão, Ciro Nogueira (PP-PI) diz que o presidente da República perdeu a narrativa da vacina e, por isso, não está em um bom momento.

Apesar do quadro atual, ele afirma que não há desembarque. O país vive o pior momento da pandemia, depois de Jair Bolsonaro ter minimizado diversas vezes a doença, ter sido contra vacinas e ter questionado o uso de máscaras.

“Não vejo a menor perspectiva de não estarmos com ele. Vamos estar agora e em 2022”, afirma.

Ao Painel, o senador diz que, apesar dos gritos dos governadores, é Bolsonaro quem vai se beneficiar eleitoralmente da vacinação da população. O início da imunização no Brasil, em janeiro, se deu por articulações de João Doria (PSDB-SP).

“O presidente que vai ser avaliado é o do próximo ano, não é o de hoje”, declara.

Na entrevista, Nogueira afirma que continua radicalmente contra a abertura de uma CPI da Pandemia, apesar da pressão sobre Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e que pessoas com seriedade não discutem o impeachment de Bolsonaro.

Ele pede a mudança de postura de Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e que, se isso não acontecer, vai passar a defender a troca do ministro.

Leia a entrevista.

O centrão se desentendeu com Jair Bolsonaro?

De jeito nenhum. Não posso falar pelo centrão como todo, mas existe uma certeza na minha cabeça que vamos estar com ele agora e na eleição de 2022. Bolsonaro já teve momentos bons e ruins, sempre oscilando, mas a gente tem certeza que o Bolsonaro que vai disputar a eleição é o do próximo ano, não o de hoje. Não vejo a menor perspectiva de não estarmos com ele.

Em que momento o presidente está agora?

Não está num momento bom. Ele perdeu a narrativa da vacina. Ele vinha muito bem. Até porque, na minha opinião, nunca tivemos um governo que desse tanta assistência e suporte a governos, população, empresas, como o presidente agora. Sua narrativa da vacina, do isolamento social, da máscara, foi um erro, que acabou afetando sua imagem, com certeza.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) na posse do ministro Fabio Faria (Comunicações) no Palácio do Planalto - Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Como lidar com ele no momento ruim? Os conflitos continuam os mesmos.

A postura mudou bastante. Ele usa máscara, não está contra a vacina, vai se vacinar. Mas ele é uma pessoa polêmica. Não é um político tradicional. Sua popularidade é em grande parte por isso também. A gente quer que as coisas aconteçam nesse momento de muita dificuldade. Os próximos dias talvez sejam o pior momento da pandemia do país. Ele está em um processo de transição. Com a mudança do ministro, o ministro novo vai ter mais autonomia, o Bolsonaro não vai ficar mais dando opinião sobre tratamento. Isso é o que importa, mas ele sempre vai ser uma pessoa polêmica.

Ele falou sobre tomar medidas duras e que estão esticando a corda. Como avalia essas declarações?

É uma forma de pressionar, mas não vejo efetividade nenhuma quanto a isso. Eu sempre respeito, posso até discordar, de atitudes de governadores ou prefeitos. Mas a atribuição foi dada pela população que elegeu eles. Assim como com o presidente Bolsonaro. Não vejo como STF ou o Congresso irem contra as medidas assim. Não há perspectiva disso ser acolhido no Congresso ou no Supremo. Isso não vai ter efetividade nenhuma.

O sr não vê ameaça ao regime democrático nas falas?

Não vejo. Tudo que ele vai fazer está na democracia. Posso divergir, mas não vi ele dizendo que vai quebrar o estado democrático de direito. Não vejo ato dele que possa acalentar qualquer tipo de discussão golpista.

O Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, apoiava a médica Ludhmila Hajjar e não deu certo. Foi uma derrota do centrão?

Acho que não. Acho que existia uma expectativa antes do presidente conhecer a doutora Ludhmila, que é uma grande profissional. Mas quem escolhe o ministro é o presidente. Não vejo o menor problema. Temos que fortalecer o ministro que está entrando. Existe uma demora grande e isso é um erro do governo. Deveria ter tomado posse na semana passada, espero que isso se resolva amanhã (23).

O sr diz que não é esse o Bolsonaro que vai estar na eleição de 2022. O que isso significa?

Vejo que quem vai vacinar a população é o Bolsonaro. As pessoas vão lembrar quem foi que vacinou. Quem foi o governador que vacinou? Eles falam de vacina, mas não vejo ninguém comprando. Quem vai vacinar a população é o Bolsonaro. Quando tiver a retomada econômica, as pessoas vão reconhecer o trabalho desse governo. Quem elege o presidente da República é a economia. Então, se a economia estiver bem, o presidente vai ganhar a eleição com certa facilidade.

O Datafolha mostrou piora da rejeição de Bolsonaro. O sr acha que é só a questão da vacina?

