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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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"Maior investidor da Bolsa me fez perder R$ 14 milhões", diz cliente de gestora

Maurício Ferrentini aplicou quase todo seu dinheiro e perdeu com ações recomendadas por Luiz Barsi, que nega ser sócio de gestora e agir como assessor

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Brasília

Maurício Ferrentini é amigo de Luiz Barsi, maior investidor da Bolsa conhecido como Warren Buffett brasileiro. Ambos aplicam pela gestora Boa Vista. Enquanto Barsi possui bilhões em carteira, Ferrentini perdeu R$ 14,4 milhões, quase todo o dinheiro que dispunha (R$ 21,5 milhões).

O prejuízo se deve a uma aplicação malsucedida que, segundo Ferrentini, não teve aval do assessor de sua carteira que, contrariado, teve de obedecer à recomendação de Barsi para a compra de R$ 15,9 milhões em ações do IRB Brasil, uma resseguradora.

O bilionário nega veementemente qualquer ingerência na Boa Vista e nas aplicações do amigo. Disse que sempre recomendou, publicamente, ações do IRB Brasil. Além disso, Barsi afirma que Ferrentini é um "investidor profissional" e, como tal, tem responsabilidades sobre sua própria carteira.

Mas documentos entregues à CVM e ao MPF mostram que o caso não é bem assim. As investigações estão em curso.

Mauricio Ferrentini é homem de 56 anos, grisalho, usa óculos e camisa polo azul
Maurício Ferrentini, investidor que acusa Luiz Barsi, maior aplicador individual da Bolsa, de prejudicar seus investimentos - 01.dez.2023-Divulgação

Por que o sr aplicou quase todo seu dinheiro em ações de uma empresa só?
Foi uma recomendação de Barsi. Ele é o maior investidor da Bolsa, tem mais de R$ 4 bilhões em carteira aplicados pela Boa Vista [gestora]. Naquele momento, eu falei para ele que precisava ter uma renda mensal de R$ 150 mil e ele me propôs investir no IRB Brasil [resseguradora]. Segundo ele, isso triplicaria meu patrimônio.

Essa empresa foi investigada por corrupção e também houve casos de fraude.
Sim, mas Barsi me disse que era amigo do presidente do IRB e que a empresa passaria por um processo de reestruturação, ficaria zeradinha com perspectivas de ganhos muito significativos.

Ele tinha informação privilegiada?
Não sei. Ele dizia que tinha contato constante com o presidente do IRB. Quando o maior investidor da Bolsa recomenda entrar num negócio em que ele já detém 3% das ações, diz que está ampliando para 5%, e é amigo de quem comanda a empresa, você confia.

Mas como ele poderia saber que o IRB teria bom desempenho?
A filha dele, a Louise, foi participar do conselho fiscal do IRB seis meses após ele ter me recomendado a compra da ação. Tentaram depois que ela assumisse um assento no conselho de administração, mas os bancos vetaram.

Barsi é o gestor de sua carteira?
Ele me dava recomendações, assim como dá sugestões de investimento diretamente para várias pessoas. Em junho de 2021, ele enviou um e-mail para vários contatos recomendando a compra da ação do IRB, dizendo que poucas empresas possuíam estrutura de caixa tão superior ao seu valor de mercado. Transferi minhas aplicações para a corretora Boa Vista, por recomendação do Barsi, que passou a operar por lá. Meu então assessor de investimentos na Boa Vista não faz nada sem o aval do Barsi.

Como assim?
O analista que acompanhava meus investimentos sempre falava em nome do Barsi, me repassava o que o Barsi determinava fazer. Ele comentava que o Barsi frequentava a corretora Boa Vista diariamente.

O que disse o seu assessor sobre a aplicação no IRB?
Demonstrou preocupação, mas acatou a orientação do Barsi.

O senhor tem provas disso?
Toda a troca de mensagens, por e-email e whatsApp, além de áudios. É o que sustenta minha representação na CVM e no MPF.

Quanto o senhor perdeu?
Investi R$ 15,9 milhões e esse dinheiro virou menos de R$ 1,5 milhão entre 2021 e 2023.

O que pretende fazer?
Em uma das conversas, Barsi assumiu ter cometido um erro. Depois de muita insistência minha, Barsi propôs me ressarcir, devolvendo R$ 7,5 milhões e ficando com metade de minhas ações. Então fizemos um contrato de mútuo, tendo como garantia um imóvel meu. Mas, ao final, o Barsi só transferiu R$ 5 milhões e desistiu das ações.

Isso foi um empréstimo, não um ressarcimento.
Essa foi a maneira que eles encontraram para minimizar meu prejuízo e, de certa forma, reconhecer o erro e a responsabilidade. Recebi uma mensagem do analista da Boa Vista, explicando que uma advogada estava vendo uma forma dessa operação acontecer sem envolver ações, porque a CVM poderia fiscalizar.

Por quê?
Creio que, se envolvesse ações, estaria assumindo no papel que me causou perdas ao recomendar investimentos.

O sr sabe se ele tem registro para exercer esse tipo de atividade?
Não tem.

Ele é o dono da Boa Vista?
Não saberia dizer.

RAIO-X

Idade: 56
Formação: Direito (Universidade Presbiteriana Mackenzie)
Atividade: Iniciou sua carreira em uma empresa da família, o Diário Popular; em 2008, montou seu próprio negócio, a Fixxus Comercial, voltado para distribuição de insumos e equipamentos para fábrica de baterias automotivas e industriais

Com Paulo Ricardo Martins

Erramos: o texto foi alterado

O sobrenome de Warren Buffett estava grafado com erro e já foi corrigido.

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