Em um contexto global de crescente fragmentação, tensões geopolíticas e crise do clima, a edição 2024 do Fórum Econômico Mundial espelhou temas que acompanhei quando estive em 17 países da Ásia, Europa, América do Norte e do Sul, participando de alguns dos principais fóruns sociais do mundo.
À luz da contemporaneidade, vemos que as pressões provocadas pelas guerras em curso, a mudança climática, a preocupação com a manutenção das democracias e a emergência em combater as desigualdades sociais serão a força motriz da construção de respostas à altura dos desafios enfrentados pela humanidade.
Um dos fatores para enfrentar os dilemas da atualidade e desenvolver iniciativas para aumentar a resiliência e segurança, relançar o crescimento econômico, proteger o clima e a natureza, equilibrar a inovação e as barreiras de proteção para a tecnologia, investir em empregos, competências e saúde – como preconiza esta edição do Fórum –é o investimento social.
Em um exercício no qual comparo as análises do fórum aos debates conduzidos em 2023 por eventos como Skoll World Forum, Climate Week NYC; Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, Global Philanthropy Forum, B for Good Leaders e AVPN Global Conference, entre outros, enxergo que há quatro grandes tendências para o investimento social, que devem permear os próximos anos.
A primeira é a cultura de colaboração, investimentos transversais e coinvestimento. Ou seja, empresas, organizações e governos investindo juntos em um mesmo território de maneira complementar. Isso porque não adianta investir, por exemplo, para dotar determinada região de escolas-modelo se não houver saneamento básico, saúde, cultura, habitação, transporte e alimentação de qualidade para esses estudantes e seus familiares.
O entendimento é de que combater as desigualdades (no plural) requer um olhar multitemático para que o investimento não se perca por conta do impacto negativo da escassez. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), inclusive, foram pensados como estrutura sistêmica, no qual cada um deles deve ser tratado territorialmente de maneira integrada.
A decolonização do investimento social é a segunda tendência. No Global Philanthropy Forum houve debates sobre a urgência em transferir poder para indivíduos e comunidades por meio da escuta ativa.
Há uma discussão sobre como abrir mão do poder para que ele seja exercido pelos mais vulneráveis. A ideia é ouvir as comunidades para fazer com que o investimento seja definido a partir das demandas locais. Dialogar com organizações e lideranças tem sido um caminho interessante para tal.
O uso da inteligência de dados para criar evidências de possíveis impactos está na essência desta tendência, cuja visão é do uso da inteligência artificial para fazer análises mais acuradas das demandas sociais para o investimento.
Com dados confiáveis, os investidores – empresas, governos e organizações – podem direcionar recursos para territórios que requerem maior atenção do ponto de vista socioeconômico e de oportunidades para os cidadãos.
Por último, a ampliação da adoção de novos mecanismos financeiros para investir em impacto social positivo. Entre eles, o chamado blended finance, mecanismo que combina dinheiro não reembolsável –oriundo da filantropia, de bancos de fomento ou organizações multilaterais–, com capital remunerado para os investidores.
Ele tem sido usado desde a década de 1990, especialmente em países em desenvolvimento. Em 2015, foi repaginado no âmbito do Fórum Econômico Mundial e passou a ser definido como sendo o "uso estratégico de capital catalítico para mobilizar o capital comercial, com o propósito de financiar o desenvolvimento de mercados e soluções na fronteira da inovação e para alavancar o impacto positivo, viabilizando a agenda dos ODS."
Para concluir, destaco uma iniciativa lançada no Fórum Econômico Mundial: a Humanitarian Resilience Investing, que prevê mais de 50 compromissos que irão impulsionar o investimento de impacto e desbloquear mais de US$ 15 milhões com novas colaborações e novos aportes em mercados fronteiriços. O objetivo é beneficiar de forma mensurável e aumentar a resiliência das comunidades em risco e atingidas por crises.
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