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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Dono da Livraria da Vila aposta em novas lojas físicas após tombo na pandemia

Para Samuel Seibel, livrarias se manterão essenciais apesar do crescimento das vendas na internet

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São Paulo

A pandemia do coronavírus obrigou as livrarias a fechar as portas durante meses neste ano, mas também criou oportunidades. O empresário Samuel Seibel, dono da Livraria da Vila, investiu no desenvolvimento de uma plataforma de comércio eletrônico e se prepara para inaugurar três novas lojas da rede.

Fundada em 1985 na Vila Madalena, bairro boêmio de São Paulo, a empresa hoje tem dez lojas na capital e em outras cidades. As novas unidades serão abertas nos próximos meses nos shoppings Eldorado e Anália Franco, em São Paulo, e em São Caetano do Sul, na região metropolitana.

Embora o aumento das vendas de livros na internet tenha ajudado a sustentar o setor durante a pandemia, Seibel acha que a reabertura das lojas mostrou que as livrarias ainda são essenciais para o mercado editorial.

O empresário Samuel Seibel, dono da Livraria da Vila, durante entrevista. - Regis Filho/Valor

Qual o saldo da pandemia para as livrarias? Com lojas fechadas por quatro meses, o impacto foi obviamente pesado. Livrarias como a nossa, que vinham trabalhando com o pé no chão, estavam aumentando sua participação no mercado. Mas ninguém estava preparado para o que aconteceu.

Sempre priorizamos as vendas nas lojas físicas e só começamos a investir em comércio eletrônico recentemente. Lançamos nosso serviço em dezembro de 2019, pensando que teríamos um ano de aprendizado para fazer ajustes. Não deu tempo de fazer grandes experiências, mas acabou sendo importante, porque garantiu algum faturamento.

As vendas na internet continuarão significativas com o fim do isolamento? Os livreiros aprenderam na pandemia que esse universo é importante. Mas a reabertura das lojas mostrou a resiliência do livro e a relevância das lojas físicas. As editoras percebem que é nelas que os lançamentos acontecem e as novidades ganham maior exposição.

As livrarias físicas representam hoje metade das vendas das editoras, com o restante distribuído por outros canais, incluindo o eletrônico, mas também vendas diretas e feiras. Acho que pode haver expansão no mercado online, mas haverá um equilíbrio.

As vendas na internet e os dispositivos eletrônicos de leitura têm atraído jovens para o consumo de livros, e mudaram hábitos de leitores mais velhos. Mas não acho que isso vá acabar com as livrarias, porque elas são um espaço para encontros e conexões que os leitores não encontram em outros lugares. Elas serão um elo permanente do mercado.

As pessoas leram mais na pandemia. Continuarão lendo mais? Apesar da queda das vendas nas livrarias físicas, a impressão é que as editoras terão neste ano um desempenho similar ao do ano passado, graças às vendas online. É difícil prever o futuro. Quem gosta de ler não vai perder esse prazer. As pessoas continuarão curiosas e interessadas pelo mundo. Querem entender o que está acontecendo.

​​Quanto suas lojas estão vendendo hoje? Com a reabertura, nossas vendas representam agora mais ou menos 30% do que estávamos fazendo antes da pandemia. Talvez cheguem a 50% com o fim do ano. As vendas no site devem representar uns 10% do nosso faturamento neste ano.

Estamos antecipando investimentos no desenvolvimento da plataforma digital, mas queremos fazer isso com cuidado, de forma bastante orgânica. Vamos abrir duas lojas novas em shopping centers neste ano e outra no início do próximo. Avaliamos oportunidades para crescer, mas queremos continuar com o pé no chão.

Qual o critério para a expansão? A maioria das nossas lojas está na região central de São Paulo. Com as novas, estamos buscando atingir outras regiões da capital e outras cidades do entorno, para atrair outro tipo de público.

Lojas muito grandes não são a nossa cara. Prefiro lojas menores, em que é possível ter maior cuidado com a curadoria dos livros, uma visão melhor da movimentação dentro da loja e estoques menores para administrar.

Tivemos uma experiência com lojas maiores em shopping centers no passado, mas todas foram reduzidas substancialmente. Eram muito grandes, e tudo ali era superlativo, os investimentos na obra, o número de funcionários, estoques, despesas operacionais. Ficou caro demais.

O debate sobre a reforma tributária pôs em xeque a taxação do setor. O governo falou em acabar com a isenção de impostos dos livros, e houve forte reação de editores e livreiros. Acha que esse risco permanece? O mercado de livros sempre foi um negócio de margens muito pequenas, especialmente na ponta final. Uma livraria bem administrada não alcançará resultado além de 5% num bom ano. Então, aumentar a tributação pode empurrar o cara para o prejuízo e a inadimplência.

Não se trata de um privilégio. Diferente do que ocorre com outros produtos, recebemos os livros com preço definido pela editora. Podemos oferecer descontos, mas não temos como cobrar mais caro pelo livro. Então, não conseguiríamos repassar um aumento da tributação para os preços dos livros.

É um produto de elite? Acho que os livros deveriam ser reconhecidos como bens culturais de grande importância. Claro que ninguém vai deixar de pôr feijão na mesa para comprar um livro. Mas é difícil ver como produto de elite algo que custa R$ 40, menos de R$ 100, num país em que as pessoas compram, em média, menos de três livros por ano.

Samuel Seibel, 65

Filho de um imigrante polonês, foi jornalista e trabalhou na empresa da família, uma distribuidora de produtos para a indústria de móveis. Comprou a Livraria da Vila em 2003 e expandiu o negócio. A rede tem hoje dez lojas, em São Paulo, Guarulhos, Curitiba e Londrina, e se prepara para inaugurar outras três.

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