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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Lula e Bolsonaro não são dois extremos, diz empresária

Para Rosangela Lyra, ex-chefe da Dior no Brasil, esperança da terceira via recuou

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São Paulo

Rosangela Lyra, ex-chefe da Dior no Brasil, que militou no movimento Vem Pra Rua, fez campanha pela Lava Jato e hoje defende a eleição de Lula para derrotar Bolsonaro, diz que o empresariado está em compasso de espera. A esperança da terceira via murchou.

Segundo Lyra, a decisão de apoiar Lula depois de combatê-lo foi um processo que aconteceu em nome da democracia. "Não são dois candidatos comparáveis. Não são dois extremos", diz.

Imagem mostra mulher branca de cabelos castanhos claros vestindo vestido branco e brincos prateados. Ela está num corredor, da onde sai uma luz vermelha.
Rosangela Lyra em jantar na Cidade Matarazzo (complexo de luxo) - Bruno Poletti/ Folhapress

A empresária, que há quase uma década criou o movimento Política Viva, que administra uma série de grupos de WhatsApp para discutir política, diz que o debate mudou. "Nesses últimos anos, em que começamos a viver um pesadelo, não dá mais para não opinar, não se manifestar."

A sra. vem acompanhando a política há anos e tem sido uma ativista no empresariado. Tem algo novo sendo preparado? Não. Acho que estamos no momento do compasso de espera. Precisamos entender para onde estamos indo, com essas ameaças constantes, essa crescente insegurança e instabilidade.

Ao mesmo tempo, estamos vendo a campanha do Lula, qual é o papel do Alckmin, se caminha mais para o centro. Tem toda essa espera de isso se definir para ver qual o próximo passo a tomar.

Tem a ver com a indefinição da terceira via? Algumas pessoas têm esperança, mas quando eu converso, vejo cada vez menos. Embora o Doria tenha ficado mais viável. Não é impossível, mas vai ser difícil. Acho que essa inação momentânea do empresariado é mais em função disso.

E tem aqueles que vão continuar com Bolsonaro, que se identificam com as bandeiras dele, os conservadores que sofreram mais forte a lavagem cerebral de ódio ao PT.

Esses vão continuar, pode fazer o que for, contanto que não mexa na sua renda e no seu estilo de vida, eles vão continuar, mesmo com atrocidades, barbaridades e corrupção que existe nesse governo. Existe uma dificuldade, ou má vontade, de se enxergar corrupção, rachadinha, tráfico de influência, cheque, mansão, peculato, tanta coisa.

A sra., que tem um histórico de apoio ao PSDB, como analisa a trajetória da candidatura do Doria? Eu nunca fui filiada a nenhum partido. Me identificava mais com o PSDB e me identifico com o Alckmin. Existe um ódio ao Doria que não consigo entender. Ele teve questões que desapontaram os eleitores, como a saída da prefeitura, o apoio a Bolsonaro, em 2018, dando as costas ao padrinho político.

E essas prévias são sempre positivas porque você tem a oportunidade de não ser imposição dos caciques, traz discussão, coloca o partido em evidência. Mas virou um grande imbróglio. São movimentações ruins para o partido e para o candidato que fica.

A sra. se posicionou sobre a disposição de apoiar Lula. Como foi esse processo? E quando conversa sobre isso com empresários, o que ouve? Em prol de defender o país, a democracia, a liberdade, o Estado democrático de Direito, é deixar diferenças para trás, apoiar candidato mesmo que não haja uma afinidade de vida. Eu sempre combati o Lula. Sempre fui muito voltada ao combate à corrupção. Em 2005, eu ia às ruas contra o mensalão. Éramos 50 gatos pingados no vão do Masp. Sempre fui ativa.

Quando eu me manifestei [em apoio a Lula para 2022] teve muita repercussão. Eu tenho 10 mil contatos no WhatsApp. Pessoas com quem eu já não falava há tempos me procuraram. Alguns falaram que entendiam a minha opinião, mas não tinham coragem de se posicionar, outros não tinham se decidido ainda. Poucos criticaram.

A sra., que há anos faz gestão de grupos de WhatsApp sobre política, o que achou de Elon Musk comprando o Twitter? No começo fiquei um pouco preocupada. Mas pareceu que não iria intervir no dia a dia, pelo menos não no primeiro momento. Acho que ele não vai brincar com isso nem fazer acionista perder dinheiro. Ele pode ter algumas características esquisitas, mas não bate tambor para louco dançar.

E isso levantou debate sobre liberdade de expressão. O que acha?Usar liberdade de expressão para justificar determinadas coisas é subterfúgio. Há limite para tudo. Quando se usa esse direito para violar garantias estabelecidas pela Constituição, isso não pode ser liberdade de expressão. Intimidade, vida privada, honra, imagem das pessoas, são coisas invioláveis.

Como pensa a gestão desses espaços de redes sociais? [No Política Viva], são grupos de WhatsApp com formadores de opinião, lideranças das mais diversas áreas e lugares do país. Sempre procurei ser extremamente imparcial, deixar o outro chegar às conclusões por si mesmo, fazendo perguntas para as pessoas pensarem. O Política Viva foi criado com pilares como combater fake news, trocar informação e trazer a política para perto da sociedade. Foi criado em 2013 e, em 2020, virou o Instituto Política Viva.

Eu era muito didática. Agora, as pessoas que participam já têm esse conhecimento. Nesses últimos anos, em que começamos a viver um pesadelo na economia, na saúde, na educação, não dá mais para não opinar, não se manifestar.

[Lula e Bolsonaro] Não são dois candidatos comparáveis. Não são dois extremos. PT não é extrema esquerda, nunca foi, muito menos radical. O Lula respeita a democracia. Respeitou a decisão, foi preso. Dilma aceitou o impeachment, sem ameaça de golpe. Hoje, tem ameaça todo dia.


Raio-x

Depois de criar o movimento Política Viva, há cerca de dez anos, a empresária fundou o Instituto Política Viva, em 2020. Também é presidente da Associação Comercial Jardins e Itaim e foi presidente da Dior no Brasil por 28 anos.

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