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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Novo marco do transporte vai gerar prejuízo ambiental, diz técnico da ANTT

Segundo Felipe Freire, especialista em regulação da ANTT, agência se baseou em dados de 20 anos atrás para permitir a operação de ônibus interestaduais

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São Paulo

O novo marco regulatório da ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) para o setor de transporte rodoviário interestadual deve gerar um gasto adicional de R$ 700 milhões por ano para as empresas com o desperdício de diesel. Como consequência, a emissão de poluentes na atmosfera também vai aumentar.

Segundo Felipe Freire, especialista em regulação da ANTT, a agência utilizou planilhas de 20 anos atrás para definir uma tarifa de eficiência operacional. Naquela época, os ônibus tinham menos eficiência no gasto de combustível e consumiam mais diesel do que os veículos modernos.

Movimentação no terminal rodoviário Barra Funda, em São Paulo
Movimentação no terminal rodoviário Barra Funda, em São Paulo - Jardiel Carvalho - 30.out.22/Folhapress

Na regulação que entrou em vigor neste mês —e motivou a briga entre empresas que já operam no setor contra as novas companhias, mediadas por aplicativos—, foram considerados ônibus com chassi de 2004.

Esse preço de eficiência, explica ele, equilibra receitas e despesas operacionais seguindo condições como quilometragem percorrida por ano e taxa de ocupação de assentos oferecidos.

Essas informações foram calculadas com base em planilhas de 20 anos atrás e que, segundo a ANTT, ainda seriam aplicáveis à realidade do setor.

"O cálculo de tarifa de eficiência da ANTT hoje é feito com base em ônibus de 20 anos atrás. Se a gente jogar um incremento de eficiência de 20% sobre isso, teríamos, em um ano, uma economia de mais ou menos 120 milhões de litros de óleo diesel, o equivalente a R$ 700 milhões por ano", explica o técnico, que utilizou dados de consumo de motores mais eficientes e considerou o preço médio do diesel calculado pela ANP no final do ano passado.

Segundo ele, convertendo esses dados para toneladas de carbono, seriam cerca 350 mil toneladas de carbono a menos despejados na atmosfera por ano se as frotas fossem renovadas.

Para Freire, o aumento de concorrência no setor ajudaria a diminuir a idade média dos ônibus, contribuindo com a meta de gerar menos emissões de poluentes estabelecida pelo governo federal.

Entre 2019 e 2021, quando a ANTT promoveu uma abertura no setor, as empresas foram incentivadas a usar veículos mais novos.

Empresas como Buser e Flixbus, que lutavam pela abertura de mercado, reclamaram de todo o processo de discussão sobre o marco regulatório na ANTT.

O principal motivo do descontentamento foi a falta de transparência sobre a minuta que seria aplicada ao setor, mantida em sigilo durante todo o segundo semestre.

Com o marco publicado, as empresas passaram a considerar que a abertura de mercado foi prejudicada. Ao invés de estabelecer critérios operacionais para quem quiser disputar a clientela do setor, a agência vai analisar a viabilidade de cada mercado e permitir, ou não, o ingresso de novas empresas.

As janelas de revisão do mercado serão anuais e a ANTT vai comparar o preço médio praticado pelas empresas em cada ligação com o preço de eficiência definido no marco regulatório. Se o preço das empresas for maior do que o estipulado, haverá o ingresso de novas empresas no mercado.

Esse ingresso será definido por sorteio nos casos em que mais de uma empresa demonstrar interesse em disputar a mesma linha.

Com Diego Felix

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