Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Trump aperta o botão do pânico

Presidente sente o fracasso de suas políticas econômicas em produzir os resultados que prometeu

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Donald Trump marcou o aniversário do 11 de Setembro repetindo várias mentiras sobre suas próprias ações naquele dia. Mas essa não era sua única preocupação. Ele também passou parte do dia escrevendo uma série de tuítes criticando os funcionários do Federal Reserve como "cabeças duras" e exigindo que eles implementem de imediato medidas de emergência para estimular a economia —medidas que normalmente são implementadas apenas diante de uma crise grave.

A diatribe de Trump foi reveladora de duas maneiras. Primeiro, agora está claro que ele está em pânico total pelo fracasso de suas políticas econômicas em produzir os resultados prometidos. Segundo, ele não tem a menor pista de por que suas políticas não estão funcionando ou de qualquer outra coisa que envolva política econômica.

Antes de chegar à economia, vamos falar sobre um indicador da falta de noção de Trump: suas observações sobre a dívida federal.

Donald Trump embarca para visita ao Novo México, nos Estados Unidos - Tom Brenner/Reuters

Além de pedir que o Fed (Banco Central) reduza as taxas de juros abaixo de zero, Trump declarou que "deveríamos começar a refinanciar nossa dívida", porque "os EUA sempre deveriam pagar a menor taxa".

Os observadores ficaram coçando a cabeça, perguntando-se sobre o que ele estaria falando.

Na verdade, porém, é bastante óbvio. Trump acha que a dívida federal é como um empréstimo comercial, que você pode pagar mais cedo para aproveitar taxas de juros menores.

Ele claramente não sabe que a dívida federal na verdade consiste em títulos, que não podem ser pagos antecipadamente (que é uma das razões pelas quais as taxas de juros da dívida federal são sempre mais baixas que, por exemplo, as taxas de hipotecas residenciais).

Ou seja, ele imagina que as finanças do governo podem ser gerenciadas como se os EUA fossem um cassino ou um campo de golfe, e nunca lhe ocorreu perguntar a alguém do Tesouro se é assim que funciona.

Mas voltemos à economia. Por que Trump está em pânico?

Afinal, enquanto a economia está desacelerando, não estamos em recessão, e não está claro que haja uma recessão no horizonte. Não há nada nos dados que justifique um estímulo monetário radical —estímulo, a propósito, que republicanos, incluindo Trump, denunciaram na época de Obama, quando a economia realmente precisava dele.

Além disso, apesar das alegações de Trump de que o Fed de certa forma fez alguma loucura, a política monetária foi realmente mais flexível do que a própria equipe econômica de Trump esperava ao fazer suas previsões otimistas.

No verão de 2018, as projeções econômicas da Casa Branca previam que neste ano as taxas de juros para três meses seriam em média de 2,7%, enquanto as taxas para dez anos seriam de 3,2%. As taxas reais enquanto escrevo são de 1,9% e 1,7%, respectivamente.

Embora não haja uma emergência econômica, porém, Trump parece sentir que está enfrentando uma emergência política. Ele esperava que uma economia em expansão fosse seu grande tema vencedor no próximo ano. Se, como agora parece provável, o desempenho econômico for medíocre, na melhor das hipóteses, ele está em sérios apuros.

Lembre-se de que as duas principais políticas econômicas de Trump foram seu corte de impostos em 2017 e sua guerra comercial com a China, em rápida escalada. O primeiro deveria levar a uma década ou mais de rápido crescimento econômico, enquanto a segunda deveria reviver o setor fabril nos EUA.

Na realidade, porém, o corte de impostos proporcionou no máximo alguns trimestres de maior crescimento. Mais especificamente, os enormes incentivos fiscais para as empresas não geraram o aumento prometido nos salários e no investimento nos negócios; em vez disso, as empresas usaram o dinheiro para recomprar ações e pagar dividendos maiores.

 

Ao mesmo tempo, a guerra comercial acabou sendo um grande estorvo para a economia —maior do que muitas pessoas, inclusive eu, esperavam. Até o outono passado, a expectativa geral era de que Trump lidaria com a China da maneira como lidou com o México: fazer algumas mudanças, principalmente cosméticas, nos acordos existentes, cantar vitória e seguir em frente.

Quando ficou claro que ele realmente falava sério sobre o confronto, no entanto, a confiança das empresas começou a cair, arrastando o investimento para baixo.

E os eleitores notaram: o índice de aprovação de Trump na economia, embora ainda ligeiramente superior à sua aprovação geral, começou a declinar. Portanto, o pânico exige que o Fed remova todos os obstáculos.

Mas embora Trump perceba que está com problemas, não há indicação de que ele entenda o porquê. Ele não é o tipo de pessoa que admita, mesmo para si próprio, que cometeu erros; seu instinto é sempre culpar alguém enquanto aposta o dobro em suas políticas fracassadas.

Mesmo os atos que parecem um ligeiro abrandamento das políticas, como o anúncio de um prazo de duas semanas para a implementação de algumas tarifas à China, revelam uma profunda incompreensão do problema —o que tem tanto a ver com seus caprichos quanto com as tarifas em si.

Os ziguezagues das políticas, mesmo que envolvam adiar as tarifas, apenas aumentam a incerteza sobre o que ele vai ou não fazer, o que leva as empresas a suspender os investimentos.

Então o que acontecerá agora? Trump poderia reverter o curso e fazer o que a maioria das pessoas esperava um ano atrás: fechar um acordo com a China que restaure mais ou menos a situação anterior.

Mas isso seria de fato uma admissão de derrota —e neste momento não está claro por que os chineses confiariam que ele honraria um acordo desse tipo após a eleição. O fato é que, no que se refere à política econômica, Trump está num lugar ruim, preso na própria armadilha.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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