Painel S.A.

Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Painel S.A.

TCU quer multa a ex-servidores do BNDES por falhas em financiamento a exportações

Banco público tenta retomar programa de crédito; relatório da Corte de Contas vê favorecimento a países e empreiteiras

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O ministro Augusto Sherman, do TCU (Tribunal de Contas da União), quer a aplicação de R$ 864 mil em multas a 37 ex-diretores e ex-dirigentes da área de comércio exterior do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

O relatório analisou 67 operações de financiamento para exportações de serviços para obras rodoviárias e concluiu que quase metade dos recursos concedidos tiveram desvio de finalidade.

Logo do BNDES na sede do banco, no Rio de Janeiro
Logo do BNDES na sede do banco, no Rio de Janeiro - Sergio Moraes - 08.jan.2019/Reuters

O relatório entrou na pauta do plenário na quarta (4), mas foi retirado após pedido de vista. Seis ex-dirigentes também podem ficar até oito anos impedidos de exercer cargo em comissão ou função de confiança na administração pública federal.

O desvio de finalidade na linha de crédito pode ter sido de R$ 22 bilhões, segundo o relatório na Corte de Contas, e de R$ 5 bilhões nos financiamentos par a obras rodoviárias no exterior. As falhas, segundo Sherman, começaram na análise dos pedidos de crédito e seguiram até o efetivo desembolso dos recursos.

O ministro diz, no relatório, ver indícios de favorecimento direto a países e indireto a empreiteiras brasileiras.

No primeiro caso, isso teria acontecido "especialmente sob a forma de redução não justificada do prêmio do seguro à exportação", extensão não justificada nos prazos de equalização da taxa de juros e no aumento do risco atuarial do FGE (Fundo de Garantia à Exportação).

"Tais falhas e irregularidades podem ter viabilizado a celebração de contratos que, de outra forma, não seriam economicamente ou financeiramente viáveis para os referidos países", escreveu.

No caso das empreiteiras, o ministro da Corte de Contas escreveu que os procedimentos do BNDES "nas etapas de análise-aprovação-acompanhamento das operações contribuíram de maneira decisiva para o favorecimento às empreiteiras, sem qualquer justificativa comercial."

Sherman analisa no relatório uma operação de crédito com a Odebrecht Angola, empresa subsidiária da companhia brasileira de mesmo nome (que hoje atende por Novonor). O programa de crédito deveria atender empresas brasileiras ou suas filiais e sucursais.

O problema, disse o ministro, é que a empresa era de direito angolano, com desde em Angola. Somente em 2011, o contrato foi alterado e a Construtora Norberto Odebrecht assumiu. "Sob essa condição irregular", escreveu Sherman, "foram reembolsados US$ 5 milhões." O contrato foi assinado em 2008 e a alteração veio em 2011.

Atualmente, o BNDES tenta reestruturar seu programa de financiamento a exportação de bens e serviços. A retomada da linha de crédito é também uma demanda de diversos setores. Neste ano, a nova gestão do banco, já sob o governo Lula 3, pediu orientação ao TCU para definir uma nova regulamentação.

A preocupação do banco é evitar calotes passados. A exportação de serviços de empreiteiras foi um dos alvos de investigação pela Polícia Federal durante a operação Lava Jato.

Hoje, somente a Venezuela deve US$ 1 bilhão para o Brasil, fatura que, como noticiou o Painel S.A., foi cobrada de Nicolas Maduro quando esteve no Brasil, em visita ao presidente Lula. Há outros países inadimplentes.

Em nota, o BNDES disse que o TCU tem atuado de forma colaborativa para melhorar os processos de transparência e governança do banco. Disse também que a retomada do financiamento à exportação de serviços exige aprimoramento do ambiente regulatório e legislativo e que conversa com a OCDE e com o TCU para criar um marco regulatório da atividade.

"A expectativa é que o governo encaminhe um projeto de lei, baseado nessa experiência, para regulamentar o tema e permitir que o BNDES volte a financiar serviços com toda a transparência e segurança para o Congresso Nacional e para a sociedade brasileira", afirmou o BNDES.

Com Diego Felix

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.