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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Empresário foi infeliz ao dizer no WhatsApp que preferiria golpe, diz dono da Havan

Luciano Hang afirma que só escreveu sobre reeleição e foi alvo de censura

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São Paulo

Um dos alvos da operação da Polícia Federal da semana passada sobre empresários bolsonaristas em grupo de Whatsapp, o dono da Havan, Luciano Hang, diz ter sido vítima de censura.

Ele afirma que raramente se manifesta no grupo e apenas escreveu mensagem sobre a hipótese de uma reeleição de Bolsonaro e duas eleições do ex-ministro Tarcísio de Freitas, sem qualquer relação com golpe, mas teve seu nome envolvido por ser muito conhecido.

Imagem mostra Luciano Hang, um homem branco e calvo. Ele está vestindo um terno de blazer verde e gravata amarela.
Luciano Hang durante visita ao presidente Jair Bolsonaro (PL) em abril - Antonio Molina - 27.abr.22/Folhapress

Segundo a reportagem do portal Metrópoles que revelou o conteúdo das conversas trocadas no grupo, José Koury, dono do Barra World Shopping, escreveu que preferiria um golpe à volta do PT. Luciano Hang diz que não concorda com o comentário de Koury.

"Ele foi infeliz na frase. Ele poderia ter dito que preferiria um governo militar à volta do governo do PT. E não mudaria nada. Eu preferiria o Brusque campeão do que o Flamengo campeão do Brasil. Cada um tem a sua opinião. Não pode cercear as pessoas de ter opinião e pensamento", afirma o empresário.

O sr. tem tratado o caso da operação da Polícia Federal de terça como censura? Eu tenho colocado [nas redes sociais] Hashtag Censura Não. Nós estamos a quarenta dias das eleições. Queremos um pleito democrático. Democracia é dar espaço para todos os candidatos. O que eles estão fazendo hoje é cercear um lado. Estão me calando. Querem me calar. Inibindo as minhas redes sociais, me calaram.

Puxa, 12 milhões de fãs nas minhas redes sociais. Uma pessoa me disse hoje que a nossa cidade estava acostumada a acordar e ver as mensagens. Está tudo triste. O pessoal nem olha mais o Instagram. Eu falava com milhões de pessoas toda semana.

O sr. continua em alguns grupos de WhatsApp? Como eles estão? Vou ter que voltar a fazer. Levaram meu celular. O problema é que estava lá a minha pasta de contatos. Agora, para ativar meus contatos, vou perder. Ficou difícil. Me calaram. Estou indo para Barretos participar [de evento] com o presidente Bolsonaro. Vou visitar o Hospital de Câncer, a gente faz doações lá. E depois vou participar, no rodeio de Barretos, com o presidente.

O sr. já teve muitos grupos de WhatsApp e depois reduziu esse número. Agora pretende voltar a se manifestar por meio do WhatsApp? Mas você acha legal te cercear o pensamento das redes sociais? Isso é um absurdo. É inadmissível. Todo brasileiro pode ter grupo de WhatsApp. E nos grupos, as pessoas tecem seus comentários, fazem suas opiniões.

As opiniões que estavam sendo defendidas ali eram a favor de um golpe de Estado? Ninguém estava defendendo opinião nenhuma. Era um grupo eclético, de todas as vertentes. Tanto é que dava discussão. Vai se fazendo 250 empresários discutir política, economia, sociedade. Dar opiniões e expressar o que você pensa não é crime. Não é pecado.

Um deles diz que preferiria golpe a volta do PT. O sr. concorda com essa opinião? Não. Claro que não. Gravei dois áudios em que o Guilherme Amado [jornalista autor da reportagem que revelou as conversas no grupo de WhatsApp] fala: Luciano, você só falou que é mais quatro anos de Bolsonaro, mais oito anos de Tarcísio e dá uma limpada nessa vagabundagem.

A vagabundagem que eu digo é contra tudo aquilo que eu luto. Contra a burocracia, contra as dificuldades ao liberalismo econômico, de fazer as mudanças que nós queremos.

A dificuldade que nós temos hoje de tocar um país é essa máquina burocrática que nós temos. E muitos desses políticos arraigados há 200 anos na República. Nós temos que limpar isso, melhorar o ambiente de trabalho. É para isso que eu luto.

Agora, vou dizer uma coisa: o tiro saiu pela culatra. O povo está indignado. Está todo mundo do nosso lado, indignado com o que aconteceu. O povo não aceita ver acontecer umas atrocidades dessas contra a liberdade de pensamento, contra a liberdade de expressão.

A imprensa tem que se manter. As instituições. Onde está a OAB? Onde está o Congresso? Onde estão as pessoas que foram signatárias da carta pela democracia? Eu não vi nenhum desses falar que está errado. Entrar em grupo de WhatsApp de fuxico? Tem um grupo da pescaria, da putaria, da igreja, da família. Tem tudo o quanto é tipo de grupos.

Sobre aquela frase do José Koury [dono do Barra World Shopping] de que preferiria um golpe à volta do PT, o sr. concorda com isso? Ele foi infeliz na frase. Ele poderia ter dito que preferiria um governo militar à volta do governo do PT. E não mudaria nada. Eu preferiria o Brusque campeão do que o Flamengo campeão do Brasil. Cada um tem a sua opinião. Não pode cercear as pessoas de ter opinião e pensamento. Vocês têm que defender isso.

Entrar de manhã na minha casa e na casa dos outros sete empresários porque nós colocamos mensagens no WhatsApp? Isso é uma afronta contra a democracia e contra a liberdade de pensamento e de opinião. Não existe democracia quando só um lado pode falar.

Agora, só porque eu sou um apoiador do presidente Bolsonaro calam o Luciano? Acabam com todas as mídias do Luciano. Não é democracia. Estamos vivendo um Estado totalitário. Um Estado de exceção. É um absurdo.


Raio-X

Estudou tecnologia em processamento de dados na Universidade Regional de Blumenau (SC). Em 1986, abriu no município Brusque uma pequena loja de tecidos que depois se transformou na rede de departamentos Havan, conhecida pelas fachadas que simulam a Casa Branca e têm uma réplica da estátua da Liberdade. A rede tem hoje mais de 170 lojas físicas. Desde 2018, assumiu ativismo político a favor de Bolsonaro.

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