O deputado Raul Marcelo (PSOL-SP) exonerou o codeputado Jesus dos Santos (PDT-SP) da Assembleia Legislativa de São Paulo, levando a novo patamar a crise que atravessa o mandato coletivo. A decisão já foi publicada no Diário Oficial de São Paulo.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, deve se encontrar com Jesus durante a semana para decidir que medidas tomar a partir de agora.
Como mostrou o Painel, o grupo autointitulado "Mandata Ativista" tem vivido turbulência aguda desde que Mônica Seixas (PSOL) pediu licença do mandato no final de julho para tratar de sua saúde mental. Ela ficará afastada por 120 dias.
Mônica é a titular do gabinete, e os demais foram nomeados assessores, dado que não há regulamentação para candidaturas ou mandatos coletivos no país. Com a licença de Mônica, quem assumiu o gabinete foi o então suplente Raul Marcelo, do PSOL.
A chegada de Marcelo, que não tinha relação com os membros da Mandata, mudou o funcionamento do gabinete de algumas formas. Ele decidiu em um primeiro momento manter os codeputados e as codeputadas como assessores, mas exonerou parte da equipe do gabinete para trazer pessoas de sua confiança. Como alguns dos exonerados eram aliados dos codeputados, a decisão gerou incômodo.
Ele também pediu que o carro do gabinete não fosse utilizado e mudou a fechadura do gabinete. Marcelo disse ao Painel que pretendia ter mais controle do gabinete, dado que, se alguém cometesse alguma ilegalidade, ele poderia ficar inelegível em 2022.
Como mostrou a coluna, Jesus tentou entrar no gabinete e percebeu que a fechadura havia sido trocada e sua chave não funcionava mais.
Jesus diz ao Painel que, ao exonerá-lo, Marcelo falou em quebra de confiança por ter tratado publicamente dos problemas do mandato, em referência à reportagem do Painel sobre o tema. Ele chama a decisão de arbitrária.
Alguns dos codeputados têm uma visão crítica da participação do PSOL, que, segundo eles, não estaria respeitando o acordo feito entre partidos de distribuir igualitariamente o poder entre os membros do grupo.
"O mandato coletivo é uma inscrição política, nunca teve respaldo legal e sempre se baseou na palavra. Essa palavra não foi firmada nunca com o Raul, mas com o PSOL. Estamos falando de fio do bigode, e tem gente faltando com esse compromisso do fio do bigode", disse Raquel Marques, codeputada que é filiada à Rede.
Marcelo diz ao Painel que havia 28 multas de carro relacionadas a Jesus e que esse foi um dos motivos para encostar o carro do gabinete. Por não concordar com isso e com sua forma de trabalhar, o codeputado passou a expô-lo publicamente, afirma o psolista. E então ele decidiu exonerá-lo.
Em contato posterior, o gabinete do deputado disse que a equipe jurídica identificou, na verdade, 40 multas em nome de assistente de Jesus.
Sobre o arranjo entre partidos para compor o mandato coletivo, o deputado afirma que ele é prévio à sua gestão e ele não fez parte disso. Assim que Mônica retornar do afastamento, diz, a questão pode ser resolvida entre as legendas.
Jesus afirma que não tem carteira de habilitação e não dirige, e que as multas podem estar relacionadas ao motorista que trabalhava com ele, mas que o problema não tem qualquer relação com sua saída do mandato.
Ele também diz que há multas relacionadas a outros membros do mandato e que o gabinete perdeu o prazo para recorrer delas por falhas administrativas.
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