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Descrição de chapéu Fórum Econômico Mundial

Dar voz a empreendedores sociais é estratégia para escalar soluções inovadoras

Está na hora de termos espaço garantido à mesa na hora de elaborar programas de governo ou políticas públicas

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Adriana Mallet

Médica, CEO e co-fundadora da startup SAS Brasil. Foi eleita empreendedora social do ano pela Fundação Schwab em 2022

"Não é sobre caridade, é sobre estratégia". Não escolhi essa frase à toa quando soube que representaria o Brasil diante de uma plateia de milhares de pessoas na cerimônia de premiação da Fundação Schwab durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

A potência de organizações de impacto no Brasil é ainda pouco explorada por aqueles que elaboram planos de governo.

Às vésperas de mais uma eleição, vale entendermos como a inovação acontece e a importância de espaços estruturados para aproveitar e amplificar experiências de empreendedores de impacto em diferentes áreas de atuação na hora de construir políticas públicas.

homem vestido com roupa para evitar contaminação ajuda senhora a ser atendida por médico pelo celular
SAS Brasil levou teleatendimento a pacientes da comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, durante a pandemia - Hector Santos/Divulgação

Como funcionam as grandes inovações? Eu diria que temos dois grandes padrões.

Em primeiro lugar, elas surgem a partir de pessoas que sentem dores reais capazes de movê-las em busca de soluções que podem resolver uma demanda instalada. O segundo padrão é: dificilmente inovações disruptivas nascem a partir de grandes instituições ou da visão de especialistas nos assuntos.

Pelo contrário: na maioria das vezes, as melhores inovações são produtos dessa combinação quase mágica entre uma dor, a paixão por um propósito e o desconhecimento de todos os limites que um paradigma vigente nos impõe.

Assim nasceram grandes transformações na história. Um bom exemplo é Thomas Edison, inventor e empreendedor norte-americano famoso por suas inovações, dentre elas a lâmpada incandescente.

Sabendo disso, é de se espantar como os responsáveis pela elaboração de políticas públicas ainda pouco recorrem a empreendedores de negócios de impacto que, movidos por essa combinação de dor e paixão, já inovaram, criaram e validaram soluções para grandes problemas.

Adriana Mallet visita o Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, para viabilizar projeto de telemedicina durante a crise sanitária
Adriana Mallet visita o Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, para viabilizar projeto de telemedicina durante a crise sanitária - Roy Bento/Divulgação

Não importa se estamos falando em saúde, educação, meio ambiente ou geração de renda na favela: o fato é que a solução, na maioria das vezes, existe e está à disposição dos responsáveis pela elaboração de planos de governo ou governantes.

Ainda assim, eles dificilmente buscam inspiração nessas soluções. A minha pergunta é: por que ainda funcionamos assim?

De um lado, somos um país aristocrata, desigual em oportunidades e em representatividade, seja racial, de gênero ou social. Isso faz com que o espaço de escuta para projetos e instituições de impacto de base ainda seja restrito.

Por outro lado, os próprios governantes e elaboradores de políticas públicas desconhecem o processo de inovação, o que faz com que, com frequência, eles simplesmente não entendam a potência que essas soluções representam.

Está na hora de essa realidade mudar. Listo aqui três razões para isso.

Instituições de impacto nascem pelas mãos daqueles que conhecem o problema de fato. Mais do que teorias ou teses, essas pessoas sentem de perto as dores. E dores, quando combinadas com paixão e competência, são capazes de acionar a criatividade e de gerar soluções que podem transformar realidades.

A inovação disruptiva acontece a partir de projetos capazes de testar suas soluções em pequena escala e de aprender de forma ágil, habilidade que empreendedores precisam desenvolver bem e rápido se quiserem sobreviver.

Empreendedores, na maioria das vezes, criam e validam suas soluções inovadoras em ambientes com recursos limitados. Com frequência, isso leva ao desenvolvimento de tecnologias mais simples e custo-efetivas.

Por isso é fundamental ter espaços estruturados para escutar quem já cumpriu a jornada de aprendizado e conseguiu encontrar soluções para problemas complexos.

Nos últimos anos, temos visto uma evolução consistente no ecossistema de inovação no Brasil —ainda longe do ideal, mas com espaço para empreendedores jovens que têm uma ideia ou um protótipo e precisam de recursos e de espaço para desenvolver seus projetos.

Mais do que nunca, está na hora de criarmos espaços de diálogo entre iniciativas de destaque e tomadores de decisão sobre políticas públicas.

Está na hora de criarmos uma agenda positiva na qual projetos de grande impacto e reconhecimento, inclusive lá fora, têm seu espaço garantido à mesa na hora de elaborar programas de governo ou políticas públicas.

Até lá, certamente seguiremos no espaço de teses não aplicadas e de projetos com recursos desperdiçados.

Estamos vivendo um momento que pede eficiência, por isso abrir espaço para projetos que comprovaram seu impacto e permitir que sejam devidamente ouvidos é a melhor estratégia para encontrarmos soluções reais aos nossos graves problemas socioambientais.

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