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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Não há clareza sobre demanda de exames adiados, diz presidente da Seguros Unimed

Helton Freitas afirma que procedimentos de saúde eletivos começam a ser recuperados

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São Paulo

O mercado de planos de saúde já começou a resgatar traços do cenário pré-pandemia, com a retomada gradual na busca por procedimentos eletivos, mas, de acordo com Helton Freitas, diretor-presidente da Seguros Unimed, a sazonalidade do setor em 2021 ainda deve carregar os impactos de 2020.

“O próprio setor hospitalar já se reorganizou e, agora, no fim do ano, a sinistralidade foi voltando basicamente para os padrões normais. Mas a gente ainda não tem muita clareza do tamanho dessa demanda reprimida”, diz o executivo.

A pandemia também deu a chance de a empresa testar e antecipar processos como a teleconsulta e o home office. “O teleadendimento deu conforto às pessoas. Muitas vezes, o que elas queriam era simplesmente informação. Cerca de 95% das teleconsultas foram resolutivas. Isso era uma coisa que estava em um horizonte muito distante.”

Helton Freitas, presidente da Seguros Unimed; ele diz que procedimentos adiados representam uma demanda reprimida que começa a retornar
Helton Freitas, presidente da Seguros Unimed; ele diz que procedimentos adiados representam uma demanda reprimida que começa a retornar - Zanone Fraissat- 6.12.2017/Folhapress

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Como foi o impacto da pandemia no ano do setor? No mercado de plano de saúde, começou com grandes incertezas. De início, houve muito pânico e muita procura, mas ao mesmo tempo, houve um afastamento de pacientes de procedimentos eletivos. Aquelas idas a pronto-socorro e os exames reduziram e, de certa forma, compensaram essa outra utilização pelas pessoas que estavam necessitando de atendimento.

Rapidamente, entrou em funcionamento o teleatendimento e isso deu conforto às pessoas. Muitas vezes, o que as elas queriam era simplesmente informação. Cerca de 95% das nossas teleconsultas foram resolutivas. Isso era uma coisa que estava em um horizonte muito distante.

Na Seguros Unimed, tínhamos um propósito de até o final do ano termos 10% da nossa força de trabalho em home office. Em março, entre os dias 12 e 25, colocamos 1.400 pessoas em casa. Isso foi muito importante porque testamos o conjunto dos
nossos propósitos.

E as coberturas? Um dos nossos ramos, que é de vida, tem dois carros-chefes, que é o seguro de vida, propriamente dito, e o de invalidez temporária, principalmente de médicos e dentistas que ficam temporariamente incapacitados para o trabalho, então pagam por um seguro. As cláusulas de seguradoras excluem coberturas em períodos de pandemia.

Isso foi uma grande questão, porque o nosso cliente majoritariamente é médico, está na linha de frente, é aquele que neste momento precisa sentir alguma segurança. Então tomamos a decisão de manter as coberturas.

Acho que foi um ponto importante. Isso já custou mais de R$ 42 milhões. Deve chegar perto de R$ 50 milhões o custo dessas [pessoas] que, tecnicamente, poderiam não estar cobertas.

Mas os sinistros não caíram? Na saúde, o volume de sinistros da pandemia foi no total menor do que a chamada sinistralidade geral. As pessoas foram para casa, houve uma redução abrupta de procedimentos eletivos.

Essa queda não acaba sendo vantagem para as empresas?  Sim, até o momento, sim. Agora, é evidente que esses procedimentos que foram adiados, em grande parte, representam uma demanda reprimida que retorna agora.

Esse retorno já começou ou vocês esperam para 2021? Muitos hospitais já têm a ala Covid e a ala não Covid para fazer esses procedimentos com segurança. O próprio setor hospitalar já se reorganizou.
Agora, no fim do ano, a sinistralidade foi voltando basicamente para os padrões normais. Houve uma suspensão dos reajustes no ano de 2020, que vão ser retomados em 2021. Portanto, na outra ponta também houve esse conjunto de ações.

Mas a gente ainda não tem muita clareza do tamanho dessa demanda reprimida, que retornará, e já está retornando, de até onde ela chega.

O fato é que tem uma utilização do plano de saúde que é aquela que não traz benefício ao paciente, quando ele vai ao pronto-atendimento com muita frequência, não tem um médico de referência, repete exames fora da periodicidade técnica, e isso custa bastante para as operadoras e para os clientes. Isso caiu muito na pandemia.

Hoje, as pessoas que vão aos hospitais são as que realmente necessitam, e elas estão fazendo os procedimentos que precisam ser feitos. A demanda dos procedimentos que foram adiados está sendo
retomada agora.

A gente aguarda um início de ano diferente. A sinistralidade em plano de saúde tem um caráter sazonal. Ela é menor nos três primeiros meses do ano, começa a aumentar em abril, é mais alta até agosto e, a partir de setembro, cai de novo, no período de férias dos pacientes e dos médicos.

Neste ano de 2021, a gente tem uma expectativa que essa curva não se repita dessa forma como nos anos usuais.

E os reajustes? Qual é a perspectiva? Há dois modelos distintos para reajustes. Tem o das pessoas jurídicas e o de pessoas físicas. O das jurídicas é repactuado a cada ano por um índice de acordo com a sinistralidade dos contratos. Mas o governo suspendeu esse reajustes mesmo assim. Se a sinistralidade efetivamente caiu, e ela caiu em alguns públicos, esses reajustes deverão ser menores.

Já o cliente pessoa física segue uma outra dinâmica de reajuste. Tem um índice pré-estabelecido pela ANS [Agência Nacional de Saúde Suplementar] com base na experiência de sinistralidade do conjunto das carteiras.


RAIO-X

Helton Freitas, 55
Diretor-presidente da Seguros Unimed desde 2015, é médico formado UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), especialista em planejamento e administração de serviços de saúde e em medicina do trabalho. No setor público, trabalhou no Hospital das Clínicas da UFMG e foi secretário adjunto de Saúde de Belo Horizonte (MG).

Paula Soprana (interina), com Arthur Cagliari

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