É como eu falei, ele perdeu a narrativa da vacina. Mas como falei, o Bolsonaro do ano passado tava endeusado. Existe volatilidade. O presidente que vai ser avaliado é o do próximo ano, não é o de hoje. A gente tem que ter estabilidade, acreditar nesse projeto, como acreditamos, para que a gente possa reverter esse quadro de hoje, que pode melhorar no futuro.

O Datafolha também mostrou que governadores e Congresso estão melhor avaliados. Por que faz sentido atrelar a imagem a de alguém que está caindo nas pesquisas?

Estamos num momento de tanta gravidade que quanto menos a gente politizar essa questão, melhor. Seja o Judiciário, seja o Legislativo, seja prefeito, governador, a mídia como um todo. Momento é de união nacional, de todos. E deixar as disputas, os culpados, para um segundo momento. Por isso que sou radicalmente contra esse negócio de CPI. Momento é buscar solução, depois a gente vê quem é culpado.

Continua com essa mesma opinião, contra a abertura da CPI?

Não tenho dúvida. Com a morte do senador Major Olímpio, muita gente está defendendo CPI. Quer dizer que quando morre um senador a gente faz uma CPI, mas morreram 300 mil e a gente não fez CPI? A população não quer CPI. A população quer vacinação, proteção, solução. É isso que as pessoas querem. Depois, num segundo momento, se houver necessidade de estabelecer culpados, punir alguém, a gente vê. Seria um desserviço do tamanho do mundo fazer isso agora. Só iriam poucas pessoas utilizar como bandeira política e atrapalhar o país.

Alguns políticos experientes dizem que não há chance de romper com o governo por dois motivos: falta de alternativa, como tiveram com Michel Temer, e ausência do povo na rua. O sr concorda?

Até hoje que eu concordo que não tem alternativa. As pessoas não querem a volta do PT. Vejo expectativa nas pessoas de querer fortalecer as instituições para sair desse momento. Hoje não tem alternativa.

Então, é essa percepção, de que o vice-presidente atual não é uma alternativa, como foi Temer?

Zero. Nenhuma chance. As pessoas que têm seriedade no país não discutem isso. Imagina o país entrar agora num momento de instabilidade, de impeachment, seria o fim do mundo. Quem defende isso é um irresponsável. E não conheço uma pessoa no Congresso que defenda isso.

Qual a crítica que o sr tem ao ministro em 7 dias desde o anúncio da escolha?

A demora. Ele tinha que ter assumido no dia seguinte, tomando as atitudes, compondo sua equipe. A questão de oxigênio, de remédios, está delicada. Não é exatamente atribuição dele, mas ele pode ajudar a resolver essa situação.

Não ter sido indicação do centrão faz vocês terem menos paciência?

Não, de forma nenhuma. O ministro anterior também não era indicação nossa. O presidente não pediu nossa indicação, então, não tem por que o centrão ficar magoado. O presidente fez uma escolha e conta com nosso apoio.

O deputado Doutor Luizinho (PP-RJ) não foi indicado pelo centrão?

De jeito nenhum. Em minuto nenhum. É um grande quadro, ele faz a interlocução do Congresso e pode ajudar o ministério.

O centrão sempre busca cargos. Por que o centrão diz no discurso não estar interessado nesse cargo?

Não é questão de estar ou não interessado. A gente tem uma outra postura. Nesse atual governo, o presidente sempre deixou claro que não faria trocas como eram feitas no passado, de entregar ministérios de porteira fechada em troca de apoio. Estamos no mesmo projeto político, é isso que importa. Nesse momento, fazer uma indicação de ministro da Saúde, nem sei se é uma boa coisa agora. As chances das coisas não acontecerem como devem são muito grandes, então a gente tem que apoiar o presidente na escolha.

Depois de Eduardo Pazuello, muitos defendem a troca dos ministros do Itamaraty e da Educação. O sr concorda?

O da Educação, não vejo motivo para ficar nesse foco. Nas Relações Exteriores, eu não digo a mudança do ministro, mas a postura do ministério. É um ministério que poderia estar ajudando o país nesse momento de extrema dificuldade, essa questão das vacinas, insumos, e não ajudou em nada. Quem nomeia ministro é o presidente, mas o que me cabe é defender uma postura completamente diferente da que está acontecendo hoje.

E acredita que o ministro Ernesto pode mudar?

Espero que sim. Se não mudar, aí, sim, eu vou passar a defender, como senador, uma troca de ministro. Mas volto a dizer, é uma escolha do presidente.

Por que ainda acreditar na mudança do Bolsonaro?

Mudou muita coisa, veja o Bolsonaro de máscara ontem, não falou de [tipos de] tratamento. O que estamos aconselhando, está acontecendo. Mas ele não é o Temer, uma pessoa comedida. Que ele mudou, mudou.

Tem falado com ele?

Sim, bastante. Tenho dado minha opinião. Eu disse que ele não deveria mais dar a opinião sobre tratamento e que ele deixasse as coisas dessa área na mão do ministro, se isso ocorrer vai dar tranquilidade para sair desse momento.​

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