Em dois dias, Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, Eduardo, ofenderam duas das fatias do eleitorado nas quais o presidente mais sofre rejeição, mulheres e nordestinos.
Na quinta-feira (3), Bolsonaro se referiu aos nordestinos usando o termo depreciativo ‘pau de arara’. No dia seguinte, o filho publicou vídeo ridicularizando o trabalho de mulheres em obra do metrô de SP que ruiu.
O Datafolha de dezembro mostrou Bolsonaro com 17% de intenções de voto no Nordeste, contra 61% de Lula (PT). No eleitorado feminino, ele tem 20%, enquanto o petista marca 49%.
Bolsonaro foi apontado como o candidato em que não votariam de jeito nenhum por 61% das mulheres, o mais mal avaliado entre todas as opções. Na sequência aparecem Lula, com 32%, e João Doria, com 29%.
A estratégia suicida alarmou aliados e levou a apelos para que ele indique uma mulher para vice, como Tereza Cristina (Agricultura) ou Damares Alves (Direitos Humanos).
Nesta sexta, ele falou do tema com apoiadores.
"Segundo pesquisa, as mulheres não votam em mim, a maioria vota na esquerda. Agora, não sei, pesquisa a gente não acredita, mas se há reação por parte das mulheres, faz uma visitinha em Pacaraima, Boa Vista, nos abrigos, e vê como é que estão as mulheres fugindo do paraíso socialista defendido pelo PT", disse, sem especificar a qual pesquisa se referia.
Presidente do Consórcio Nordeste e governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) diz que Bolsonaro tenta tirar a atenção do mau desempenho de seu governo ao referir-se a nordestinos de forma preconceituosa
"A reiterada prática de repetir estigmas e preconceitos só contribui para manter o país dividido e ampliar a cortina de fumaça em torno de um governo que desmontou políticas, desdenhou de mortes pela Covid-19 e trouxe de volta a inflação. Respeite o povo do Nordeste", diz Câmara.
A deputada Carla Zambelli (PSL) diz concordar com as críticas de Eduardo Bolsonaro sobre empresas que priorizam a contratação de mulheres.
"Detesto essa coisa de só contratar LGBT, ou só contratar mulher. Quer dizer que se for hétero, cristão e branco não tem chance?", diz ela.
Segundo ela, o tuíte do filho do presidente estaria perfeito sem o vídeo linkado. "Não vale a pena a gente suscitar essa questão ligando com o acidente. Isso dá margem para achar que o trabalho de todas as mulheres seja considerado ruim", afirma.
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